Café: súbita baixa em abril

            Em abril, o mercado do café reverteu a tendência de alta, observada desde o início do ano, que indicava firmeza na recuperação de suas cotações. Entretanto, os altos estoques nos países consumidores e a perspectiva de crescimento na oferta brasileira (aumento de mais de 40% frente à previsão de safra do ano anterior), tanto pelas estimativas oficiais quanto pela dos agentes de mercado, são as principais expectativas a serem enfrentadas.
            Assim, prevaleceu no mês a tendência de queda das cotações do café nos diferentes mercados. Na Bolsa de Nova Iorque, por exemplo, o café arábica (Contrato C, segunda posição de julho de 2004) apresentou uma baixa na cotação média do mês de 3,39% em relação à média de março de 2004. No mercado de robusta da Bolsa de Londres, a tendência foi de estabilidade, com ligeira alta de 0,46% no preço. Para o arábica na BM&F1, constatou-se leve queda de 3,01%. Considerando o indicador OIC-Composto diário, observou-se uma baixa na média de abril de 3,27% frente a março (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros e do OIC-Composto diário, 2002 a 2004

                  Fonte: Gazeta Mercantil

            Ainda em abril, as cotações dos cafés arábicas, contrato C, para julho, na Bolsa de Nova Iorque, mostraram-se em queda contínua, com a média do mês cerca de 3,39% menor que a observada em março (gráfico 2). Nesse mês, o diferencial de preços entre o café arábica cotado na BM&F e o Contrato C, de Nova Iorque, foi de US$ 16,39 por saca, cerca de 5,21% superior ao observado no mês de março.

Gráfico 2 - Cotações diárias em abril de 2004 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, para Julho de 2004 (segunda posição)

                       Fonte: Gazeta Mercantil

            Considerando as altas nas cotações de café nos mercados de futuros nos últimos 12 meses, verificou-se aumento acumulado para as cotações mensais do café arábica de 20,14% na BM&F e de 13,02% na Bolsa de Nova Iorque, bem como de 13,76% no OIC composto. Para o robusta, ao contrário, verificou-se uma queda acumulada de 3,09% na Bolsa de Londres.
            O cafeicultor brasileiro, que vem recebendo preço levemente crescente desde a alta de janeiro de 2004, teve queda na cotação em abril, chegando a -2,68%, devido ao impacto das cotações do mercado internacional do café. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, mostra uma alta de 12,90%, mas tendência de queda (gráfico 3).

Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, período de 2001 a 2004

                       Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

Evolução das exportações

            O desempenho das exportações brasileiras de café no primeiro trimestre de 2004, em comparação com igual período de 2003, aponta para tendências inversas, pois, enquanto os volumes embarcados apresentaram queda de 14%, a receita cambial cresceu em 7%. Destaca-se o declínio de 87% nos embarques de café conillon com similar diminuição das receitas obtidas. O arábica apresentou queda de 3% no volume e crescimento de 17% na receita, sendo semelhantes os movimentos do café verde (tabela 1).

TABELA 1 – Desempenho das exportações brasileiras de café, 1o trimestre, 2003 e 2004

2003
Conillon
Arábica
Torrado
Verde
Solúvel
Total
Volume (sc 60kg)
906.820
5.074.570
16.585
5.997.975
664.160
6.662.135
Receita (US$mil)
38.856
287.297
1.530
327.684
47.597
375.281
2004
Conillon
Arábica
Torrado
Verde
Solúvel
Total
Volume (sc 60kg)
120.606 
4.917.768 
9.678 
5.048.052 
663.649 
5.711.701 
Receita (US$mil)
6.199
335.784
1.458
343.442
59.957
403.400
Variação (%)
Volume
-87
-3
-42
-16
0
-14
Receita
-84
17
-5
5
26
7
Fonte: www.cecafe.com.br

            Os produtos transformados, a saber: café torrado e moído e solúvel, apresentaram excelente recuperação dos preços recebidos. No primeiro caso, uma diminuição de 42% no embarque ocasionou apenas 5% de perda de divisas e, no segundo, com volumes praticamente constantes teve sua renda aumentada em 26%. A recuperação nos preços desses produtos é na verdade uma transmissão daquilo que se observou nas cotações do café verde.
            A paralisação dos agentes portuários tem adiado a divulgação das estatísticas de abril de 2004. Dados preliminares indicam que o volume exportado de 1,48 milhão de sacas representa uma sensível diminuição frente ao mesmo mês do ano anterior cujo volume exportado alcançou 2,07 milhões de sacas. Essa expressiva queda contribui na formação de tendência altista para os preços, embora não seja ela uma das determinantes exclusivas.

A retomada da pesquisa cafeeira

            O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBPDC), coordenado pela Embrapa2, lançou edital para a contratação de projetos de pesquisa. Após um período em que o programa esteve com recursos contingenciados, essa retomada constitui uma lufada de ar para todo o sistema de pesquisa centrado no produto.
            Foram recursos oriundos desse fundo que proporcionaram o desenvolvimento de importantes inovações para o setor, a começar das novas variedades resistentes a ferrugem e tolerantes a nematóides e a bicho mineiro, passando pelas novas técnicas de preparo pós-colheita, até técnicas de manejo e equipamentos focados nas necessidades dos cafeicultores familiares e de pequeno porte.

Financiamentos para o setor

            Tendo em vista o crescimento da safra de café do ano agrícola 2003/04, o Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC) voltou a pressionar o Governo Federal para aumentar e implementar novas fontes de financiamento ao setor. Dado o fato de que os recursos do Funcafé estão praticamente comprometidos com os financiamentos em vigor e com a renegociação das dívidas, o Conselho solicita recursos para pagamento de equalização às taxas de juros de recursos do FAT e /ou de Poupança Rural com as taxas do Funcafé, de 9,50% aa, objetivando alavancar um adicional de até R$ 1 bilhão, principalmente para a comercialização. Mas como envolve recursos orçamentários, mesmo vendendo parte do estoque oriundo dos contratos de opção do ano de 2003, será necessária a aprovação por parte das autoridades monetárias do governo federal.
            Cabe notar que a colheita já se iniciou no Paraná e no Espírito Santo, indicando que as demandas do setor deverão crescer no curto prazo. Além disso, a negociação com o Ministério da Fazenda poderá inviabilizar a solicitação, tendo em vista as fortes pressões que vêm ocorrendo sobre o orçamento federal, para pagamento de aumento de salários, aumento do salário mínimo e déficits em várias contas como a do INSS.

1 www.bmf.com.br
2 www.embrapa.br/café

Data de Publicação: 11/05/2004

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor