Algodão em São Paulo: evolução regional

            Pelo segundo ano consecutivo, o cultivo de algodão apresentou expansão no Estado de São Paulo na safra 2003/04. A área plantada, de 87,29 mil hectares, representou aumento de 28,2% e a produção, de 216,19 mil toneladas de algodão em caroço, crescimento de 20,7% em relação à anterior. Essa foi a maior produção dos últimos cinco anos, não obstante a queda de 5,8% na produtividade média, conforme dados do Instituto de Economia Agrícola e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (IEA/CATI). Mas é ainda modesta quando comparada com as anteriores à fase do desestímulo que marcou a década de 1990.
            A cotonicultura paulista distribui-se de forma diversa no Estado de São Paulo. As características específicas de cada região, tais como estrutura fundiária e padrão tecnológico, determinam a adoção de diferentes sistemas de produção, refletidos na produtividade média da cultura.
            Além das estruturas produtivas características de cada região produtora, elementos relacionados à ordem econômica e de mercado, constituídos basicamente pelas dificuldades financeiras do agricultor, também afetam a produtividade da lavoura algodoeira1.
            Durante os anos 90s, período de forte retração no cultivo em virtude das dificuldades na comercialização, aquelas regiões com maior grau de tecnologia medido pela produtividade média da cultura aumentaram suas participações na produção do Estado, em detrimento daquelas com rendimentos menores2.
            Avalia-se o comportamento da área, produção e produtividade da cultura do algodão no Estado de São Paulo, na fase de aumento do cultivo, compreendida pelos triênios de 1999-2001 a 2002-04, nos dez principais Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs), responsáveis por 75%, em média, da produção estadual.
            Na maioria dos EDRs selecionados, houve aumento expressivo na área plantada de algodão. O EDR de Avaré foi o que apresentou a expansão mais acentuada, de 106,7%, seguido dos de Jales (69,1%), General Salgado (67,6%) e Itapeva (62,7%). Decréscimos no cultivo da fibra ocorreram em Barretos, Limeira e Orlândia (tabela 1).

Tabela 1 – Variação na área, produção e produtividade e participação na produção, cultura do algodão, por EDR, Estado de São Paulo, médias trienais 1999-01 a 2002-04

 EDR
Variação (%)
Particip. produção(%)
Área
Produção
Produtividade
1999-01
2002-04
Avaré
106,7
114,8
7,3
2,6
4,9
Barretos
-17,1
-19,6
-2,6
10,4
7,4
Fernandópolis
23,5
53,0
22,1
6,0
8,1
Gal. Salgado
67,6
83,3
10,4
3,3
5,4
Itapeva
62,7
69,8
2,3
4,0
6,1
Jales
69,1
116,8
30,3
4,3
8,3
Limeira
-14,9
-12,7
2,4
10,8
8,3
Orlândia
-19,2
-12,3
8,9
18,2
14,1
P. Prudente
37,2
47,8
9,0
3,0
4,0
Votuporanga
16,5
26,5
8,7
10,1
11,3
Estado
4,8
13,3
8,2
72,7
77,9
Fonte: IEA/CATI

            Esse comportamento pode estar relacionado às características regionais de uso do solo, que influenciam o grau de concorrência entre as culturas. No EDR de Barretos, 29,58% da área total ocupada pelas atividades agropecuárias, em 2001, corresponderam a cana para indústria. Em Limeira, essa cultura ocupou 30,95% e, em Orlândia, 45,80%, nesta última seguida pela soja com 20,13% da área, segundo o IEA/CATI3.
            Naqueles EDRs que apresentaram aumento na área de algodão, o uso do solo mostrou-se menos concentrado e com menor ocupação pelos canaviais. Em Avaré, Fernandópolis e Itapeva, predominou o milho, com 6,88%, 5,80% e 9,95%, respectivamente, da área total das atividades agropecuárias, e em Jales, a laranja (3,25%). A cana constituiu a principal atividade agrícola em General Salgado (7,04%), em Presidente Prudente (5,73%) e também em Votuporanga (8,10%).
            Os EDRs de Jales, Avaré, General Salgado e Itapeva também apresentaram os aumentos mais expressivos na produção. Em termos de representatividade no total produzido, o destaque, mais uma vez, foi Jales, cuja parcela passou de 4,3% a 8,3%, o mais elevado crescimento relativo do período. Cabe mencionar ainda Avaré, que praticamente dobrou sua representatividade, de 2,6% para 4,9% (tabela 1).
            Por sua vez, Barretos, Limeira e Orlândia tiveram suas participações reduzidas. Mesmo assim, o EDR de Orlândia manteve a liderança ao responder por 14,1% da produção estadual de algodão em 2002-04.
            No que se refere à produtividade da lavoura algodoeira, as mais elevadas têm sido obtidas em Itapeva e em Orlândia. No entanto, em termos de variação percentual, sobressaíram-se aqueles EDRs com produtividade da cultura abaixo da média estadual, como os de Jales, com crescimento de 30,3%; Fernandópolis (22,1%); General Salgado (10,4%); e Presidente Prudente (9%). Somente o de Barretos acusou queda na produtividade (tabela 1 e figura 1).

Figura 1 – Produtividade média de algodão em caroço, por EDR, Estado de São Paulo, médias trienais 1999-01 e 2002-04

                          Fonte: IEA/CATI

            Pode-se inferir, portanto, algumas considerações sobre a evolução recente da cultura do algodão no Estado de São Paulo. Entre 1999-01 e 2002-04, houve expansão em área e em produção nos EDRs tanto com produtividades das lavouras mais elevadas quanto com rendimentos inferiores à média estadual.
            Outro aspecto refere-se ao fato de que EDRs com produtividade da cultura menor que a média estadual – Fernandópolis, General Salgado, Jales e Presidente Prudente - foram os que apresentaram crescimento relativo mais acentuado no rendimento médio da lavoura. O melhor desempenho desse indicador sugere o aperfeiçoamento do sistema de produção, através da adoção tecnológica, por parte dos produtores que permaneceram na atividade.
            As reduções no cultivo ocorreram naqueles EDRs em que a cana-de-açúcar constitui a principal atividade agrícola. A cana-de-açúcar é a atividade que mais cresce em área e suas possibilidades de maior rentabilidade relativa decorrem do aumento das exportações de açúcar e do crescimento do consumo de álcool anidro4. Outro exemplo é a soja, cuja elevada procura, especialmente no mercado internacional, determina a alta liquidez e lucratividade da oleaginosa.
            Simultaneamente, sobressaem-se outras regiões do Estado, como o sudoeste, em função das elevadas produtividades da cultura, e o noroeste, que passou a abrigar a maior parcela da produção. Possivelmente, esse quadro configure a nova fase da produção de algodão em São Paulo, diante dos rearranjos que vêm ocorrendo na agricultura.

1 CARVALHO, L.H.; CHIAVEGATO, E.J. A cultura do algodão no Brasil: fatores que afetam a produtividade. In: CIA, E.; FREIRE, E.C.; SANTOS, W.J. dos (Eds.). Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafos, 1999. p.1-8.

2 BARBOSA, M.Z.; NOGUEIRA JUNIOR, S. Reestruturação da cadeia de produção de têxteis no Brasil e seus reflexos na cotonicultura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 38, Rio de Janeiro, 2000. Anais...CD.

3 Considerou-se a atividade agrícola predominante entre as culturas perenes, semi perenes e anuais, conforme Uso do Solo na Área Rural do Estado de São Paulo em 2001. Disponível em http://www.iea.sp.gov.br/out/isolo.php.

4 VEIGA FILHO, A. Mudanças na composição das atividades agrícolas em São Paulo: Conflito ou Ajuste? Disponível em http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=724.

Data de Publicação: 23/09/2004

Autor(es): Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor