AS ARMADILHAS DA PEQUENA PRODUÇÃO

O trabalho discute, primeiramente, os principais paradigmas ligados à noção de "pequena produção". Por um lado, o que predominou durante os anos 70 e que fazia deste segmento social um elemento central do desenvolvimento capitalista da agricultura. Por outro, o que teve maior impacto durante a década de 1980 e que fez da "pequena produção" um segmento residual com expressão econômica insignificante. "Destronada" a "pequena produção" do papel central que havia adquirido no desenvolvimento capitalista no interior das ciências sociais dos anos 70, formou-se a imagem de que a base social desse desenvolvimento só poderia ser encontrada em unidades produtivas com uso em larga escala de trabalho assalariado. É em grande parte neste sentido, que muitos autores empregam a expressão industrialização da agricultura, como se a agricultura moderna se caracterizasse não só pelo uso em escala crescente de meios de trabalho de origem industrial, mas também pelo emprego generalizado de trabalho assalariado. O estudo da estrutura social do desenvolvimento capitalista em nações centrais mostra que a unidade familiar de produção foi, historicamente, a principal base de modernização agrícola. Este estudo permite que se coloque em questão um dos principais vícios de raciocínio existente entre nós, o que assimila automaticamente pequena produção e produção familiar. Esses dois termos não são equivalentes e a existência de uma agricultura familiar nos países centrais, que nada tem de "pequena", indica que o desenvolvimento capitalista no campo pode ter uma estrutura social completamente diversa daquela predominante entre nós, onde o peso das fazendas apoiadas fundamentalmente em trabalho assalariado é muito grande. Uma das principais conseqüências desta análise, para a questão do emprego na agricultura, é que se a modernização agrícola não significa fatalmente a eliminação social das unidades familiares de produção, não se pode dizer, entretanto, que ela é compatível com a esperança de que a agricultura seja permanentemente um reservatório de emprego abundante de mão-de-obra.

Data de Publicação: 01/09/1993

Autor(es): Ricardo Abramovay Consulte outros textos deste autor