Ovos: divergência nas estatísticas de produção brasileira

            Análises mais apuradas do mercado de ovo estão sendo prejudicadas por um desencontro entre as estatísticas de produção, o que impede uma avaliação mais exata da oferta do produto.
            A produção mundial de ovos de galinha foi da ordem de 933 trilhões de unidades, em 2003, segundo estimativa da Organização de Alimentação e Agricultura (FAO).1 A China produziu aproximadamente 40% desse total; a União Européia, 10%; os EUA, 9%; o Japão, a Índia e a Rússia, cerca de 4,0% cada um; e o México e o Brasil, aproximadamente 3% cada um, embora a produção mexicana seja 20% superior à brasileira.
            A FAO estima a produção brasileira de ovos em 26,3 trilhões de unidades em 2003, volume 2% superior ao referente ao ano anterior. Note-se que os dados de produção da FAO incluem a produção não-comercial ou doméstica.
            As principais estatísticas brasileiras sobre a produção de ovos são produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2 e a União Brasileira de Avicultura (UBA)3. Porém, está havendo grande divergência entre os dados sobre a produção brasileira, como se pode ver na tabela 1.

            Os dados do IBGE resultam de levantamento mensal da produção nas granjas com mais de dez mil poedeiras, universo que exclui as granjas muito pequenas e a produção doméstica (não comercial).
            Os dados da UBA, muito usados pelo setor avícola e também por órgãos oficiais, como o Ministério da Agricultura (MAPA)4, são calculados a partir de informações fornecidas pelos seus associados, empresas produtoras de matrizes e pintinhos comerciais de poedeiras. Baseado na totalização destas informações, é definido o número de poedeiras alojadas por mês e estimado o plantel médio de poedeiras, com base no qual é calculada a produção de ovos. Note-se que a produção doméstica também não está incluída no cálculo da UBA.
            Porém, nos últimos anos, os próprios dirigentes de entidades da avicultura e produtores de ovos vinham questionando os dados produzidos pela UBA, que estariam subestimados em função de o modelo de cálculo do plantel de poedeiras e da produção de ovos não considerar a prática generalizada da muda forçada, que prolonga a vida útil das galinhas, e tampouco a evolução da produtividade por poedeira. Levando em conta esses problemas, a UBA fez um ajuste em seus dados em 2003, visando trazer o plantel de poedeiras e a produção recente para valores mais de acordo com a realidade. Essa correção distorceu a série histórica, que mostra aumento de 20% na produção de ovos de 2002 para 2003, que deve ter ocorrido a taxas bem menores, ao longo de diversos anos.
            Assim sendo, a série do IBGE parece mais adequada para analisar a evolução da produção brasileira de ovos nos últimos anos. Segundo os dados do IBGE, de 2002 para 2003 teria ocorrido grande redução na oferta de ovo, o que é compatível com a significativa elevação de preço do ovo verificada nesse período. De 2003 para 2004, segundo projeção realizada usando os dados do IBGE de janeiro a junho (tabela 1), haveria um ligeiro aumento da produção de ovos, compatível com o aumento projetado no alojamento de matrizes e do plantel de poedeiras, calculado com base nos dados divulgados pela UBA até o mês de agosto, que podem ser observados na tabela 2.

 

            Outro problema que afeta a qualidade dos dados de produção de ovo para consumo é o fato de matrizeiros e incubadores, produtores de pintos comerciais de corte ou de postura, desviarem para o mercado consumidor de ovos eventuais excedentes de ovos de matrizes que não são incubados. Em alguns momentos, esses excedentes, que não são contabilizados pelas estatísticas do IBGE ou da UBA, podem representar volumes significativos, pois o plantel médio anual de matrizes de corte é da ordem da metade do plantel médio anual de poedeiras comerciais.

1 FAO: www.fao.org
2 IBGE: www.ibge.gov.br
3 UBA: www.uba.org.br
4 MAPA: www.agricultura.gov.br

Data de Publicação: 26/10/2004

Autor(es): Sônia Santana Martins (soniasm@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor