Exportações brasileiras de carne bovina favorecem preços do boi gordo

            As exportações brasileiras de carne bovina deverão atingir 1,2 milhão de toneladas em 2003, com faturamento previsto de US$1,5 bilhão, o que significa aumentos da ordem de 29% e 36%, respectivamente, em relação a 2002.
            Todavia, os pecuaristas brasileiros não teriam sido proporcionalmente beneficiados pelo bom desempenho das vendas externas, de acordo com o Fórum Nacional da Pecuária de Corte, da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) 1 .
            O crescimento no faturamento, experimentado pelo segmento exportador, ao longo de 2003, foi favorecido tanto pela competitividade dos preços do produto brasileiro, no mercado internacional, quanto pelas oportunidades negociais apresentadas pelo quadro de oferta mundial de carne bovina. O Brasil passou assim a suprir parcela significativa da demanda internacional, em decorrência, particularmente, de queda na produção da Argentina, Uruguai e União Européia, com incremento das vendas para Holanda, Chile, Rússia, Reino Unido e Egito.
            É exatamente na questão do faturamento , auferido no movimento exportador, que foi gerado um cenário traduzido como 'frustração' , por parte do pecuarista brasileiro, acerca da evolução dos preços de comercialização no mercado interno e externo. Tal fato merece uma avaliação mais criteriosa no que se refere à análise da evolução dos preços na bovinocultura de corte.
            De modo geral, a formação de preços no mercado de bovinos se dá em função da oferta e demanda por animais prontos para abate. A aquisição da matéria-prima, por parte das unidades abatedoras, é realizada no mercado spot (disponível) onde o produto transacionado é uma commodity, indiferenciado, e considerado relativamente homogêneo, independente, num primeiro momento, do destino do produto final (mercado interno ou internacional).
            A maior parte da produção brasileira de carne bovina destina-se ao mercado interno. O consumo nacional está, atualmente, estimado em 6,4 milhões de toneladas (em equivalente carcaça), correspondendo a cerca de 87% da produção, e os restantes 13% são destinados ao mercado internacional. O crescimento consistente do movimento exportador nos últimos 5 anos (passando de 430 mil toneladas, em 1998, para 1 milhão de toneladas em 2002) permitiu maior sustentação dos preços internos, com as cotações do boi gordo passando a oscilar, praticamente, em função da sazonalidade (períodos de safra/entressafra das pastagens).
            Analisando-se apenas o período compreendido entre setembro de 2002 e outubro de 2003, a variação cambial e as oportunidades negociais (maior demanda internacional pelo produto brasileiro) favoreceram o crescimento acumulado do faturamento do segmento exportador, decorrência direta do maior volume comercializado, pois os preços médios mensais de exportação apresentaram-se praticamente estáveis. Essa evolução foi mais acentuada para a carne bovina in natura do que para a carne industrializada (figura 1).

Figura 1 - Evolução mensal do preço médio de exportação de carne bovina e do faturamento para carne comercializada in natura e industrializada (set2002-out2003)

                    Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Nesse contexto, as 1,2 milhão de toneladas estimadas para as exportações em 2003 favoreceram a sustentação dos patamares de preços do boi gordo, observados ao longo do ano ( tanto em termos correntes quanto cotados em dólares), pois, para o cumprimento dos contratos firmados, a industria necessitava, efetivamente, do animal pronto para abate. Em outras palavras, pode-se considerar que, uma vez que o consumo interno não apresentou incremento significativo em relação a 2002 (da ordem de apenas 1,5%), toda a cadeia de produção poderia estar comprometida, caso o crescimento do movimento exportador não tivesse ocorrido em nível tão favorável, contribuindo para a definição do perfil dos preços internos (figura 2).

Figura 2 - Evolução mensal da taxa de cambio e dos preços do boi gordo (set2002-out2003)

               Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

            Apesar de as perspectivas promissoras para o comercio internacional da carne bovina brasileira se traduzirem em estímulo a investimentos no setor produtivo, o grande potencial da atividade ainda reside no mercado doméstico, que absorve mais de 80% da produção.
            Por tratar-se de produto com alta elasticidade-renda de demanda, melhorias no poder aquisitivo da população, bem como maior profissionalismo em termos de promoção e marketing, conduzirão inexoravelmente a resultados promissores ao longo de toda a cadeia de produção, de modo a contribuir para o avanço da bovinocultura de corte nacional.

1 CNA: www.cna.org.br

Data de Publicação: 10/12/2003

Autor(es): Valeria da Silva Peetz Consulte outros textos deste autor