Máquinas agrícolas: mais potência no campo

            A produção de máquinas agrícolas, de janeiro a outubro de 2004 frente a igual período do ano anterior, apresentou crescimento de 15,1% (+7.542 máquinas no período). Já as vendas para o mercado interno foram incrementadas em apenas 0,7%, ou seja, colocação de apenas 251 máquinas a mais (tabela 1).

Tabela 1 – Produção, vendas e exportação de máquinas agrícolas automotrizes, Brasil, 2002, 2003 e Janeiro a Outubro de 2003 e 2004

1 Emprego refere-se ao mês de outubro
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), http:www.anfavea.com.br

            O elevado patamar de crescimento da produção reflete, fundamentalmente, a demanda externa, uma vez que se observou, no período considerado, uma expansão das exportações de 49,4%, para 25.721 máquinas negociadas com clientes internacionais (Argentina, Paraguai e os EUA, principalmente). Esse volume de embarques conferiu ao segmento industrial uma receita cambial de US$ 1,426 bilhão, posicionando-se dentro daqueles que mais contribuem na geração de saldo no comércio internacional do Brasil. Diante desse desempenho, pode-se imaginar um cenário em que as exportações ultrapassarão as vendas para o mercado interno, consolidando a posição do País e, conseqüentemente, de suas montadoras como uma plataforma mundial no suprimento de máquinas agrícolas.
            Outro componente digno de nota foi o incremento do emprego formal registrado no segmento. Frente à posição de 31/12/2003, houve a abertura de 1.987 vagas (+17%). Em muitas montadoras, o terceiro turno de trabalho já é uma rotina e somente por meio da realização de novas inversões produtivas poderá ser ampliada a capacidade instalada capaz de fazer frente à demanda por máquinas agrícolas.
            As vendas de tratores de rodas para o mercado interno foram 2% menores em janeiro-outubro, comparadas com as de igual período de 2003, mesmo com a ampliação de 12,7% na produção do principal produto das montadoras brasileiras. Dentre as razões para a diminuição das vendas,devem ser considerados os atrasos e as mudanças nas regras do Moderfrota e o cenário pouco favorável para o mercado de commodities que se vislumbra para a safra 2004/05. Felizmente, a exportação de tratores continua atendendo a um número crescente de clientes, tendo embarcado no período mais de 19,5 mil máquinas (aumento de 46,8%).
            A ligeira queda nas vendas de tratores foi compensada pela elevação da potência das máquinas comercializadas (figura 1). Essa hipótese já vinha sendo observada desde 2003, quando as vendas de máquinas de maior faixa de CV quase rivalizavam, em termos de negócios efetuados, com aquelas de menor faixa de CV, invertendo-se essa relação a partir desse ano. O aumento da potência das máquinas permite uma ampliação das tarefas executadas com melhor desempenho operacional em nível de campo. Portanto, a queda nas vendas no mercado interno não deve ser interpretada como sinal de princípio de estagnação dos agronegócios.
            No caso das colhedoras de cereais, houve expansão tanto da produção quanto das vendas para o mercado interno, com respectivamente 19,3% e 13,4%. As demais máquinas, como cultivadores mecânicos, tratores de esteiras e retroescavadeiras, constituem produtos pouco expressivos na pauta de negócios das montadoras. A partir do próximo ano, as expectativas quanto à retomada dos projetos de investimento na infra-estrutura, notadamente a partir da institucionalização das parcerias público-privadas (PPP’s), podem impulsionar as transações dessas máquinas.

Figura 1 - Vendas internas de máquinas agrícolas, por potência, Brasil, 2001, 2002, 2003 e Janeiro a Setembro de 2004

 
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA)

            O Estado de São Paulo permanece como o principal mercado para máquinas agrícolas, seguido do Paraná e do Rio Grande do Sul. No caso paulista, o segmento sucroalcooleiro é o responsável pela liderança do Estado na demanda por máquinas, especialmente de tratores de rodas. Os inúmeros projetos de novas usinas, planejados para serem implantados até 2007, e a natural renovação do parque das atuais usinas deverão manter São Paulo como o principal mercado para máquinas agrícolas no Brasil (figura 2).
            O ano de 2004 deve encerrar com vendas para o mercado interno de aproximadamente 38,5 mil máquinas, o que representará elevação de pouco mais de 1% frente ao ano anterior. Todavia, para 2005, o cenário poderá ser algo mais adverso pela conjunção de três dinâmicas distintas. A primeira delas diz respeito à renda dos produtores agrícolas. Após três safras acumulando expressivos ganhos por parte dos produtores rurais, estima-se que em 2004/05 não deverá haver repetição dos bons resultados anteriores. Essa projeção já se faz refletir sobre o mercado de máquinas agrícolas e de implementos. Quanto ao primeiro segmento, a simples manutenção do atual patamar de vendas para a próxima safra poderá ser considerado um bom desempenho. Para o segundo, a paralisação das vendas prenuncia onda de demissões nessa indústria.

Figura 2 - Vendas internas de máquinas agrícolas, por Estado, Brasil, 2003

 
Fonte: ANUÁRIO (2005)1

            Para a safra 2004/05, os técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)2 prevêem operar dentro do chamado novo Moderfrota. Ou seja, a partir dessa temporada, o antigo programa, já absorvido pelo Finame-especial, exige que o agente financeiro aderente recolha taxa de 4% ao BNDES para cobertura de eventuais perdas do banco na equalização do financiamento sem repasse desse custo para o preço das máquinas financiadas por meio do programa3. Com essa medida, minimiza-se o risco de desembolso suplementar do Tesouro na operacionalização desse crédito especial. Entretanto, caso seja mantida a atual política macroeconômica de elevação da taxa de juros básica da economia (SELIC), pode haver novas pressões por alterações nas taxas do programa que tem por limite 12,75% fixos ao ano.
            Em adição ao rol de dificuldades listadas, as cotações dos insumos estratégicos utilizados pelas montadoras (aço, metais/ligas e pneumáticos) continuam em alta, pressionando os custos e, conseqüentemente, os preços finais dos tratores e das colhedoras. Algumas aciarias vêm, inclusive, recusando novos pedidos por absoluta incapacidade de oferta, fato que legitima a construção de cenário em que se mantenha a pressão altista sobre as cotações ao longo do próximo ano.

1 ANUÁRIO da Indústria Automobilística Brasileira 2004. São Paulo, ANFAVEA, 2005. 162p.

2 BNDES: http://bndes.gov.br

3 Safra de Negócios. São Paulo, Jornal Valor Econômico, Caderno F, 3 de setembro de 2004

Data de Publicação: 24/11/2004

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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