Café: o mercado do clima sustenta a alta do preço

            As cotações do café apresentaram forte alta na última semana de maio e nos primeiros dez dias de junho, mas arrefeceu ao longo do restante do mês, embora tenha mantido ligeiro aumento em todos os mercados acompanhados. As especulações em torno do inverno brasileiro, dados os riscos de geadas no Brasil, geraram perspectivas de alta nas cotações nos diferentes mercados em que o produto é negociado. Isto poderá manter-se à medida que nos situamos no segundo ano cafeeiro em que a demanda internacional é maior do que a oferta, consumindo, portanto, parte dos estoques nos países importadores.
            Dessa feita, prevaleceu no mês junho tendência ascendente das cotações do café nos diferentes mercados. Na Bolsa de Nova Iorque, o café arábica (contrato C, segunda posição) apresentou aumento de 8,76% na cotação média do mês, em relação à média de maio último. Já na Bolsa de Londres o aumento foi de 9,26% no mercado de robusta. O mesmo ocorreu com o arábica na BM&F, cuja alta foi de 9,34%. Ao considerar o indicador OIC-Composto diário, observou-se elevação de 7,46% em relação à média de maio (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros e do OIC-Composto diário, 2002 a 2004

                       Fonte: Gazeta Mercantil

            Em junho, as cotações dos cafés arábicas, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram alta até o décimo dia do mês, quando os riscos de geada diminuíram e os preços iniciaram um queda contínua (gráfico 2). Nesse período, o diferencial de preços entre o café arábica cotado na BM&F e o contrato C de Nova Iorque foi de US$ 17,75 por saca, cerca de 6% superior ao observado no mês de maio.

Gráfico 2 - Cotações diárias em Junho de 2004 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, contrato C, segunda posição

                        Fonte: Gazeta Mercantil

            Ao avaliar a evolução dos preços do café nos diferentes mercados, cotados em dólar por saca, verificou-se que a maior variação em 2004 foi a do café arábica segunda posição na BM&F, com os preços crescendo 25,83% no ano, enquanto a variação acumulada nos últimos 12 meses foi de 37,76%. Em seguida, aparece o arábica, contrato C e segunda posição, cujos preços no mercado de Nova Iorque cresceram 24,95% em 2004 e 31,54% no acumulado de 12 meses. Por fim, os preços do robusta, segunda posição, no mercado de Londres apresentaram variação acumulada menor, de 11,08% no ano e de 16,27% nos últimos 12 meses. Para o OIC-Composto, houve um crescimento acumulado de 22,51% em 2004 e de 31,44% no acumulado de doze meses, fortemente influenciado pela evolução dos preços do café arábica.
            O cafeicultor paulista também foi beneficiado pelas altas observadas no mercado internacional, em função das previsões de risco de geadas. O aumento acumulado para o preço médio de junho foi de 16,09% em relação ao preço médio observado em maio. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para uma alta acumulada de 52,84% em junho de 2004, em relação a junho de 2003, e de 40,60% no ano em curso (gráfico 3).

Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, período de 2001 a 2004

                            Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Plano Agrícola e Pecuário 2004/05

            Em 18 de junho, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1 lançou o Plano Agrícola e Pecuário 2004/05. Nele ficaram contempladas várias medidas de apoio ao Agronegócio Café. Na página 10 (Capítulo 3.10 Apoio à Economia Cafeeira), o Plano define para o ano-safra 2004-05, além do acesso às diversas linhas de crédito por parte dos produtores, as seguintes medidas no valor total de R$ 1,70 bilhão:

  • Prorrogação para 2005 de dívidas de cafeicultores com o Funcafé no valor de R$ 500 milhões;
  • Financiamento de colheita e estocagem – R$ 500 milhões;
  • Operações de linhas especiais de crédito à comercialização (LEC) e de EGF – R$ 250 milhões;
  • Operações de CPR – R$ 450 milhões;
  • Suporte governamental à comercialização da safra 2004-05, envolvendo:
    • Linha especial de R$ 300 milhões de crédito para o financiamento da estocagem de café, a taxa de juros de 9,50% ao ano, no prazo de pagamento de até 180 dias e vencimento máximo em 31/03/2005. A linha permitirá a estocagem de 2 milhões de sacas de café;
    • Lançamento de contratos privados de opções de venda de 2 milhões de sacas de café (esta medida depende da edição de Medida Provisória);
  • Os limites de recursos por tomador são de R$ 140 mil nos financiamentos com taxas de juros controladas; nos de investimentos, os limites são pré-definidos, dependendo do programa.

            Essas medidas têm o objetivo de atender às reivindicações do setor, no sentido de melhorar o fluxo de comercialização, atuando de maneira a recuperar os preços do café, principalmente num ano de alta como o ano agrícola de 2003/04.

As exportações no primeiro semestre

            Na comparação do desempenho das exportações em 2004 com 2003, constata-se sensível melhoria nos valores recebidos (mais US$ 138 milhões ou acréscimo de 19,1%), mesmo sob uma diminuição significativa nos volumes embarcados (menos 852,6 mil sacas ou redução de 6,8%), notadamente nas exportações de café do tipo robusta (tabela 1).

Tabela 1 – Exportações brasileiras de café, primeiro semestre de 2003 e de 2004

Ano
Arábica
Robusta
Torrado
Solúvel
Total
2003  . .  .  .  . 
volume
9.500.432
1.678.223
33.474
1.351.909
12.564.038
valor
550.812.211
70.075.318
3.084.713
100.751.000
724.723.242
2004  . .  .  .  . 
volume
9.896.022
264.089
18.378
1.532.978
11.711.467
valor
706.699.658
13.382.201
2.795.285
140.030.000
862.907.144
Fonte: CECAFÉ ( www.cecafe.com.br)

            A queda nas exportações do tipo robusta derrubou em 38,73% os volumes embarcados para os Estados Unidos, enquanto as vendas para a Alemanha, principal destino do café verde brasileiro, tiveram aumento de 24,99% em relação ao primeiro semestre de 2003.
            Foi destaque também o crescimento significativo dos embarques de café solúvel, cujo market share no mercado internacional vêm se recuperando ano após ano. No primeiro semestre de 2004, as exportações do segmento foram incrementadas em 181.069 sacas no período, contabilizando crescimento nas receitas de aproximadamente 40%.

A estratégia do grupo CBD

            O grupo CBD (Companhia Brasileira de Distribuição), que controla os equipamentos de varejo Extra, Pão de Açúcar, Barateiro e Eletro e articula parceria com o Sendas, elegeu o café como a categoria que receberá grandes investimentos promocionais, visando dinamizar os negócios neste item. Em outras ocasiões tal estratégia foi amplamente bem-sucedida, como foram os casos da água mineral (item que pouco representava no faturamento dez anos atrás) e do vinho que atingiu a plena maturidade em termos de segmentação de produtos e preços.
            A CBD pretende que, até o final de 2004, se modifique a percepção de sua clientela sobre a bebida no sentido de se prontificar a adquirir cafés diferenciados e, por conseqüência, com maior valor agregado. O agronegócio café como um todo aplaude a iniciativa e espera que esse posicionamento seja acompanhado pelos demais competidores no mercado de distribuição de alimentos.

MAPA: http://agricultura.gov.br

CECAFE: http://www.cecafe.com.br

Data de Publicação: 08/07/2004

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor