Julho de 2016: Preços Agropecuários apresentam primeira queda do ano

O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1, 2 (que mede a variação dos preços recebidos pelos produtores paulistas) encerrou o mês de julho de 2016 em queda de 0,93% na comparação com o mês anterior. Na decomposição dos grupos de produtos, o IqPR-V (produtos de origem vegetal) fechou em -1,90%, enquanto o IqPR-A (produtos de origem animal) se manteve em alta com aumento de 1,98% (Tabela 1).

 


 

Na tabela 1, são apresentados os resultados das variações dos índices entre a última semana de junho/2016 e as quadrissemanas de julho/2016. Nesse período, o IqPR recuou 6 pontos percentuais em relação ao mês anterior. Já nas 4 quadrissemanas do mês de julho, todos os índices apresentaram desaceleração, com o IqPR passando de 4,55% na primeira quadrissemana para -0,93% no fechamento mensal.

Quando a cana-de-açúcar (cujo preço da tonelada no campo fechou em queda de -0,81% em julho) é excluída do cálculo do índice na ponderação dos produtos, o IqPR (geral sem cana) registra baixa de -1,05%, puxado principalmente pelos produtos vegetais que registraram variação negativa de 4,26% (Tabela 1). Esse resultado mostra que as cotações médias de julho dos produtos vegetais tiveram na sua maioria quedas maiores do que a tonelada da cana no campo.

Os produtos do IqPR que apresentaram altas nas cotações do mês de julho/2016 foram: banana nanica (14,76%), trigo (10,73%), leite cru resfriado (8,20%), carne de frango (5,79%) e ovos (4,75%) (Tabela 2).



Com a volta às aulas no segundo semestre, aumentaram as compras de banana nanica na última semana de julho no Vale do Ribeira, principal região produtora paulista. Adicionado aos problemas climáticos (como a ocorrência de geadas denunciadas pelos técnicos da Secretaria da Agricultura e Abastecimento na região), que reduziu a oferta do produto no último mês, justifica-se o alto reajuste dos preços recebidos pelos bananicultores.

No que se refere ao trigo, sua maior demanda, principalmente como produto substituto ao milho no mix da ração animal, tem elevado o preço recebido pelos seus produtores e interferido nos custos dos moinhos e das indústrias de panificação. Coloca-se a preocupação do possível repasse dessas majorações no valor do pãozinho francês, produto tradicional da dieta brasileira.  

O encarecimento das rações para alimentação em forma de suplemento para as vacas leiteiras, cujas pastagens foram prejudicadas com o inverno (menor exposição do sol e pela ocorrência de geadas), apresenta-se como principal fator para a elevação dos preços do leite no mês de julho.

Para a carne de frango, a redução da oferta e o repasse dos custos com ração (que tiveram reajustes principalmente pelos aumentos apresentados no valor do milho nos últimos meses) foram os principais fatores da elevação dos preços recebidos pelos granjeiros, com reflexo também para a produção de ovos.

Os produtos que apresentaram quedas de preços no mês de julho/2016 foram: batata (36,58%), milho (17,77%) e tomate para mesa (12,23%) (Tabela 2).

Os altos preços da batata advinda das safras das secas adiantaram as colheitas do produto de forma concentrada no início da safra de inverno. Mesmo tendo diminuído as margens de comercialização dos produtores com a maior oferta disponibilizada no mercado, esse adiantamento aconteceu numa realidade na qual os preços recebidos ainda se configuram muito atrativos comparativamente aos custos de produção. 

Em resumo, no mês de julho/2016, 8 produtos apresentaram alta de preços (5 de origem vegetal e todos 3 de origem animal) e 11 apresentaram queda (9 de origem vegetal e 3 de origem animal) (Tabela 2).

 

ACUMULADO DOS ÚLTIMOS 12 MESES

No acumulado dos últimos 12 meses (julho/15 a julho/16), os três índices apurados, IqPR, IqPR-V e IqPR-A registram altas nas variações e fecharam respectivamente em 27,83%, 31,85% e 16,06% (Tabela 1 e Figura 1). 

Retirado o produto cana-de-açúcar (cujo valor da tonelada no campo teve variação positiva de 17,26% na comparação com julho de 2015), os índices acumulados encerraram o último mês de 2016 com valorizações maiores: o IqPR (sem cana) vai para 39,65%, enquanto o IqPR-V (sem cana) sobe para 67,63%. Esses números mostram que, no acumulado destes 12 meses, grande parte dos produtos vegetais teve variações em seus preços bem maiores do que o da cana-de-açúcar (Tabela 1), puxados principalmente pelo amendoim, banana nanica, milho, batata e arroz.

Na figura 1, observa-se as variações acumuladas mensalmente dos três índices (IqPR, IqPR-V e IqPR-A). De um modo geral, apresentam praticamente o mesmo comportamento, com crescimentos de julho/2015 até o mês de março/2016. Por um lado, é reflexo da desvalorização do real frente ao dólar que amplia o mercado interno de produtos para exportação, e por outro encarece os custos de produção com uso de insumos importados. Fatores como aumento dos combustíveis e tarifas de energia elétrica também contribuíram no aumento dos custos que foram repassados para os produtos. Para o mês de abril/2016, nota-se certa estabilidade no IqPR, com a volta de seu crescimento nos meses de maio e junho/2016, puxado principalmente pelos produtos vegetais e pela recuperação dos produtos de origem animal. No mês de julho/2016, o IqPR recua por conta da queda do IqPR-V. Já o IqPR-A, mesmo positivo, apresenta desaceleração (Figura 1).

Comparando os preços entre junho/2016 e junho/2015, apenas o tomate para mesa (-35,61%) apresentou queda em suas cotações. Com altas significativas, amendoim (116,26%), banana nanica (113,31%), milho (72,88%), batata (50,25%), arroz (45,80%), ovos (42,93%), trigo (38,92%), laranja para mesa (36,78%), leite cru resfriado (31,56%), soja (27,04%), algodão (25,62%), café (19,87%), cana-de-açúcar (17,26%) e carne de frango (11,32%) subiram acima do Índice de Preços Pagos pelos Produtores (IPP), calculado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) nos últimos 12 meses (alta de 10,47%)3. Abaixo do patamar desse indicador que determina os reajustes dos custos de produção, estão as variações das seguintes culturas: carne bovina (6,87%) e carne suína (2,42%) (Tabela 2).

A laranja para indústria e o feijão estão sem a variação anual por não apresentarem cotações no mês de julho do ano passado.

 

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1A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/07/2016 a 31/07/2016 e base = 01/06/2016 a 30/06/2016.

 

2Artigo completo com a metodologia. PINATTI, E. et al. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v. 38, n. 9, p. 22-34, set. 2008. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573>. Acesso em: ago. 2016.

 

3O Índice de Preços Pagos pelos Produtores (IPP) consiste em uma medida de caráter geral das variações nos preços dos insumos e serviços comprados pelos agricultores. Ele é composto por produtos de natureza industrial (como adubos, defensivos, vacinas, medicamentos, combustíveis, lubrificantes e outros), produtos de natureza agrícola (como sementes, mudas e adubos vegetais e animais), máquinas e equipamentos. 

 

Palavras-chave: IqPR, índice, preços agrícolas, variações, indicadores, índices, preços pagos.


Data de Publicação: 19/08/2016

Autor(es): Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor