Café: escassez impulsiona recuperação dos preços

            O mercado de café em novembro apresentou expressiva alta nas cotações em todos os mercados, em função do esperado aumento da demanda no hemisfério norte quando se inicia o inverno; da menor oferta da América Central; do atraso da colheita colombiana e da menor disponibilidade de arábica de qualidade da última safra brasileira.
            O arábica (Contrato C, segunda posição), na Bolsa de Nova Iorque, apresentou alta de 10,84% na cotação média do mês, em relação à média de outubro, enquanto no mercado de robusta o aumento foi de 5,77% na Bolsa de Londres. Na BM&F, o café arábica teve alta de 11,38%, influenciada também pela valorização de 4,49% do real no mês. Ao considerar o indicador OIC-Composto diário, observou-se acréscimo de 10,63% em relação à média de outubro devido à elevação do arábica. No gráfico abaixo, é possível verificar o comportamento das cotações nos últimos 35 meses (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros e do OIC-Composto diário, 2002 a 2004

                Fonte: Gazeta Mercantil

            Entre as taxas apresentadas, percebe-se que a exibida pela BM&F esteve mais pressionada do que a da Bolsa de Nova Iorque. A valorização cambial explica parcialmente esse fato. Entretanto, a menor disponibilidade de café para a exportação fez com os produtores reduzissem o fluxo do produto, com o objetivo de alcançar melhor remuneração mais adiante). Em outubro, o diferencial entre o preço do arábica na BM&F e o Contrato C de Nova Iorque foi de US$ 15,13 por saca, cerca de 7,4% a mais do que o observado no mês de outubro.
            A evolução dos preços do café nos diferentes mercados até novembro, cotados em dólar por saca, indica que a variação do arábica segunda posição, em 2004 na BM&F, foi de 43,32% e a variação acumulada, nos últimos 12 meses, foi de 47,85%. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C segunda posição, cresceram 36,41% em 2004 e 41,27% no acumulado de 12 meses, enquanto os preços do robusta, no mercado de Londres segunda posição, apresentaram variação acumulada negativa, tanto no ano (9,66%) quanto nos últimos 12 meses (4,64%). O crescimento acumulado da estimativa do OIC-Composto foi de 28,81% em 2004 e de 35,85% em doze meses, fortemente influenciado pela elevação dos preços do arábica. Essas melhores cotações indicam que é possível que o produto se encontre em novo ciclo de alta.
            As cotações dos cafés arábicas, contrato C, para março, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram forte alta ao longo do mês, cerca de 10,75% maior do que a cotação média de outubro (gráfico 2).

Gráfico 2 - Cotações diárias em novembro de 2004, na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, Segunda Posição (Março de 2005)

                    Fonte: Gazeta Mercantil

            O cafeicultor paulista também foi favorecido pelas altas observadas no mercado internacional. O preço médio de novembro aumentou 4,76% em relação ao preço médio observado em outubro. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para alta acumulada em novembro de 36,39%, em relação ao mesmo mês de 2003, e de 44,68% no ano de 2004 (gráfico 3).

Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2001-04

                    Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Trajetória das exportações de café

            Ao analisar as exportações de café verde no período 1999 a 2004 (até outubro), evidenciam-se duas tendências distintas. A partir de 2003 e 2004, começa a se esboçar um discreto crescimento das receitas cambiais, com redução da quantidade exportada, enquanto entre 1999 e 2002 o fenômeno prevalecente era de queda no valor recebido, inclusive com ampliação dos volumes embarcados, mais notadamente no ano de 2002 (tabela 1).

Tabela 1 – Valor e volume das exportações brasileiras de café, todos os tipos, 1999 a outubro de 2004

Item
Café Verde
Café T&M
Café Solúvel
Valor 
(US$-FOB)
Volume
(em sc.)
Valor 
(US$-FOB)
Volume
(em kg)
Valor
(US$-FOB)
Volume
(em t)
1999
2.230.843.696
21.196.199 
2.153.995
627.223
230.877.562
51.643
2000
1.559.342.577
16.113.834 
3.183.255
1.151.995
221.614.402
53.518
2001
1.207.735.204
20.874.022 
4.809.823
3.538.424
173.902.584
53.729
2002
1.195.531.237
25.856.834 
5.871.456
5.152.190
183.396.252
63.881
2003
1.302.746.034
22.819.317 
12.854.351
5.468.790
230.805.055
70.191
2004
1.365.082.181
18.809.711 
6.847.402
2.201.857
248.976.407
66.583
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC) – Sistema Alice 1

            Informações do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE)2 indicam que as exportações de café verde devem encerrar 2004 com volume de cerca de 22 milhões de sacas, representando faturamento em torno de US$ 2 bilhões, valor esse próximo daquele apurado em 1999.
            No caso do café solúvel, desde 2001, constata-se aumento dos embarques do produto, embora as receitas somente tenham passado a crescer a partir do ano seguinte. Possivelmente, sejam vendidos para o exterior cerca de 75 mil toneladas de solúvel, com receitas cambiais atingindo os US$ 300 milhões.
            Por fim, as exportações de café torrado e moído, que vinham numa trajetória ascendente, sofrem em 2004 forte queda, sobretudo no saldo cambial das operações. Com esses resultados, o empenho da indústria de torrefação em ampliar os negócios com o exterior terá de ser revisado, com o objetivo de construir uma base de transações sustentável a longo prazo para o sucesso da estratégia.

1 MDIC-Sistema Alice: www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br
2 CECAFE: www.com.br

Data de Publicação: 06/12/2004

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor