Mandioca: Preços Aviltados Na Entressafra

            O aviltamento dos preços recebidos pelos produtores de mandioca, a partir do segundo semestre de 2001, é uma situação que ocorre de maneira cíclica, como pode ser observado no gráfico 1. Mesmo sendo março um dos meses mais representativos do período de entressafra do produto, o preço médio registrado neste mês foi o menor dos últimos doze anos, de acordo com os dados do Instituto de Economia Agrícola-IEA (tabela 1).


Gráfico 1 - Preço médio real recebido pelo produtor paulista de mandioca
(R$/t)

                            Fonte: Instituto de Economia Agrícola
 

TABELA 1 – Preços médios reais1 de mandioca industrial recebidos pelos produtores, São Paulo, 1991-2002 - (em R$/tonelada)
 

Mês
1991 
1992 
1993 
1994 
1995 
1996 
1997 
1998 
1999 
2000 
2001 
2002 
Jan.
58,21 
74,25 
150,22 
98,08 
61,39 
58,21 
92,49 
73,76 
66,52 
127,52 
69,24 
38,29 
Fev
56,54 
84,81 
148,46 
65,96 
62,08 
65,79 
93,18 
66,11 
62,38 
125,37 
62,09 
39,43 
Mar
67,22 
103,21 
122,80 
63,21 
57,69 
67,07 
87,56 
66,78 
65,93 
116,46 
52,91 
30,00 
Abr
64,60 
114,49 
109,38 
60,32 
57,80 
67,83 
84,11 
68,23 
68,74 
100,49 
50,69 
.
Maio
66,45 
108,79 
92,63 
62,97 
56,49 
79,29 
84,01 
64,63 
68,63 
87,92 
45,61 
.
Jun
55,89 
100,60 
89,09 
57,88 
47,75 
85,20 
82,34 
64,73 
67,01 
83,69 
40,95 
.
Jul
60,00 
101,56 
76,77 
61,55 
47,76 
88,94 
78,06 
64,75 
67,95 
79,15 
39,54 
.
Ago
64,94 
125,33 
79,30 
61,99 
47,02 
91,83 
76,22 
65,77 
67,51 
76,62 
41,54 
.
Set
65,61 
134,84 
84,84 
62,75 
47,77 
93,64 
71,72 
64,83 
72,29 
70,56 
39,05 
.
Out
64,32 
138,72 
93,53 
63,21 
49,80 
94,90 
71,48 
65,70 
79,84 
72,91 
38,85 
.
Nov
67,73 
143,51 
86,26 
63,85 
50,98 
96,74 
72,01 
64,94 
98,81 
71,54 
35,14 
.
Dez
64,55 
147,66 
93,22 
62,22 
50,67 
99,81 
73,19 
65,75 
115,95 
75,17 
36,94 
.
Média
63,01
114,81
102,21
65,33
53,10
82,44
80,53
66,33
75,13
90,62
46,04
35,91

   1Em reais de janeiro de 2002.
   Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Tal situação é consequência, principalmente, da recuperação da produção nordestina, depois de um longo período de estiagem, que reduziu o fluxo de exportação de farinha de mandioca para a Região Nordeste, mas também do aumento da área de cultivo nas principais regiões produtoras do País, o que gerou grandes excedentes de mandioca como resultado da diminuição do nível de atividade e, em alguns casos, paralisação de unidades industriais, principalmente nos estados de Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Com isso, a produção nacional atingiu 24,3 milhões de toneladas de raiz, enquanto a produção média do período de 1996 a 2000 foi de 20,3 milhões de toneladas.
            Em São Paulo, a produção de mandioca industrial evoluiu de 657 mil toneladas em 1999/2000 para 968 mil toneladas em 2000/01. Além disso, contribuiu muito para o rebaixamento dos níveis de preço da mandioca o fato de a produção nacional de milho ter atingido em 2001 o volume recorde de 41,5 milhões de toneladas, 30% superior ao resultado do período anterior. Consequentemente, os preços do cereal foram pressionados para baixo e, como o amido de milho é o principal concorrente da fécula, também influenciaram na redução dos preços da mandioca.
            As perspectivas são de que a recuperação dos preços da raiz ocorra só no final do ano, pois a redução de 21% na área de mandioca nova da safra 2000/01, em São Paulo, é insuficiente para compensar a maior oferta representada pela expansão da área em produção. De acordo com informações de agentes do mercado do Médio Vale do Paranapanema, a oferta de mandioca é suficiente para o abastecimento durante o resto do ano. Nessa região, que é a principal produtora do Estado, os preços estão variando de R$ 30,00 por tonelada para o produto da variedade 'roxinha', de menor rendimento industrial, a R$ 35,00 para as variedades IAC. Alguns agricultores, que produziram sob contrato com indústrias locais, estão recebendo R$ 47,00 por tonelada.
            Industriais do segmento feculeiro acreditam que a oferta de mandioca deverá diminuir a partir de outubro e, mesmo nas condições atuais de preços mínimos da fécula abaixo dos de mercado, o recurso aos Empréstimos do Governo Federal (EGFs) é uma boa opção. De acordo com informações da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), os preços da fécula estão se recuperando e situaram-se em R$ 440,00 por tonelada , FOB-fábrica (PR, SP e MS) em janeiro último, em comparação com os R$ 300,00/t de setembro de 2001, mas ainda abaixo dos R$ 520,00/t verificados em janeiro do mesmo ano.
            No Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Presidente Venceslau, onde se concentra a área cultivada com mandioca no Pontal do Paranapanema, as informações obtidas de industriais do setor indicam que, na segunda semana de março, a raiz de mandioca foi comercializada por preços entre R$ 47,00 e R$ 55,00/t, respectivamente para produtos de renda 18 e de renda 20, dada pelo teor de amido, mas essas condições são válidas para os agricultores que fizeram contratos com a fábrica. O produto tem sido vendido principalmente para indústrias localizadas em cidades fronteiriças do Paraná e do Mato Grosso do Sul, uma vez que as fecularias localizadas na região do Pontal do Paranapanema (municípios de Tarabai, Rosana e Sandovalina) se encontram paralisadas.
            De acordo com levantamento diário de preços recebidos pelos produtores, feito pelo IEA, nas áreas pertencentes ao EDR de Presidente Venceslau, o preço foi de R$ 30,00 por tonelada durante o primeiro semestre de 2002. O perfil predominante dos produtores desta região é de arrendatários que têm lavouras de maior tamanho e de assentados da reforma agrária com áreas pequenas.
            Entre os produtos da mandioca, a fécula é o que apresenta o mercado mais promissor em termos de crescimento. O amido é matéria indispensável para diversos segmentos industriais, destacando-se as indústrias alimentícia, têxtil, de papel e química, entre outras. A demanda brasileira por amido é da ordem de 1,0 milhão de toneladas, das quais cerca de 40% são de fécula de mandioca, produto que vem ganhando a preferência de alguns segmentos industriais e expandindo sua participação no mercado, principalmente quando modificada, deslocando o amido de milho.
            A recente entrada de empresas transnacionais no segmento de processamento de mandioca é um fato que confirma a crescente importância da fécula no mercado de amido. Nos últimos cinco anos, entraram na atividade no Brasil as seguintes empresas: National Starch, Corn Products e Cargill, dos Estados Unidos, e Avebe da Holanda.

 

Data de Publicação: 02/04/2002

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor