Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro no Ano de 2008

No ano de 2008, as exportações do Estado de São Paulo1 somaram US$57,70 bilhões (29,2% do total nacional), e as importações2, US$66,34 bilhões (38,3% do total nacional), registrando déficit de US$8,64 bilhões. Em relação ao ano de 2007, o valor das exportações paulistas aumentou 11,5% e o das importações, 37,0%, produzindo a reversão do saldo comercial de positivo para negativo (Figura 1). O desempenho paulista de crescimento nas exportações (+11,5%), comparando-se 2007 e 2008, ficou abaixo da média brasileira (+23,2%). Nas importações também ocorreu menor incremento em São Paulo (+37,0%) do que no Brasil (+43,6%). Assim, na conjunção das performances das exportações e importações, o saldo da balança comercial paulista teve expressiva queda (-361,0%), enquanto o da brasileira apresentou menor redução (-38,2%) ainda que também expressiva.

Figura 1 - Balança Comercial, Estado de São Paulo, anos de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Os agronegócios paulistas, depois de longo período de elevação nos saldos comerciais, apresentaram exportações crescentes (9,9%), atingindo US$17,05 bilhões, enquanto as importações aumentaram 40,7%, somando US$7,78 bilhões, com saldo de US$9,27 bilhões que, embora positivo, foi 7,2% menor do que o do ano de 2007 (Figura 2). Em função disso, há que se destacar que as importações paulistas nos demais setores - exclusive os agronegócios - somaram US$58,56 bilhões para exportações de US$40,65 bilhões, gerando um déficit externo desse agregado, de US$17,9 bilhões no ano de 2008. Assim, conclui-se que o déficit do comércio exterior paulista seria muito maior não fosse o desempenho dos agronegócios estaduais.

Figura 2 - Balança Comercial dos Agronegócios, Estado de São Paulo, Anos de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Detalhando a balança comercial dos agronegócios paulistas, verifica-se que as cadeias de produção apresentaram saldos comerciais crescentes quando se compara o ano de 2007 (US$ 11,06 bilhões) com o ano de 2008 (US$ 11,27 bilhões). Esses indicadores são menores quando se considera toda amplitude das transações setoriais, cujo saldo recua de US$ 9,99 bilhões em 2007 para US$ 9,27 bilhões em 2008. Essa queda deriva do aumento do déficit na balança comercial de bens de capital e insumos de US$ 1,07 bilhão em 2007 para US$ 2,00 bilhões em 2008 (Tabela 1). Os bens de capital e insumos são fundamentais para a modernidade da produção nacional, notadamente os fertilizantes nos quais têm elevada dependência externa. Entretanto na maioria das vezes não são considerados nas análises do comércio exterior setorial, levando a saldos superestimados.
 

TABELA 1. - Estado de São Paulo - Detalhamento da Balança Comercial dos Agronegócios, Anos de 2007 e 2008
( US$ bilhão)
Cadeias de Produção  
Bens de Capital e Insumos
Agronegócios
Ano
Exp.
Imp.
Saldo
Exp.
Imp. 
Saldo
Exp.
Imp. 
Saldo
2007
14,75
3,69
11,06
 
0,77
1,84
-1,07
 
15,52
5,53
9,99
2008
16,04
4,77
11,27
 
1,01
3,01
-2,00
 
17,05
7,78
9,27
Fonte: IEA/APTA/SAA-SP, a partir dos dados básicos da SECEX/MDIC

            A participação das exportações dos agronegócios paulistas no total do Estado reduziu-se em 0,5 ponto percentual, enquanto a participação das importações aumentou em 0,3 ponto percentual, na comparação dos anos de 2007 e 2008 (Figura 3).

Figura 3 - Participação dos Agronegócios na Balança Comercial, Estado de São Paulo, Anos de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            A balança comercial brasileira registrou superávit de US$24,74 bilhões no ano de 2008, com exportações de US$197,94 bilhões e importações de US$173,20 bilhões. Esse superávit - 38,2% menor que o de 2007 - ocorreu em função de aumento nas exportações (+23,2%) inferior ao das importações (+43,6%) (Figura 4).

Figura 4 - Balança Comercial, Brasil, Anos de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            No ano de 2008, as exportações dos agronegócios brasileiros cresceram 23,0% em relação ao ano anterior, atingindo US$76,14 bilhões (38,5% do total). Já as importações do setor aumentaram 53,2%, também em comparação com o ano de 2007, somando US$26,36 bilhões (15,2% do total). O superávit dos agronegócios em 2008 foi de US$49,78 bilhões, 11,4% superior ao do ano anterior (Figura 5). Portanto, o desempenho dos agronegócios sustentou a balança comercial brasileira, uma vez que os demais setores, com exportações de US$ 121,80 bilhões e importações de US$ 146,84 bilhões, produziram no período um déficit de US$ 25,04 bilhões.
 


Figura 5 - Balança Comercial dos Agronegócios, Brasil, Anos de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            O detalhamento da balança comercial dos agronegócios brasileiros mostra que os saldos comerciais oriundos das transações externas das cadeias de produção cresceram de US$ 49,76 bilhões em 2007 para US$ 59,98 bilhões em 2008. Esses valores são maiores que os resultados setoriais – US$ 44,67 bilhões em 2007 e US$ 49,78 bilhões em 2008- em função do aumento do déficit da balança comercial de bens de capital e insumos de US$ 5,09 bilhões em 2007 para US$ 10,20 bilhões em 2008 (Tabela 2). Isso mostra um crescimento da dependência externa dos agronegócios brasileiros - notadamente importações de fertilizantes -, sendo que não considerar essas transações produz estimativas de saldos comerciais setoriais superestimados.
 

TABELA 2. –Brasil - Detalhamento da Balança Comercial dos Agronegócios, Anos de 2007 e 2008
( US$ bilhão)
Cadeias de Produção  
Bens de Capital e Insumos
Agronegócios
Ano
Exp.
Imp.
Saldo
Exp.
Imp. 
Saldo
Exp.
Imp. 
Saldo
2007
59,51
9,75
49,76
 
2,37
7,46
-5,09
 
61,88
17,21
44,67
2008
72,97
12,99
59,98
 
3,17
13,37
-10,20
 
76,14
26,36
49,78
Fonte: IEA/APTA/SAA-SP, a partir dos dados básicos da SECEX/MDIC

            As participações dos agronegócios nos totais do País praticamente se mantiveram em termos das exportações e cresceram nas importações (+0,9 ponto percentual) (Figura 6).

Figura 6 - Participação dos Agronegócios na Balança Comercial, Brasil, Anos de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            A participação paulista no total da balança comercial brasileira caiu em termos das exportações (-3,0 pontos percentuais) e também diminuiu no tocante às importações (-1,8 pontos percentuais) (Figura 7).

Figura 7 - Participação da Balança Comercial Paulista no Total do Brasil, Anos de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Em relação aos agronegócios brasileiros, as exportações setoriais de São Paulo em 2008 representaram 22,4%, ou seja, participação menor em 2,7 pontos percentuais que em 2007, enquanto as importações representaram 29,5%, sendo 2,6 pontos percentuais inferiores à representatividade verificada no ano anterior (Figura 8).

Figura 8 - Participação do Agronegócio Paulista no Brasileiro, Balança Comercial, Janeiro a junho de 2007 e 2008. 

Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Os cinco principais agregados de cadeias de produção nas exportações dos agronegócios paulistas no ano de 2008, foram: cana e sacarídeas (US$5,23 bilhões), bovídeos – bovinos (US$3,34 bilhões), frutas (US$ 2,16 bilhões), produtos florestais(US$1,92 bilhão), e bens de capital e insumos (US$1,01 bilhão). Esses cinco agregados representam 85,1% das vendas externas setoriais paulistas (Tabela 3).

            Tiveram maior crescimento na comparação de 2008 com 2007, as exportações paulistas de: suínos e aves (49,7%), bens de capital e insumos (29,9%), cereais/leguminosas/oleaginosas (24,0%), café e estimulantes (17,0%) e cana e sacarídeas (14,5%) (Tabela 3).

            Em âmbito nacional, os cinco principais agregados de cadeias de produção nas exportações dos agronegócios foram: cereais/leguminosas/oleaginosas (US$ 20,73 bilhões); bovídeos - bovinos (US$ 10,03 bilhões), produtos florestais (US$ 9,61 bilhões, suínos e aves (US$ 8,52 bilhões) e cana e sacarídeas (US$7,91 bilhões). Essas cadeias totalizam 77,8 das vendas externas dos agronegócios brasileiros(Tabela 4).
 

TABELA 3. Exportações dos Agronegócios, por Grupo de Mercadorias, São Paulo, Anos de 2007 e 2008.
Grupos
2.007
2.008
US$ milhão
%
US$ milhão
%
Var %
Têxteis
345
2,22
300
1,76
-13,04
Bovídeos - bovinos 
3.161
20,36
3.337
19,57
5,56
Pescado
13
0,08
14
0,08
8,21
Café e estimulantes
602
3,88
704
4,13
16,99
Cana e sacarídeas
4.567
29,42
5.230
30,67
14,50
Frutas
2.351
15,14
2.157
12,65
-8,26
Olerícolas
29
0,19
20
0,12
-29,12
Flores e ornamentais
27
0,17
28
0,16
3,87
Cereais/leguminosas/oleaginosas
705
4,54
874
5,13
24,04
Produtos florestais
1.745
11,24
1.917
11,24
9,85
Suínos e aves
381
2,45
570
3,34
49,69
Fumo
3
0,02
2
0,01
-16,65
Agronegócios especiais
820
5,28
889
5,22
8,46
Bens de capital e insumos
775
5,00
1.007
5,91
29,90
Agronegócios
15.523
100,00
17.049
100,00
9,83
Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Tiveram crescimento acima da média setorial (17,5%), as exportações brasileiras de: cereais/leguminosas/oleaginosas (48,9%), suínos e aves (34,7%), bens de capital e insumos (34,0%), agronegócios especiais (23,1%), fumo (21,6%), café e estimulantes (21,3%), cana e sacarídeas (19,7%) (Tabela 4.)
 

TABELA 4. Exportações dos Agronegócios, por Grupo de Mercadorias, Brasil, Anos de 2007 e 2008.
Grupos
2.007
2.008
US$ milhão
%
US$ milhão
%
Var %
Têxteis
1.912
3,09
1.922
2,63
0,51
Bovídeos - bovinos 
9.049
14,62
10.029
13,74
10,82
Pescado
317
0,51
277
0,38
-12,45
Café e estimulantes
4.302
6,95
5.219
7,15
21,33
Cana e sacarídeas
6.605
10,68
7.909
10,84
19,73
Frutas
3.431
5,54
3.288
4,51
-4,18
Olerícolas
216
0,35
196
0,27
-9,40
Flores e ornamentais
40
0,07
41
0,06
2,41
Cereais/leguminosas/oleaginosas
13.919
22,49
20.732
28,41
48,95
Produtos florestais
9.126
14,75
9.613
13,17
5,33
Suínos e aves
6.324
10,22
8.521
11,68
34,73
Fumo
2.262
3,66
2.752
3,77
21,64
Agronegócios especiais
2.006
3,24
2.470
3,38
23,12
Bens de capital e insumos
2.367
3,83
3.173
4,35
34,03
agronegócios
61.878
100,00
72.968
100,00
17,92
Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            O crescimento das exportações dos agronegócios paulistas, quando se compara os resultados para os anos de 2007 e 2008, foi maior para os produtos básicos (+17,8%, seguidos dos manufaturados (+10,5%). Entretanto, os produtos manufaturados apresentam a maior participação nas vendas externas (59,0%) totalizando US$ 10,03 bilhões em 2008 (Tabela 5).
 

TABELA 5. Exportações dos Agronegócios por Fator Agregado, São Paulo, Anos de 2007 e 2008.
2.007
2.008
Produtos
US$ bilhão
%
US$ bilhão
%
Var %
Básicos
3,07
19,76
3,61
21,19
17,78
Semi-manufaturados
3,37
21,73
3,40
19,96
0,87
Manufaturados
9,08
58,51
10,03
58,85
10,48
AGRONEGÓCIOS
15,52
100,00
17,05
100,00
9,83

Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            No caso dos agronegócios brasileiros, dado o menor perfil de agregação de valor, o aumento dos produtos básicos foi muito mais expressivo (+33,6%), seguido dos produtos semi-manufaturados. Os produtos básicos totalizando US$ 39,8 bilhões em 2008, mostram a maior participação nas vendas externas setoriais(54,6%)(Tabela 6).
 

TABELA 6. Exportações dos Agronegócios por Fator Agregado, Brasil, Anos de 2007 e 2008.
2.007
2.008
Produtos
US$ bilhão
%
US$ bilhão
%
Var %
Básicos
29,82
48,19
39,83
54,59
33,59
Semi-manufaturados
11,25
18,17
12,97
17,77
15,32
Manufaturados
20,81
33,64
23,34
31,98
12,13
AGRONEGÓCIOS
61,88
100,00
72,97
100,00
17,92

Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Esses indicadores mostram as diferenças estruturais dos agronegócios paulistas no contexto nacional, uma vez que 54,6% do valor das exportações brasileiras dos agronegócios do ano de 2008 corresponderam, em nível nacional, a produtos básicos. No Estado de São Paulo, os produtos básicos representam apenas 21,2% e a participação de produtos industrializados dos agronegócios se mostra muito maior (78,8%), evidenciando índices superiores de agregação de valor em São Paulo (Tabelas 5 e 6).

            A quantidade exportada de produtos dos agronegócios brasileiros reduziu-se em 2,2% no ano de 2008, quando comparada com a 2007, enquanto a quantidade exportada pelo Estado de São Paulo teve queda ainda maior, de 6,5%. Os preços dos produtos exportados pelos agronegócios subiram 25,9% em nível nacional e 17,5% no âmbito de São Paulo (Tabela 7).
 

TABELA 7. Variações Percentuais dos Índices de Quantidade e de Preço das Exportações de Produtos dos Agronegócios, Brasil e Estado de São Paulo, Ano de 2008 em relação a 2007(1).
Setor
Brasil
São Paulo
Quantidade
Preço
Quantidade
Preço
Agronegócios
-2,2
25,9
-6,5
17,5
Agronegócios exc. Bens de capital/insumos
-2,9
26,3
-7,5
17,6
(1) Variações em relação a igual período do ano anterior, baseadas em índices calculados pela fórmula de Fisher.

Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Entre as categorias de uso, observa-se que matérias-primas e produtos intermediários foi o grupo predominante no ano de 2008, representando 60,0% do valor total de exportações nacionais de mercadorias dos agronegócios. No caso do Estado de São Paulo, esse grupo tem participação (50,7% do valor total) pouco superior ao de bens de consumo (44,9%)(Tabela 8).
 

TABELA 8. Exportações dos Agronegócios por Categoria de Uso, Brasil e Estado de São Paulo, Ano de 2008.
Categorias de Uso
Brasil
São Paulo
  SP/BR
US$ mil
%
US$ mil
%
%
Bens de capital
2.461.948
3,23
800.880
4,70
32,53
Bens de consumo 
27.977.202
36,74
7.650.756
44,87
27,35
Matérias-primas e produtos intermediários
45.701.530
60,02
 
8.649.293
50,73
 
18,93
Agronegócios
76.140.680
100,00
 
17.049.457
100,00
 
22,39

Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.
____________________________________________________
1Estado produtor (Unidade da Federação exportadora), para efeito de divulgação estatística de exportação, é a Unidade da Federação onde foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou fabricados os bens manufaturados, total ou parcialmente. Neste último caso, o estado produtor é aquele no qual foi completada a última fase do processo de fabricação para que o produto adote sua forma final.

2Estado importador (Unidade da Federação importadora) é definido como a Unidade da Federação do domicílio fiscal do importador.

Palavras-chave: agronegócio, balança comercial, exportações, importações.

Data de Publicação: 15/01/2009

Autor(es): José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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