Café: forte queda nas cotações com a redução dos riscos de geada

            O chamado 'weather market' (mercado de clima), sob o qual as cotações oscilam ao sabor das previsões climáticas, fez com que os preços declinassem substancialmente em julho após se dissiparem as previsões de geadas no Brasil. A partir de agosto, a redução dos riscos de geadas nos cafezais e a intensificação da colheita no Brasil (safra prevista de 40 milhões de sacas), associadas a um verão aquecido no Hemisfério Norte, reduziram a demanda internacional. Sob esse conjunto de fatores, as cotações do produto caíram em todos os mercados, com reflexos no mercado brasileiro.
            Assim, ao longo do mês julho, houve expressiva queda nas cotações do café nos diferentes mercados. Na Bolsa de Nova Iorque, por exemplo, o café arábica (Contrato C, segunda posição) apresentou redução de 11,82% na cotação média do mês, em relação à média de junho, enquanto no mercado de robusta da Bolsa de Londres a queda foi de 11,70%. O mesmo ocorreu na BM&F, com o arábica baixando 12,55%. Ao se considerar o indicador OIC-Composto diário, o recuo foi de 9,05% em relação à média de junho. No geral, as cotações voltaram aos níveis de janeiro de 2004 (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros e do OIC-Composto diário, 2002 a 2004

                    Fonte: Gazeta Mercantil

            As cotações dos cafés arábicas, contrato C, para setembro, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram queda contínua ao longo de julho, com média de 11,82% menor do que a cotação média de junho (gráfico 2). Nesse período, o diferencial de preços entre o café arábica cotado na BM&F e o Contrato C de Nova Iorque foi de US$ 16,30 por saca, 8,17% inferior ao observado no mês de junho.

Gráfico 2 - Cotações diárias em Julho de 2004 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição (Setembro)

                        Fonte: Gazeta Mercantil

            A evolução dos preços do café nos diferentes mercados, cotados em dólar por saca, indica que a variação em 2004 na BM&F, para o arábica, segunda posição, cresceu 10,14%, enquanto nos últimos 12 meses a variação acumulada foi de 17,55%. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 10,18% em 2004 e 14,01% também nos 12 últimos meses. Para o robusta, no mercado de Londres, segunda posição, os preços apresentaram variação acumulada negativa, de 1,91% no ano de 2004 e de 0,41% nos últimos 12 meses. Já o OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 11,43% em 2004 e de 14,89% no período de doze meses, fortemente influenciado pelo aumento dos preços do café arábica. Esses dados indicam que todo ganho de preço obtido no período de janeiro a junho, no mercado de café, praticamente se perdeu, voltando as cotações aos níveis do início do ano.
            O cafeicultor paulista também foi fortemente atingido pelas baixas observadas no mercado internacional, em função da não-ocorrência de geadas. A queda no preço médio de julho foi de 17,77% em relação ao preço médio observado no mês anterior. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, foi de alta acumulada de 31,99% em julho de 2004, em relação ao mesmo mês de 2003, e de 15,63% no ano de 2004 (gráfico 3).

Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, no Estado de São Paulo, período de 2001 a 2004

                            Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Divergências nas previsões de safras

            Historicamente, as previsões de safra de café no mundo e, particularmente no Brasil, atraem a atenção dos agentes que atuam no mercado de café. Entre junho e julho de 2004, as duas mais respeitadas entidades que produzem estimativas para a safra mundial de café divulgaram seus números para a temporada (ano-safra) 2004/05. A Organização Internacional do Café (OIC)1 estimou que a safra mundial alcançará o patamar de 112 milhões de sacas, enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)2 prevê colheita de 117,7 milhões.
            Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que ambas estimativas são bastante próximas, o que representa uma novidade para esse tipo de estatística, pois em geral os números divulgados costumam ser muito mais díspares que os atuais. Em segundo, ao analisar em detalhe ambas previsões, percebe-se que é justamente sobre a estimativa da colheita brasileira que as entidades divergem. A OIC se apóia nos números divulgados em abril pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)3, ou seja, colheita entre 36,1 e 40,5 milhões de sacas, enquanto o USDA mantém o procedimento de realizar sua própria estimava, que neste caso apontou para a colheita de 42,4 milhões de sacas.
            A previsão preparada pela CONAB, em abril, foi resultado de pesquisa objetiva junto a 2.466 cafeicultores, que, além de estimar a carga nas plantas, considera também os efeitos do clima sobre a produção, sendo, portanto confiável. A companhia pretende divulgar novos números da safra brasileira de café em meados de agosto, sendo esperado pelo segmento produtivo ligeira redução no volume colhido em função do excesso de chuvas observado entre maio e junho de 2004.
            Considerando o número médio dentro da faixa de previsões da CONAB, era esperada colheita de 38,3 milhões de sacas, ou seja, 4,1 milhões de sacas abaixo da previsão do USDA. Essa diferença, contabilizada apenas dentro da dispersão sobre as estimativas da produção brasileira, representa quase 72% da variação total entre as previsões para a safra mundial 2004/05.
            Para além das filigranas estatísticas, deve considerar-se que as previsões da OIC e do USDA indicam cenário de relativo equilíbrio entre oferta e demanda de café no mundo. Para a temporada 2004-05, acredita-se que o consumo mundial possa alcançar as 115 milhões de sacas de café. Portanto, não se imagina que se formem novos excedentes, sendo inclusive plausível que os estoques sejam parcialmente consumidos para atender a demanda pelo produto. Apesar de a queda nos preços ter sido bastante expressiva em julho, o balanço entre a oferta e a demanda global pode ensejar melhor remuneração a partir do quarto trimestre de 2004.

Comercialização – novas decisões do CMN

            Na última deliberação do Conselho Monetário Nacional (CMN), o limite de financiamento por cafeicultor foi estabelecido em R$ 100 mil, liberados em parcela única, contratáveis até final de outubro do corrente ano. O prazo para a quitação é de 180 dias a partir da contratação a juros de 8,75% ao ano (recursos do tesouro equalizados). A garantida do empréstimo será o produto estocado desde que acompanhado pelo recibo de depósito em armazém credenciado.
            O preço mínimo de referência para o produto é o mesmo definido para o EGF da safra 2003/04 (R$ 157,00 para café arábica e R$ 89,00 para café robusta por saca). Cafés classificados abaixo dos tipos básicos receberão deságios.

Embarques até julho aumentam 23%

            Entre janeiro e julho desse ano, as exportações brasileiras de café alcançaram US$ 1,02 bilhão, representando crescimento de 23% sobre igual período de 2003 (tabela 1). Em volume, os embarques de café verde totalizaram 11,898 milhões de sacas, enquanto os de solúvel foram de 1,840 milhão de sacas. Em julho, primeiro mês da safra 2004/05, as exportações em receita cresceram 47%, para US$ 153,2 milhões. A receita no mês poderia ter sido ainda maior, se os preços do café robusta estivessem mais valorizados. Também a escassez de contêineres e os atrasos nos embarques limitaram o desempenho do segmento.

Tabela 1- Exportações de café verde (arábica, robusta e torrado) e de solúvel, Brasil, janeiro a julho, 2004
 

Mês
Café verde
Solúvel
Volume (sc)
Receita
(em US$ 1.000)
Volume (sc)
Receita
(em US$ 1.000)
jan-04
1.629.945 
104.526,305
199.354 
17.954,07
fev-04
1.401.308 
94.415,495
157.353 
14.757,47
mar-04
2.146.217 
153.957,857
306.524 
27.604,6
abr-04
1.544.412 
113.244,976
287.339 
27.133,99
mai-04
1.750.215 
129.493,415
307.091 
27.730,83
jun-04
1.766.269 
131.384,442
279.754 
25.208,09
jul-04
1.660.180 
125.911,023
303.358 
27.314,24
Total

11.898.546

853.933.513

1.840.773

168.703,29

Fonte: Elaborado a partir de dados básicos do CECAFE (www.cecafe.com.br) 

1 OIC: www.ico.org
2 USDA: www.usda.gov
3 CONAB: www.conab.gov.br

Data de Publicação: 10/08/2004

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor