Ano agrícola 2004/05: momento de decisão

            O início do ano agrícola 2004/05 apresenta um cenário totalmente desfavorável aos agricultores. Ao mesmo tempo que todos os produtos estão com tendência de queda de preço, dado o bom desempenho das safras norte-americana e dos países do Hemisfério Norte, verifica-se forte elevação nos preços dos insumos. Além disso, o plano de safra do governo federal manteve os preços mínimos e os limites de crédito de recursos controlados por produtor. Apesar de o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento afirmar que o volume de crédito deve crescer 45,3%, a parcela de recursos com taxa fixa (juros controlados) vai aumentar apenas 7,90%. Assim, crescem os recursos a taxa livre, que estão sendo ofertados aos agricultores a taxas entre 17% ao ano e 27% aa.1
            À medida que os custos de produção se elevam, dada as dificuldades de financiamento, os riscos dos produtores crescem rapidamente. A fim de verificar como tem evoluído o custo de produção, elaborou-se o gráfico abaixo para comparar as relações de troca, definidas como a quantidade de produto para adquirir uma tonelada de fertilizante.

            Assim, a relação de troca das principais culturas a serem plantadas na safra de verão, considerando os preços dos produtos e de fertilizantes em agosto de 2003 e agosto de 2004, é totalmente desfavorável aos agricultores. Para o algodão, em agosto de 2003 eram necessárias 37,7 arrobas por tonelada de fertilizante, mas em agosto de 2004 essa relação evoluiu desfavoravelmente para 46 @/t. Para o arroz, a relação de troca passou de 18,7 sacos de 60 kg por tonelada de fertilizante para 21,6 sc./t. No caso do feijão, ela quase dobrou, de 9,8 sacas de feijão por tonelada de fertilizante para 14,6 sc./t, em agosto de 2004. A relação de troca do milho, que era de 44,3 sacos por tonelada de fertilizante em agosto de 2003, elevou-se para 50,6 sc./t em agosto de 2004. Para a soja, a relação de troca subiu de 27,5 sacos de 60 kg por tonelada de fertilizante, em agosto de 2003, para 31 sc./t em agosto de 2004.
            Além disso, na medida em que se aumentou o custo de produção e se manteve o limite de crédito de recursos controlado por produto e por produtor, a área financiada com esses recursos deverá reduzir-se em até 20%. Isto obrigará os produtores a aumentar o financiamento com recursos próprios e/ou recorrer ao mercado livre, onde os custos dos empréstimos estão acima de 17% ao ano.
            Ao mesmo tempo, os principais cultivos da safra de verão do ano agrícola 2004/05 vêm apresentando preços declinantes em plena entressafra, em função do aumento da oferta internacional, no caso dos produtos exportáveis, e da fraca demanda interna, no caso dos produtos destinados ao mercado interno (feijão e arroz), como pode ser observado nos gráficos abaixo.

 

 

            Este é o cenário no qual os produtores devem tomar suas decisões sobre o que e quanto plantar na nova safra. Vai exigir um bom planejamento, um cuidadoso sistema de gestão de custos, a definição do nível de tecnologia a ser utilizada e especialmente um excelente programa de comercialização da safra futura, pois os riscos se elevaram substancialmente e qualquer falha pode levar a fortes prejuízos no final da safra futura.

1 Plano Agrícola e Pecuário 2004/05 - (http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/MAPA/PLANOS/PAP_2004_2005/PAP_2004_05_WEB.PDF)

Data de Publicação: 05/10/2004

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor