Adoção De Computador Na Agricultura Paulista

            Na agricultura existem registros de utilização de computador desde a década de 1980, voltados apenas para gerenciamento nos setores de administração e planejamento das grandes propriedades e agroindústrias. Pode-se atribuir essa restrição ao alto custo de investimento e manutenção e ao baixo nível tecnológico dos softwares que atendiam esse mercado.
            Apesar da atual popularização dos microcomputadores e das redes eletrônicas, assim como da melhoria na qualidade dos softwares, ainda são poucas as análises sobre a dinâmica da adoção e difusão da tecnologia da informática no meio rural e, em grande parte, utilizam-se estudos de caso.
            No Estado de São Paulo, estudo inédito1 com bases estatísticas, mediante dados do Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária 1995-962 e de um levantamento amostral nos períodos novembro de 2000 e junho de 20013, evidenciou um grande avanço desta tecnologia. Em 1995-96, 3,7% do total de unidades de produção agropecuária (UPAs)4 declararam a adoção dessa tecnologia, participação esta que passou para 6,9%, segundo o levantamento em novembro de 2000. Esses números são relativamente pequenos quando comparados com países como os Estados Unidos (29% em 2001). Entretanto, são significativos se compararmos a países em desenvolvimento como o México cujo uso é estimado em menos de 1%.
            É importante observar que a maior concentração de utilização do computador nas atividades rurais na agricultura paulista está geograficamente localizada onde o valor da terra nua apresenta patamares acima da média do Estado, assim como nas áreas de maior concentração de renda agrícola. As principais culturas nessas regiões são cana-de-açúcar, laranja e café. Corrobora-se a hipótese de que a adoção dessa tecnologia está ligada à rentabilidade e às empresas agropecuárias, que dependem da melhoria na competitividade, a qual induz a necessidade de aumentar a produtividade e a qualidade. Isso significa a exigência de maximizar o uso potencial da propriedade e minimizar os erros, provocando a modernização das atividades e o investimento em tecnologia de ponta.
            São aspectos importantes a serem investigados: o absenteísmo e o perfil do produtor que influenciam a adoção de novas tecnologias e a forma de administração da propriedade. Neste tipo de tecnologia fica evidente este fato. Existe concentração do número de computadores em propriedades de grande tamanho (entre 5.000 e 10.000 hectares, 65%)5, entre os proprietários que possuem alto nível de escolaridade (56%)5, propriedades empresariais e entre aqueles que não residem na propriedade. Nas propriedades onde há utilização de computadores, 83% dos proprietários não residem no local e 67% são empresas agropecuárias.
            Outros fatores como idade e atividade exercida fora da propriedade são freqüentemente mencionados como capazes de afetar a adoção da informática. Estudos realizados nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Região Sudeste e Minas Gerais (especificamente no Triangulo Mineiro)6 apresentam perfil semelhante para o produtor que utiliza computador na agropecuária e indicam uma concentração na faixa etária entre 30 e 50 anos.
            Para o agronegócio, as tendências do mercado desta tecnologia são o uso de equipamentos de precisão e a utilização de sistemas gerenciais (incluindo aqui a Internet). Quanto à primeira tendência, identificam-se os produtos de automação do monitoramento do clima voltado à agricultura, sistemas de GPS e robótica, entre outros. Verificou-se, conforme estudo relacionado na nota 1, que as empresas brasileiras estão aumentando seus investimentos nos produtos de softwares para atender demandas em integração de sistemas de produção, bem como instalação de sites agropecuários.
            Apesar da enorme diversidade de sistemas de produção e peculiaridades de cada unidade de produção, podemos classificar o uso da informática em: uso administrativo (contabilidade rural, controle de inventário, administração de trabalhadores); produção animal (reprodução, controle produtivo, sanitário, entre outros); e produção vegetal, principalmente, na gestão de toda a cadeia do processo de produção. Em novembro de 2000, as utilizações mais comuns declaradas pelos proprietários foram editoração de textos, cartas e similares (81%), contabilidade agrícola (77%), administração geral da fazenda (76%), administração rural (66%), administração na criação de gado (56%), administração de colheita (53%) e administração de máquinas (53%).
            A Internet é um fenômeno da comunicação. Enquanto o rádio precisou de quase meio século para alcançar 50 milhões de usuários, a Internet levou 3 anos. A aceitação em adotar a tecnologia no meio rural permite que a Internet se torne uma ferramenta poderosa nas cadeias dos agronegócios, com capacidade para realizar negócios, racionalizar o ciclo de distribuição da produção, além da oportunidade de integração das várias atividades deste segmento. Existe também a possibilidade de se pensar em sistemas integrados onde os computadores instalados nas fazendas permitirão, a partir da Internet, comandar equipamentos operados por controle remoto, automatizando todo o processo produtivo em alguns segmentos das atividades agropecuárias.
            Nos Estados Unidos, durante o ano de 1999, mais de 2 bilhões de dólares foram comercializados em insumos agrícolas através da rede e estima-se que, em 2004, o volume do comércio eletrônico chegue a 120 bilhões de dólares, aproximadamente 8% do total7.
            Em São Paulo, houve um grande acréscimo no acesso à Internet entre os proprietários rurais no período de novembro de 2000 a junho de 2001. Passou-se de 10.806 propriedades (3,9% do total de UPAs) para 18.636 (6,7%), resultando em acréscimo de 82% em sete meses. Entretanto, esses também são números pequenos se comparados com os dos Estados Unidos, que passaram de 29% em 1999 para 43% em 2001.
            Quanto à disponibilização de informações para o setor agropecuário, iniciou-se uma fase de instalação de centenas de sites especializados, focados em consultoria e comércio agropecuários com análises de preços de mercado do setor, cotações, tendências, notícias, estatísticas, custos de produção, banco de negócios, informações técnicas, comercialização de produtos e insumos, sementes, gado, grãos, contratação de serviços de transporte, consulta a anúncios de classificados e informações de clima, entre outros. Depois de um período de funcionamento desses vários sites agropecuários, houve uma redução no número com a fusão de alguns e a extinção de outros.
            Apesar desse fato, as empresas lucraram em 2001 o volume de R$ 300 milhões no e-business (acréscimo de 56% dos negócios) e estima-se que, em 2002, a cifra chegue a R$ 700 milhões8. As empresas estão investindo em novas formas de comercialização, não se restringindo às fronteiras do país, como também comercialização 'on-line', acreditando assim transformar os negócios pela Internet em mais dinâmicos e com custos menores.
            No estudo para São Paulo, dos proprietários que declararam ter acesso à Internet, 74% a utilizaram para obter notícias sobre o setor agrícola, 71% para acessar dados do mercado agrícola (preços e análises de mercado), 48% para obtenção de informações sobre extensão rural e ajuda técnica e 28% a utilizaram para a comercialização eletrônica.
            Uma investigação importante para determinar a tendência de adoção desta tecnologia é saber sobre o interesse em adquirir um computador por parte dos agricultores. Para São Paulo, foi inferido um baixo nível pela manifestação de apenas 4%, sendo que 40% não estavam interessados, pelo menos por enquanto. Algumas razões apontadas são: custo alto (32%), não sabe operar (19%) e motivos diversos (1%). Nesta última classe encontramos declarações como baixa renda, inexistência de instalações adequadas e falta de incentivo por parte do governo. A parcela restante não declarou o motivo.
            Alguns fatores podem ser limitantes na adoção desta tecnologia, como por exemplo a falta de informação sobre ela por parte dos proprietários, a resistência natural por proprietários tradicionais, experiências passadas frustradas no uso de computador ou, principalmente, porque esta tecnologia está diretamente ligada à organização e racionalização dos processos administrativos, independentemente do computador.
 

1FRANCISCO, Vera L.F.S. & PINO, Francisco A. Farm Computer Usage in Sao Paulo State, Brazil, a ser publicado em Revista Brasileira de Agro Informática , 2002
2PINO, Francisco A. et al. (orgs.) Levantamento censitário de unidades de produção agrícola do Estado de São Paulo, 1995-96: edição revista e ampliada [CD-ROM]. São Paulo, IEA/CATI/SAA, 2000.
3FRANCISCO, Vera L.F.S.; PINO, Francisco A. Estratificação de unidades de produção agrícola para levantamentos por amostragem no Estado de São Paulo. Agricultura em São Paulo, SP, v. 47, t.1, p.89-110, 2000.
4A unidade básica dos levantamentos utilizada no estudo é a unidade de produção agropecuária (UPA) que corresponde ao imóvel rural.
5FRANCISCO, Vera L.F.S. & MARTIN, Nelson B. A informática na agricultura paulista   Informações Econômicas, São Paulo, v.29, n.11, p.18-25, nov. 1999
6VALE, Sônia M. L. R; REZENDE, Marcelo, L. Uso da informática na Agricultura Mineira: Perfil do Usuário e Estado da Arte  [Online] Disponível: http://www.agrosoft.com.br/trabalhos/ag99/artigo57.htm . [capturado em 27 set. 2001].
Produtores interligados, [Online] Disponível www.solostrata.com.br: [capturado em 04 de jun. 2002].
7SALES, André. Os benefícios da Internet no campo. Revista Agrosoft [CD-ROM], 2000.
8BALDI, Neila Avançam vendas agrícolas na internet. Gazeta Mercantil, Brasília, 16/01/2002.

 
 

Data de Publicação: 22/07/2002

Autor(es): Vera Lucia Ferraz dos Santos Francisco Consulte outros textos deste autor