Citricultura: alterações nos pomares em 2012

            A liderança brasileira na produção de laranja consolidou-se a partir da década de 1980, após geadas e os furacões, que atingiram a Flórida (EUA). O Brasil tornou-se o maior produtor de suco de laranja concentrado e congelado (SLCC) com destino majoritário ao mercado externo. Fatores como clima, solo, espírito empreendedor e persistente do agricultor brasileiro, e eficiente e avançada tecnologia gerada pela pesquisa favoreceram o rápido aumento de produtividade no país. Os Estados Unidos, segundo maior produtor, destina grande parte do volume produzido ao mercado interno, também sob a forma de suco. Atualmente, juntos, estes países concentram quase 90% da produção mundial de laranja.

            Entretanto, o surgimento de pragas e doenças provocando aumentos no custo de produção a cada safra, aliado a baixos preços pagos aos produtores praticados no mercado nos últimos anos, vem desencadeando processo de exclusão de citricultores.

            Em atendimento aos aspectos fitossanitários da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA)1, o proprietário, arrendatário ou ocupante a qualquer título de pomar cítrico deve realizar no mínimo uma inspeção trimestral e encaminhar relatório a cada semestre ao órgão oficial de defesa agropecuária, mesmo que não sejam encontradas plantas com sintomas.

            Em São Paulo, os citricultores enviam os resultados obtidos nas inspeções à Secretaria de Agricultura e Abastecimento pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado, por meio do Relatório Semestral de Vistorias de Plantas Hospedeiras do Agente Causal Huanglongbing (HLB/greening) constituindo, dessa forma, desde o segundo semestre de 2009, um conjunto de informações que fazem parte do banco de dados obtidos pela CDA2.

            O objetivo deste estudo é fornecer informações relativas à produção de laranja (Citrus Sinesis). Para tal, foram utilizados dados consolidados dos relatórios referentes ao segundo semestre de 2011 e primeiro e segundo semestre de 2012.

            De acordo com Fagundes et al. (2010)3, a área média do pomar paulista, em 1995-96, era de 23,9 hectares, com 7 mil plantas por propriedade e densidade média de 293 plantas/ha. Segundo esses mesmos autores, em 2007/08 a área média foi calculada em 35,8 hectares, com 12 mil plantas e densidade 347 plantas/ha. No último relatório consolidado, referente ao segundo semestre de 2012, observou-se que a área média do pomar se encontra ao redor de 38,8 hectares com 14,4 mil apresentando adensamento médio de 373 plantas/ha, ou seja, os citricultores estão adotando prática de adensamento no plantio. Mais especificamente, a densidade média dos pomares de até 4 anos ficou em 492 plantas/ha contra 346 plantas/ha em pomares com idade superior.

            Além da mudança dentro dos pomares, no decorrer de 2012, houve alterações no ranking dos municípios com maiores pomares da fruta com base no número total de plantas (Tabela 1, Figuras 1 e 2). 
 


 

            Na literatura, a classificação de produtores em pequenos, médios e grandes é realizada por: área em hectares, pela quantidade de árvores ou ainda pelo volume de produção, tornando-se difícil a conciliação de dados. No presente trabalho, consideram--se como pequenos aqueles com até 20 mil plantas de laranja; como médios entre 20 mil e 100 mil plantas; e como grandes aqueles com mais de 100 mil.

            Observou-se que, comparando as informações de janeiro de 2012 com as finais do 2º semestre de 2012 (dezembro de 2012), o número de plantas em pomares grandes aumentou, enquanto nos pequenos diminuiu (Tabela 2). Outra observação quanto à distribuição dos pomares por tamanho é que, enquanto o percentual de propriedades com pomares considerados grandes se manteve, o número de plantas correspondentes aumentou de 49,6% no início do período para 49,9% no final e início do 2º semestre (Tabela 2).

             Outra análise está relacionada aos motivos de eliminação de plantas ocorrida nos dois semestres. Há na literatura trabalhos que discutem as causas do abandono da citricultura pelos pequenos produtores no Estado de São Paulo. Os autores Bellingieri, Borges e Souza (2012)4, a partir da revisão desse assunto, identificaram a existência de um embate entre duas visões ou interpretações. Resumidamente, esses autores citam a saída dos produtores como consequência das novas estratégias da indústria processadora de suco, que: a) investiu em pomares próprios, aumentou seu poder de barganha e impôs preços baixos aos produtores expulsando-os da atividade; e b) de outro lado, a justificativa da saída como consequência de transformações naturais do mercado, como variações negativas na demanda mundial por suco de laranja e aumento dos custos de produção afetando principalmente os pequenos produtores, gerando necessidades de ganhos de escala que somente os maiores conseguiriam obter.

            Quando se analisam os percentuais de eliminação de plantas por motivo de mudança de atividade dentro de cada classe de tamanho do pomar, notam-se valores maiores entre aqueles considerados pequenos produtores e intensifica-se no segundo semestre de 2012 (Tabela 3). 
 


            De forma geral, quanto à distribuição geográfica municipal da eliminação de plantas, devido a pragas (huanglongbing, cancro cítrico, clorose variegada dos citros, gomose, leprose, declínio) e mudança de atividade, verificou-se que ocorre com maior evidência em municípios do Escritório de Defesa Agropecuária (EDA) de Limeira, Araraquara, Jaboticabal, São João da Boa Vista, Mogi-Mirim e Barretos no quesito doenças, e naqueles pertencentes aos EDAs de Barretos, Jaboticabal, Araraquara, Limeira, São José do Rio Preto, Catanduva e Mogi-Mirim por motivo de mudança de atividade (Figuras 3 e 4).


            Quanto à eliminação de plantas para reforma do pomar a ocorrência foi maior em municípios dos EDAs de Araraquara, Barretos e Limeira e para replantio foram Botucatu, Araraquara, Jaú e Limeira (Figuras 5 e 6).

            Por fim, quanto à distribuição do pomar paulista, este é constituído por 92% de suas árvores pelas variedades Valência, Pera, Hamlin e Natal (Figura 7). 

 


  
 

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1SÃO PAULO (Estado). Instrução Normativa n.º 53, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e à Portaria CDA-21, de 15 de dezembro de 2011. Defesa Agropecuária. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.defesaagropecuaria.sp.gov.br/www/legislacoes/popup.php?action=view&idleg=940>. Acesso em: maio 2013.

2SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Relatório Semestral de Inspeção do Greening. São Paulo: CDA/SAA, 2013.

3FAGUNDES, P. R. S. et. al. Cultura da laranja no estado de São Paulo, 2007/08 Informações Econômicas, v.40, n. 9, p. 54-67, set. 2010.

4BELLINGIERI, J. C.; BORGES, A. C.; SOUZA, J. G. Interpretações sobre fatores de exclusão de pequenos agricultores no setor citrícola. Estudos Geográficos, Rio Claro, v. 10, n. 1, p. 27-42, jan./jun. 2012.

Palavras-chave: citricultura, tamanho de pomar. 

 

 


Data de Publicação: 26/06/2013

Autor(es): Felipe Pires de Camargo (fpcamargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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