Meio século de amostragem nas estatísticas agrícolas

            A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo tem sido pioneira em algumas técnicas de levantamento de dados estatísticos na agricultura brasileira. Destarte, foi aqui realizado o primeiro censo agronômico do Estado e, provavelmente, do país em 1904-05, cujo centenário acontecerá em 2005.
            No meio rural, o método de amostragem probabilística, com todo rigor científico, é muito mais econômico na demanda de recursos do que o censo e muito mais objetivo e preciso do que os métodos subjetivos até hoje utilizados no país. Ele foi proposto inicialmente à Secretaria pelo pesquisador Salomão Schattan, em 1948-49. Além dele, teve influência decisiva na adoção da amostragem para o levantamento na agricultura o inglês Wilfred Leslie Stevens, então professor da Universidade de São Paulo.
            Uma pesquisa piloto foi feita no ano agrícola de 1950/51 e, no ano seguinte, um levantamento por amostragem para todo o Estado foi realizado, no âmbito da Sub-Divisão de Economia Rural, órgão que viria a dar origem ao atual Instituto de Economia Agrícola (IEA). Corrigidas as falhas, a técnica de amostragem foi definitivamente incorporada no ano agrícola de 1952/53.
            O marco que descreve esse evento foi o trabalho escrito por Schattan, intitulado 'Obtenção de estatísticas agrícolas pelo método de amostragem: experiências visando à criação de uma organização permanente', que foi publicado em setembro de 1953. Esse artigo agora está sendo oportunamente republicado pela revista Agricultura em São Paulo (v.50, n.2, 2003), boletim científico do IEA, à disposição dos leitores neste site. Foi esse o trabalho publicado em cuja leitura pelo menos duas gerações de pesquisadores do IEA se iniciaram nas questões amostrais.
            Posteriormente, outras instituições vieram a utilizar a amostragem em levantamentos no meio rural, em diversas formas e segundo os mais diferentes esquemas amostrais. Uma das grandes vantagens desse tipo de levantamento, em relação aos de natureza subjetiva, consiste em permitir que não apenas dados sobre as áreas plantadas (ou número de plantas) e respectivas produções sejam obtidos, mas também toda uma gama de variáveis de interesse sócio-econômico, como utilização de mão-de-obra, de insumos, de máquinas e implementos, bem como salários e alguns preços, benfeitorias, destino da produção, dados demográficos, etc.
            A evolução da informática veio permitir que esquemas amostrais cada vez mais complexos possam ser utilizados, possibilitando obter dados a custo cada vez mais baixo. Mais recentemente, o sensoriamento remoto, por meio de imagens de satélites, também vem se utilizando de esquemas amostrais das áreas de produção agrícola. Novas possibilidades ainda se abrem com as técnicas de geo-referenciamento e a utilização de aparelhos de GPS, que permitem, entre outras tarefas, medir as áreas de cultivo de forma objetiva, sem precisar perguntar ao produtor, o qual nem sempre dispõe de dados precisos.
            Portanto, em setembro de 2003, o uso da amostragem científica nos levantamentos de estatísticas agrícolas no Estado completou cinqüenta anos. A data assume ainda maior importância se for considerado que esse levantamento foi, senão o primeiro, certamente um dos pioneiros no país.

Data de Publicação: 16/02/2004

Autor(es): Francisco Alberto Pino (drfapino@gmail.com ) Consulte outros textos deste autor