Regionalização da Produção de Algodão no Mundo e no Estado de São Paulo


 

A oferta mundial de algodão em pluma na safra 2021/22 totalizou 44,48 milhões de toneladas, com diminuição de 2,3% em comparação à da temporada anterior em decorrência da redução no estoque inicial, uma vez que a produção foi crescente ao alcançar 25,30 milhões de toneladas. Nessa temporada o consumo mundial da fibra apresentou redução de 1,5%, variação mais branda que a verificada na oferta, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)2 (Tabela 1).

Para a temporada que ora inicia 2022/23 as previsões do USDA indicam oferta global de 44,43 milhões de toneladas, praticamente o mesmo volume que o verificado na safra anterior. Esse comportamento resulta da redução de 4,6% no estoque inicial que será de 18,29 milhões de toneladas, parcialmente compensado pelo aumento de 3,3% na produção que deverá ser de 26,14 milhões de toneladas (Tabela 1). 

Do lado da demanda é esperado que o consumo mundial de algodão em 2022/23 seja de 26,11 milhões de toneladas, patamar pouco superior ao da safra passada de 26,08 milhões de toneladas. Por sua vez, as exportações devem crescer 5,6% e alcançar 10,10 milhões de toneladas, quantidade ainda aquém da transacionada na temporada 2020/21 (Tabela 1).

Na análise territorial observa-se que, entre os países principais produtores, a China, a Índia e os Estados Unidos deverão apresentar diminuições nos volumes ofertados de, respectivamente, 2,1%, 2,6% e 8,4%. O Brasil é a exceção em face do aumento de 8,2% previsto para a oferta da fibra resultante dos crescimentos no estoque inicial, bem como na produção de algodão em 2022/23.

 

 

Com referência às transações comerciais os Estados Unidos, maiores exportadores, deverão reduzir em 4,9% suas vendas que totalizarão 3,05 milhões de toneladas em 2022/23. O mesmo comportamento é esperado para a Índia com diminuição de 6,9% em suas exportações (Tabela 1).

Dentre os demais países principais exportadores merece destaque a Austrália, que deve ampliar suas vendas em 50,5% na safra vindoura em comparação ao volume transacionado na temporada passada.

O Brasil ocupa a segunda colocação no ranking exportador e em 2022/23 deve destinar ao mercado externo 2,03 milhões de toneladas de algodão, quantidade superior em 18,0% comparativamente à verificada na safra anterior (Tabela 1). No transcorrer do primeiro semestre de 2022 as exportações brasileiras de algodão totalizaram US$1,72 bilhão dos quais 89% corresponderam às aquisições do Vietnã, China, Turquia, Bangladesh, Paquistão e Indonésia. Ressalta-se que o principal destino da fibra brasileira é o continente asiático3, 4.

Com relação aos países maiores consumidores destaca-se a China, onde o consumo deve apresentar crescimento moderado de 1,3% em comparação ao da temporada anterior. A quantidade de algodão a ser consumida no mercado chinês na safra 2022/23 ainda deverá permanecer abaixo da verificada em 2020/21. Índia, Paquistão e Bangladesh também integram o rol dos principais consumidores, o que torna o continente asiático o principal demandante da fibra.

Para 2022/23 a expectativa é de que o estoque final de algodão no mundo totalize 18,35 milhões de toneladas, patamar praticamente inalterado comparativamente ao da temporada passada e inferior em relação ao nível de 2020/21. Na China o estoque final deve ser de 8,13 milhões de toneladas, com pouca variação em comparação a safra precedente, mas ainda abaixo do volume registrado em 2020/21. Por sua vez, o Brasil detém a segunda maior quantidade de algodão em estoque com 2,80 milhões de toneladas, resultante do contínuo crescimento desse item nos três últimos anos (Tabela 1).  

No estado de São Paulo, na safra 2021/22, a produção de algodão em pluma foi de 13,4 mil toneladas, com participação de 0,5% no total nacional estimado em 2.815,4 mil toneladas. Ressalta-se que a cotonicultura paulista apresentou expansão em área de 71,3%, o que configura a variação mais acentuada no plantio da fibra em todo território nacional, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)5.

O cultivo do algodão em território paulista apresentou oscilações nas três últimas safras marcadas pela forte retração de 52,4% na área plantada em 2020/21, seguida pela expansão de 68,7% em 2021/22, quando a área alcançou 9.786 hectares. Por sua vez, na atual temporada 2021/22 a produção paulista de algodão em caroço deve alcançar 29.465 toneladas, quantidade 86,0% maior que a obtida na safra passada (Tabela 2).

A expansão do plantio no estado de São Paulo foi impulsionada pela elevação do nível de preços internos da fibra durante o ano de 2021 comparativamente ao da safra anterior, conforme demostrado pelo Indicador CEPEA/ESALQ6 (Figura 1).



 

Destaca-se ainda o comportamento altista dos preços praticados no primeiro semestre de 2022, ocasião da colheita do algodão paulista. A oscilação verificada em junho deste ano é justificada pela entrada no mercado do algodão proveniente do Centro-Oeste brasileiro (Figura 1). 

No estado de São Paulo a cotonicultura tem apresentado concentração regional nos últimos anos, comportamento que tem sido acentuado mais recentemente7, 8. O número de Cati Regionais que cultivam algodão passou de 13 em 2019/20 para 7 na safra 2021/22 (Tabela 2).

Na safra 2019/20 compunham o rol de produtores de algodão as seguintes Cati Regionais, em ordem decrescente de produção: Avaré, Votuporanga, Itapeva, Presidente Prudente, Limeira, Itapetininga, Presidente Venceslau, Dracena, Fernandópolis, General Salgado, Tupã, Barretos e Jaú. Na safra seguinte houve redução para nove Cati Regionais, com a saída do cultivo da fibra de Barretos, General Salgado, Itapetininga e Tupã. Em 2021/22 as Cati Regionais de Dracena, Jaú e Presidente Venceslau deixaram de plantar algodão.

 


 

Atualmente a produção da fibra paulista está situada em seis Cati Regionais, a saber: Avaré, Votuporanga, Itapeva, Presidente Prudente, Limeira, Fernandópolis e Araçatuba (esta última passa a integrar as áreas produtoras no estado de São Paulo). Cabe ressaltar que as cinco Cati Regionais principais produtores mantêm a mesma ordem no ranking regional de produção no período. Destaca-se que as Cati Regionais de Limeira e Presidente Prudente apresentaram cultivo crescente ao longo de todo período analisado (Tabela 2).

As expectativas para 2022/23 na esfera global é de estabilidade nas atuais condições do mercado traduzidas pela similaridade entre as variações da oferta e do consumo da fibra, inclusive pela constância do patamar do estoque final da safra. Para as cotoniculturas brasileira e paulista a sustentação dos atuais níveis dos preços aliada a demanda internacional e a taxa cambial em relação ao dólar constituem indicadores favoráveis à atividade na temporada vindoura.  

 

1As autoras agradecem a colaboração do Pesquisador Científico José Alberto Ângelo.

 

2UNITED STATES OF AGRICULTURE. Cotton: World Markets and Trade. July 2022. Disponível em: https://apps.fas.
usda.gov/psdonline/circulars/cotton.pdf. Acesso em: 19 jul. 2022.

 

3MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Secretaria de Comércio Exterior. Sistema ComexStat - Exportação e Importação Geral . Brasília: ME: SECEX, 2022.  Disponível em:  http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral/62729. Acesso em: 21 jul. 2022.

 

4Refere-se ao valor das exportações brasileiras de algodão não cardado nem penteado, simplesmente debulhado, conforme COMEX STAT (2022), segundo a classificação dos grupos de produtos dos agronegócios do MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agrostat. Brasília: MAPA, 2022. Disponível em: http://sistemasweb.agricultura.gov.br/pages/AGROSTAT.html. Acesso em: jul. 2022.

 

5CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Grãos Safra 2021/22 – 10° Levantamento. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos/item/download/43194_bea46a8fb6e3f2c69f2a85ab930fae1b. Acesso em: 23 maio 2022. 

 

6UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) -ESALQ-CEPEA. Indicador de Algodão em pluma CEPEA/ESALQ. Piracicaba, jul.2022. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/indicador/algodao.aspx. Acesso em: 12 jul. 2022.

 

7CAMARGO, F. P. et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do estado de São Paulo, intenção de plantio do ano agrícola 2021/22 e levantamento final ano agrícola 2020/21, setembro de 2021. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 12, p. 1-11, dez. 2021. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-49-2021.pdf. Acesso em: 19 jul. 2022.

 

8CAMARGO, F. P. de et al. Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas do Estado de São Paulo, Ano Agrícola 2021/22, Abril de 2022. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 17, n. 6, jun. 2022, p. 1-16. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-34-2022.pdf. Acesso em: 19 jul. 2022. 

 

Palavras-chave: algodão, produção, mundo, estado de São Paulo.

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

ZEFERINO, M; RAMOS, S. de F. Regionalização da Produção de Algodão no Mundo e no Estado de São Paulo. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 17, n. 8, p. 1-7, ago. 2022. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 09/08/2022

Autor(es): Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Soraia de Fátima Ramos (sframos@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor