Banana: o mercado paulistano e a sigatoka negra

            A presença da sigatoka negra nos bananais paulistas pode afetar, no futuro próximo, a oferta do produto no Estado de São Paulo, principal produtor brasileiro com cerca de 20% do volume nacional.
            Assim, vamos analisar o comportamento dos preços das bananas nanica, prata e maçã, nos mercados atacadista da Ceagesp1 e do varejo da Cidade de São Paulo, no período de janeiro a setembro de 2004. A finalidade é verificar se, no mercado do produto, os efeitos da doença na oferta se fizeram sentir, tendo em vista a rápida propagação da doença e as restrições na comercialização implementadas pelos estados vizinhos a São Paulo.

Atacado de banana na Ceagesp-SP

            O mercado de atacado da banana na Ceagesp de São Paulo é o principal formador de preços do produto no país. Assim, permite indicar se após o mês de junho de 2004, 21a. semana, quando foi identificada e divulgada a presença da doença nos bananais paulistas, se observaram altas importantes na cotação do produto.

                    Fonte: Dados da CEAGESP elaborados pelo IEA

            Uma análise no gráfico acima indica que, a partir de abril, os preços da banana nanica praticamente não apresentaram flutuações expressivas, com cotações médias da ordem de R$ 0,70/kg do produto no mercado do atacado. No Mesmo período, verificou-se uma queda nos preços da banana prata oriunda de São Paulo e de Minas Gerais, enquanto que, no caso da banana maçã, as quedas de preço foram menos expressivas.
            Ao comparar os preços no atacado da banana nanica com os preços das bananas prata-sp, prata-mg e maçã, verifica-se que, a partir de maio, a proporção de preço da banana nanica em relação aos preços das demais bananas se manteve praticamente estável, com leve queda em relação à prata-sp. Isto indica que, no período de maio a setembro, praticamente não se alteraram os preços relativos entre os diferentes tipos de banana, como pode ser observado no gráfico abaixo:

                      Fonte: IEA.

Banana no varejo paulistano

            O varejo paulistano indica para a banana nanica uma cotação média de R$ 1,79/dúzia, com a redução da flutuação em torno deste preço a partir de maio. Não se observam, assim, altas expressivas a partir de junho quando da divulgação da presença do mal de sigatoka nos bananais paulista. Ao contrário, a partir de agosto, com temperaturas mais elevadas, ocorreu aumento de oferta do produto e uma pequena redução do preço no varejo, que no entanto se recuperou na última semana de setembro. Esse comportamento pode ser observado no gráfico abaixo.

                    Fonte: IEA

            Para a banana prata, observou-se alta expressiva até o final de abril quando se iniciou uma queda de cotação no mercado varejista paulistano. E, a partir de maio, o preço do produto esteve sempre abaixo do preço médio para o período de janeiro a setembro de 2004, de R$ 2,28 / dúzia, como se verifica no gráfico abaixo.

                    Fonte: IEA.

            Para a banana maçã, os preços que vigoraram no período de julho a setembro, quando da disseminação da doença, não indicam nenhuma tendência, como pode ser verificado no gráfico seguinte.

                    Fonte: IEA

            Ao comparar, no varejo, o preço da banana nanica com os da prata e da maçã, torna-se mais evidente uma relação levemente melhor para a banana nanica a partir de junho (22a . semana). Isto se deve a um padrão sazonal de oferta do produto, elevando favoravelmente o seu preço, mas não se caracteriza como um efeito da doença sobre os preços e, por conseqüente, sobre mudanças na oferta do produto e nos preços dos demais tipos de banana.

                        Fonte: IEA

Considerações finais

            A análise efetuada indica que o efeito da sigatoka negra na oferta da banana nanica do Vale do Ribeira (SP), onde a doença se disseminou, ainda não se tem manifestado nos preços do produto e seus substitutos nos mercados atacadista da Ceagesp e do varejo na cidade de São Paulo. Inclusive, observa-se que, com a elevação da temperatura média nos últimos 45 dias, ocorreu um aumento de oferta de todos os tipos de banana, com uma leve redução dos preços no nível dos consumidores.
            A expectativa é de que nos próximos meses, com a primavera e o verão, quando a ação da sigatoka negra encontrar condições mais favoráveis para atuar na região, seja possível verificar os efeitos da doença na oferta da banana nanica e nos preços dos diferentes tipos de banana, especialmente a partir de março de 2005.
            Ë importante destacar que a forma como tem sido divulgado o impacto da doença na produção de banana e nos seus preços está baseada em informação de que o fungo atingiu todos os bananais e está levando as plantas à morte, o que reduziria drasticamente a oferta do produto. Mas essa tese não se confirmou na prática, pois a doença está se instalando.
            Produtores e autoridades governamentais estão atuando no sentido de desenvolver novos processos produtivos de convivência com a doença, indicando que o seu efeito se fará sentir no futuro próximo, mas não no sentido de não se dispor de produção para o mercado consumidor. Os efeitos no preço no varejo vão depender da conjunção de diversas variáveis ao longo do tempo. Assim, qualquer análise precipitada, como a de que os preços do produto vão ter aumento de 70% aos consumidores, é mera especulação sem fundamentos técnicos.

1Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP): www.ceagesp.com.br

Data de Publicação: 15/10/2004

Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
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