Valor da Produção Agropecuária Paulista em 2024: resultado por região da CATI


 

O valor da produção agropecuária (VPA) do estado de São Paulo, em 2024, foi estimado pelo Instituto de Economia Agrícola em R$164,84 bilhões, representando queda no valor de 0,43%, em termos reais2, frente ao resultado obtido em 2023, quando deflacionado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)3.

Neste artigo enfoca-se a distribuição territorial da geração desse valor, considerando as 40 regionais da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI Regionais) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), onde figuram os 645 municípios paulistas. Com isso, localiza-se geograficamente a renda gerada e identifica-se as cadeias de produção e valor regionalmente mais relevantes.

A CATI Regional de São João da Boa Vista liderou o ranking das 40 regionais paulistas com maior VPA (R$10,65 bilhões), suplantando a Regional de Barretos que liderou o ranking nas edições de 2022 e 2023, e que na atual posicionou-se na segunda colocação, contabilizando R$8,13 bilhões. Ao se considerar as dez primeiras regionais no ranking, o montante do valor alcança R$71,08 bilhões, ou seja, 43,12% do total apurado no Estado (Tabela 1 e Figura 1).


 

 

Dentre as regionais que mais evoluíram no ranking, a de Avaré notabiliza-se por ter ocupado a 3ª posição em 2024, tendo se situado na 19ª posição no ano anterior. O faturamento dos pomares de laranjas (indústria e de mesa) respondem pelo significativo salto no VPA dessa regional (Tabela 2). Tal fato também foi o responsável pela ascensão de São João da Boa Vista para o topo do ranking. Nessa regional a cultura da batata também favoreceu o avanço do VPA devido ao incremento dos preços recebidos pelos agricultores.

Outra lavoura que contribuiu para a ascensão de regional no ranking da VPA Estadual foi a cafeicultura. A Regional de Franca, por exemplo, que em 2023 não estava entre as dez mais importantes, em 2024, passou a ocupar a sexta colocação com VPA de R$6,15 bilhões (Tabela 2). Em contrapartida, as regionais onde as lavouras de grãos estão entre os cinco principais produtos, como em Itapeva e Assis, tiveram declínio no ranking do VPA, devido aos baixos preços praticados na comercialização de soja e de milho, passando a ocupar as posições 11a e 18a, respectivamente.

O VPA da cana-de-açúcar, que representou 34,31% do VPA estadual em 2024, lidera a formação do VPA na maior parte das regionais (22). Em 11 outras regionais, a cana-de-açúcar se classifica entre os cinco primeiros produtos do ranking, denotando a relevância dessa cultura para o Estado (Tabela 2).

A importância desse produto se revela também em termos da concentração. Em nove CATI Regionais, o VPA da cana-de-açúcar foi responsável por mais de 50% do VPA regional, variando de 74,5% na de Ribeirão Preto a 50,6% obtido na de Jaboticabal (Tabela 2 e Figura 2).

A prevalência da cana-de-açúcar na formação do VPA na maior parte das regionais da CATI revela um alinhamento com a necessidade de suprimento do mercado internacional. O Brasil lidera isoladamente as exportações de açúcar (e a vice-liderança global nas de etanol), estando a cultura a cumprir com o esforço de oferta do mercado mundial. Em 2024, os embarques dos açúcares e derivados contabilizou 25,02 milhões de toneladas, representando um saldo cambial de US$12,30 bilhões com avanço de 11,6% frente ao ano anterior4.

A fruticultura da banana concentra 96,1% da formação do VPA na Regional de Registro, sendo a maior concentração em uma única cultura entre todas as 40 regionais.

A laranja para indústria foi o produto que alcançou o segundo maior VPA do estado, R$18,28 bilhões, precedido apenas pela cana-de-açúcar (R$56,44 bilhões). Entre as 40 regionais da CATI, está presente em 23, sendo que em quatro delas a laranja para indústria liderou a formação do VPA regional, com participações entre 20,8% e 42,5% (Figura 3). No caso de Avaré, onde ocorre a maior participação, os pomares amealharam R$3,36 bilhões, que se somado ao valor apurado pela laranja de mesa, com R$945,86 milhões, alcança montante de R$4,30 bilhões. Em outras sete regionais a laranja para indústria ocupa a segunda posição na formação do VPA. Em nove regionais a laranja de mesa figura entre as cinco primeiras colocações.

 

A carne bovina foi o produto que alcançou o terceiro maior VPA do estado, R$18,16 bilhões. Entre as 40 regionais da CATI, em quatro delas o VPA da carne bovina supera a casa do bilhão de reais, lideradas pela regional de Barretos, com R$2,11 bilhão contabilizados em 2024. Assim, em ordem decrescente de valor seguem três regionais: Presidente Prudente, General Salgado e Presidente Venceslau – que responderam por 36,84% do VPA da carne bovina do estado.

Embora não lidere o ranking, em outras regionais da CATI a produção de carne bovina possui grande importância na formação do VPA. Nas regionais de Andradina e de Fernandópolis (em ambos os casos precedido pela cana-de-açúcar) o segmento alcançou, em 2024, R$932,90 e R$905,27 milhões, respectivamente. A carne bovina não se encontra ranqueada entre os cinco principais produtos na formação do VPA em 13 regionais da CATI: São João da Boa Vista, Avaré, Itapetininga, Jaboticabal, Araraquara, Itapeva, Jaú, Mogi Mirim, Limeira, Sorocaba, Campinas, Mogi das Cruzes e Santos.

A dobradinha cana-de-açúcar e carne bovina posicionou-se entre a primeira e segunda colocação no ranking em 13 regionais. Somando-se o VPA desse grupo, o valor apurado atinge R$39,29 bilhões, ou seja, 23,84% do total do valor contabilizado pela agropecuária paulista. Regionalmente, os destaques ficam para Andradina com participação de 86,19%, Ribeirão Preto com 80,70%, Dracena com 80,28%, General Salgado com 70,81% e Fernandópolis com 69,66% (Tabela 2).

As demais atividades pecuárias importantes na constituição do VPA regional (carne de frango, ovos e leite) são destaque nas seguintes regionais: carne de frango e ovos na regional de Itapetininga; carne de frango em Bragança Paulista, Sorocaba e Campinas; ovos de galinhas nas de Tupã e Mogi das Cruzes; e produção de leite em Guaratinguetá e Pindamonhangaba (Tabela 2).

A produção pecuária de carne de frango e ovos de galinha possuem grande expressão no agro paulista, aparecendo em 28 regionais entre os cinco mais importantes produtos da pauta regional. Na regional de Tupã, somadas as atividades, o VPA apurado contabilizou R$2,78 bilhões, seguida por Itapetininga com R$2,26 bilhões. O conjunto das regionais que atuam na avicultura (carne e ovos) produziu VPA de R$18,89 bilhões, ou seja, 11,45% do total estadual. A produção de carnes – bovina, suína e de frango – não aparece dentre os cinco segmentos mais importantes nas seguintes regionais: Avaré, Jaboticabal, Itapeva, Mogi das Cruzes e Santos. 

Em 2024, Itapetininga e Itapeva ocuparam a quinta e décima posição entre as regionais na composição do VPA estadual. Na primeira, os destaques na formação do valor foram carne de frango, laranja para indústria e uva de mesa, enquanto na segunda, tomate, soja e batata formam a tríade dos mais importantes produtos da VPA regional. Entre as dez regionais de maior VPA do estado, apenas nessas duas regionais a cana-de-açúcar não aparece entre os cinco produtos de maior valor da produção (Tabela 2).

Em dez regionais da CATI, a cultura da soja posiciona-se entre as cinco mais importantes cadeias produtivas. Dentre as regionais em que a cultura se destaca foi na de Itapeva onde o maior VPA se formou (R$1,57 bilhão). As regionais de Avaré, Barretos, Itapetinga, Presidente Prudente, Ourinhos, Orlândia, Assis, Araçatuba e Guaratinguetá têm na soja importante produção de valor regional.

O VPA da cultura do milho situou-se entre as cinco atividades agropecuárias de maior valor em apenas duas regionais (Itapeva e Assis), sendo que na primeira atingiu o maior resultado (R$482,41 milhões).

A pecuária leiteira encontra-se bem distribuída pelo território paulista. Para além das duas regionais de Guaratinguetá e Pindamonhangaba (no Vale do Paraíba, típica bacia leiteira), a atividade está dentre as cinco mais importante em Araraquara, Andradina, Bragança Paulista, Dracena, Fernandópolis, General Salgado, Itapeva, Presidente Venceslau e Votuporanga. O somatório das regionais em que o leite se destaca contribui com R$2,21 bilhões para o VPA paulista da cafeicultura. Contabilizando essas três regionais na produção do VPA da cafeicultura, juntas somam 72,66% do valor total estadual obtido com essa lavoura.

A cafeicultura lidera a formação do VPA regional nas CATI Regionais de Franca (R$2,68 bilhões – 43,63% do valor total produzido na regional) e de Marília (R$357,27 milhões). Na regional de São João da Boa Vista, embora a cafeicultura não lidere o VPA (pois é superada pelo valor da laranja para indústria e pela batata), a cafeicultura contribuiu com R$1,68 bilhão no valor total dessa regional (15,80%), equivalente a 25,85% da produção estadual.

O cultivo do amendoim concentra-se no estado de São Paulo, destacando-se nas regionais de Marília e Presidente Prudente, com VPA de R$339,63 e R$308,59 milhões, respectivamente. O produto sobressai em outras regionais, como Tupã, Jaboticabal e Lins. Somando-se o VPA gerado por esse cultivo no Estado, contabilizou-se montante de R$2,48 bilhões.

Além do amendoim, o estado de São Paulo também tem liderança nacional na produção de limão. Nas regionais de Catanduva, Jaboticabal e Jales, conjuntamente, esse cítrico gerou um VPA de R$1,06 bilhão, equivalente a 76,61% da produção estadual.

Na regional de Campinas a viticultura de mesa se sobressai com VPA de R$302,22 milhões. Finalmente, presença obrigatória nas refeições diárias da população brasileira, o arroz apresentou relevância econômica nas regionais de Registro e Guaratinguetá. Entre hortícolas, o tomate liderou o VPA na regional de Itapeva, e a alface, na de Santos. Repolho e cebola são relevantes no VPA das regionais de Sorocaba e, na regional de Mogi das Cruzes (que agrega o cinturão verde da capital paulista), destacam-se alface, cenoura e repolho.

A comparação do VPA entre os anos sempre exibe alguma alteração no posicionamento das regionais da CATI no ranking das 40. No ano de 2024, comparada ao ano anterior, houve modificação de posições em todas as dez primeiras do ranking (Tabela 1).

A concentração do VPA estadual em cinco produtos – cana-de-açúcar, laranja para indústria, carne bovina, carne de frango e soja4 – que juntos perfizeram 68,9% e 68,7% do VPA, respectivamente em 2023 e 2024, contribui significativamente para essa dinâmica. Tal concentração torna o resultado do VPA especialmente sensível ao desempenho desses itens, reforçando a importância de monitorar a tendência de seus mercados e variáveis associadas.

Essas mudanças refletem tanto as oscilações das médias dos preços recebidos como das quantidades/volumes produzidos no período considerado. Grande parte dos itens contabilizados para o cálculo do VPA possuem fortes conexões com os mercados internacionais e de bolsa de valores, o que implica, por vezes, em oscilações de preços acentuadas (tanto para cima como para baixo). Soma-se a essa condição as imprevisibilidades do comportamento climático, afetando acentuadamente o potencial produtivo das lavouras. Esses condicionantes estão intrinsecamente relacionados à produção agropecuária enquanto segmento exposto a céu aberto e tomadora de preços.

Dessa forma, a análise do VPA estadual regional evidência não apenas a relevância dos principais produtos agrícolas, mas também a vulnerabilidade do setor frente a fatores externos e climáticos. As variações entre regionais reforçam a necessidade de estratégias diferenciadas, que considerem tanto o potencial produtivo local quanto os riscos envolvidos. A compreensão dessas dinâmicas é essencial para o planejamento agrícola, formulação de políticas públicas eficazes e fortalecimento da resiliência do setor agropecuário paulista.


1Os autores agradecem o apoio recebido do Assessor Técnico do IEA, Leonardo Massao Nakama.

2VEGRO, C. L. R. et al. Valor da Produção Agropecuária Paulista 2024. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 5, p. 1-10, maio 2025. Disponível em: https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16288. Acesso em: 15 maio 2025.

3Op. cit. nota 2. 

4ANGELO, J. A.; OLIVEIRA, M. D. M.; GHOBRIL, C. N. Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Ano de 2024, Recordes para Exportação e Saldo Comercial em São Paulo. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 1-19, jan. 2025. Disponível em: https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16250. Acesso em: 19 maio 2025.

Palavras-chave: valor da produção agropecuária paulista, preços e produção, agropecuária regional.


COMO CITAR ESTE ARTIGO

VEGRO, C. L. R. al. Valor da Produção Agropecuária Paulista em 2024: resultado por região da CATI1. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 6, jun. 2025, p. 1-11. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 17/06/2025

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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