O valor das exportações de mel brasileiro em 2004 ultrapassou os 42,3 milhões de dólares, aproximando ainda mais o país dos líderes do mercado mundial1. O país surgiu em 2002 como o nono maior exportador e, em 2003, ocupou o sétimo lugar, ultrapassando países como Espanha, Turquia, Chile, Romênia,Vietnã, Austrália e Uruguai 2. 
            Em 2003, a China foi o maior produtor mundial de mel (275,9 mil toneladas), seguida de Estados Unidos (82,1 mil toneladas), Argentina (75,0 mil toneladas) e Turquia (75,0 mil toneladas). Os Estados Unidos, que ocupavam o segundo lugar na produção, foram também o segundo maior importador mundial. A vizinha Argentina foi o terceiro produtor e o maior 
exportador de mel do mundo (tabela 1). 
            Nas estatísticas de produção da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), o Brasil ainda aparece em décimo-quinto lugar (com 24 mil toneladas). Mas os números definitivos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)3 apontam para mais de 30 mil 
toneladas, o que promove o país para décimo-primeiro produtor mundial. 
            
Em termos agregados, a produção mundial de mel aumentou 4,6%, enquanto as 
exportações aumentaram 35,6% e as importações, 38,8%, de 2002 a 2003, sugerindo 
que o aquecimento do mercado externo levou vários países produtores a 
sacrificarem seu consumo interno. Normalmente, as estatísticas de produção são 
menos precisas do que as de comércio internacional, que passam por controle 
alfandegário. 
            
No caso específico do mel, os dados de produção são mais difíceis ainda de serem 
coletados. Assim, é provável que, a exemplo do Brasil, vários países ainda não 
tenham computado todo o impacto das exportações em suas produções de mel. 
 
Tabela 1: Principais países produtores, exportadores e 
importadores de mel, 2003.  
        | Produção | toneladas | Exportações | US$1000 | Importações | US$1000 | 
      | China | 275.935 | Argentina | 159.894 | Alemanha | 240.851 | 
      | Estados       Unidos | 82.144 | China | 106.001 | Estados       Unidos | 219.496 | 
      | Argentina | 75.000 | Alemanha | 79.291 | Reino       Unido | 64.229 | 
      | Turquia | 75.000 | México | 67.947 | Japão | 62.014 | 
      | México | 55.840 | Hungria | 52.040 | França | 49.532 | 
      | Ucrânia | 53.550 | Canadá | 47.253 | Italia | 42.382 | 
      | Índia | 52.000 | Brasil | 45.545 | Arábia       Saudita | 28.344 | 
      | Rússia | 50.000 | Espanha | 38.385 | Espanha | 27.269 | 
      | Espanha | 35.074 | Turquia | 36.421 | Austrália | 24.988 | 
      | Canadá | 33.566 | Chile | 33.186 | Holanda | 22.794 | 
      | Etiópia | 29.000 | Romênia | 25.943 | Suiça | 21.950 | 
      | Iran | 29.000 | Uruguai | 23.701 | Bélgica | 20.997 | 
      | Tanzânia | 26.500 | Vietnan | 18.917 | Canadá | 18.135 | 
      | Coréia | 25.500 | Austrália | 18.078 | Dinamarca | 15.185 | 
      | Brasil | 24.000 | Nova       Zelândia | 15.694 | Áustria | 13.793 | 
      | Alemanha | 23.691 | Bulgária | 15.670 | Suécia | 9.602 | 
      | Sub-total | 945.800 | Sub-total | 783.966 | Sub-total | 881.561 | 
      | Outros | 370.440 | Outros | 161.589 | Outros | 94.859 | 
  
    | Total | 1.316.240 | Total | 945.555 | Total | 976.420 | 
Fonte: Elaborada pelos autores com dados básicos da FAO/ONU. 
            Em 
2004, a Alemanha manteve o papel de principal importador do mel brasileiro, 
perdido, em 2002, para os Estados Unidos e recuperado em 2003. O valor de 22,59 
milhões de dólares das aquisições germânicas foi 9,0% menor que o valor 
registrado em 2003, que havia sido dez vezes superior ao de 2001 (tabela 2). 
            
A disputa internacional pelo produto brasileiro elevou seu preço, de US$ 1,13/kg 
em 2001 para US$ 2,36/kg em 2003, mas com o reequilíbrio do mercado, em 2004, o 
preço médio recebido pelos exportadores brasileiros foi reduzido em 14,7% (para 
US$ 2,02/kg). Como resultado, as exportações totais do mel brasileiro cresceram 
9,1% na quantidade, mas caíram 7,0% no valor, em 2004, comparado com 2003. 
            
Levando-se em conta a desvalorização do dólar americano, os exportadores 
brasileiros tiveram uma receita ainda menor, em reais. Reino Unido, Bélgica e 
Espanha incrementaram fortemente suas compras, contribuindo para diversificação 
da pauta e reduzindo a importância do mercado americano, cujos preços pagos 
foram 26,8% menores, tornando mais atraente a exportação para os países 
europeus. 
Tabela 2: Exportações brasileiras de mel, por país, 2001 a 
2004. 
  
  
    | País | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | Variação 
    2004-03 | 
  
    | Quantidade em toneladas | % | 
  
    | Alemanha | 2.106,83 | 5.391,36 | 10.563,34 | 10.745,81 | 1,7 | 
  
    | Reino Unido | 0,00 | 702,81 | 1.163,13 | 3.772,80 | 224,4 | 
  
    | Estados Unidos | 292,63 | 6.139,39 | 6.777,44 | 3.774,60 | -44,3 | 
  
    | Espanha | 41,02 | 102,60 | 221,56 | 1.206,04 | 444,3 | 
  
    | Bélgica | 0,00 | 223,91 | 237,78 | 463,87 | 95,1 | 
  
    | Outros | 48,19 | 80,43 | 309,90 | 1.065,36 | 243,8 | 
  
    | Total | 2.488,67 | 12.640,49 | 19.273,15 | 21.028,47 | 9,1 | 
  
    | País | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | Variação 
      2004-03 % | 
  
    | Valor em 
      US$ 1000 | 
  
    | Alemanha | 2.342,99 | 9.036,02 | 24.882,93 | 22.585,02 | -9,2 | 
  
    | Reino Unido | 0,00 | 1.051,56 | 2.679,48 | 7.660,19 | 185,9 | 
  
    | Estados Unidos | 329,07 | 12.417,86 | 16.129,74 | 6.576,00 | -59,2 | 
  
    | Espanha | 52,83 | 117,32 | 492,07 | 2.575,53 | 423,4 | 
  
    | Bélgica | 0,00 | 375,98 | 579,73 | 968,60 | 67,1 | 
  
    | Outros | 84,47 | 142,48 | 781,16 | 2.009,04 | 157,2 | 
  
    | Total | 2.809,35 | 23.141,22 | 45.545,10 | 42.374,38 | -7,0 | 
  
    | País | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | Variação 
      2004-03 % | 
  
    | Preço em 
      US$/t | 
  
    | Alemanha | 1,11 | 1,68 | 2,36 | 2,10 | -10,8 | 
  
    | Reino Unido | ----- | 1,50 | 2,30 | 2,03 | -11,9 | 
  
    | Estados Unidos | 1,12 | 2,02 | 2,38 | 1,74 | -26,8 | 
  
    | Espanha | 1,29 | 1,14 | 2,22 | 2,14 | -3,8 | 
  
    | Bélgica | ----- | 1,68 | 2,44 | 2,09 | -14,4 | 
  
    | Outros | 1,75 | 1,77 | 2,52 | 1,89 | -25,2 | 
  
    | Total | 1,13 | 1,83 | 2,36 | 2,02 | -14,7 | 
Fonte: Elaborada pelos autores com dados básicos da SECEX 
            O 
estado de São Paulo continuou sendo o principal responsável pelo mel exportado 
pelo Brasil, em 2004, quando o valor do produto expedido por firmas paulistas 
expandiu-se em 15,1%, enquanto o total brasileiro caiu 7,0%. Com isso, as 
empresas paulistas, que foram as primeiras a reunir grandes quantidades de mel 
para enviar ao exterior, mantiveram a hegemonia e recuperaram parte da 
importância relativa perdida em 2003, devido ao grande incremento nas 
exportações dos outros estados (tabela 3). 
            
Santa Catarina, Ceará e Paraná apresentaram certa estabilidade nas quantidades 
exportadas e tiveram reduções nos valores em função da redução dos preços. O Rio 
Grande do Sul, responsável por mais de 20% da produção brasileira de mel, que 
não vinha participando das exportações, talvez tendo seu produto escoado por 
outros estados, começou a assumir papel importante neste comércio em 2004. 
            
Em contraposição, a ascensão (2003) e queda (2004) das exportações originadas no 
Piauí parecem indicar que firmas ali sediadas reuniam e exportavam mel de outros 
estados. Este estado, ao lado do Ceará, apresentou redução de preços acima da 
média, talvez indicando a maior proporção de compradores americanos, que 
passaram a se abastecer de mel da China. 
Tabela 3: Exportações brasileiras de mel, por estado, 2001 a 
2004. 
  
  
    | Estado | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | Variação 
      2004-03 %
 | 
  
    | Quantidade em 
  toneladas | 
  
    | São Paulo | 197,36 | 5.387,04 | 6.336,67 | 8.554,44 | 35,0 | 
  
    | Santa Catarina | 1.814,50 | 2.717,84 | 4.036,39 | 4.183,15 | 3,6 | 
  
    | Ceará | 244,48 | 1.965,62 | 2.342,32 | 2.385,46 | 1,8 | 
  
    | Paraná | 122,90 | 848,66 | 1.911,61 | 1.735,04 | -9,2 | 
  
    | Rio Grande do Sul | 0,00 | 77,09 | 555,09 | 1.691,23 | 204,7 | 
  
    | Piauí | 0,00 | 741,30 | 3.009,84 | 1.747,59 | -41,9 | 
  
    | Minas Gerais | 41,71 | 902,17 | 814,03 | 287,60 | -64,7 | 
  
    | Outros | 67,73 | 77,85 | 267,19 | 443,96 | 66,2 | 
  
    | Total | 2.488,67 | 12.640,49 | 19.273,15 | 21.028,47 | 9,1 | 
  
    | Estado | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | Variação 
      2004-03 %
 | 
  
    | Valor em 
      US$ 1000 | 
  
    | São Paulo | 249,63 | 10.348,74 | 14.988,16 | 17.245,16 | 15,1 | 
  
    | Santa Catarina | 2.042,32 | 4.634,32 | 9.511,19 | 8.518,24 | -10,4 | 
  
    | Ceará | 236,89 | 3.461,95 | 5.642,28 | 4.523,83 | -19,8 | 
  
    | Paraná | 146,53 | 1.682,30 | 4.590,20 | 3.896,01 | -15,1 | 
  
    | Rio Grande do Sul | 0,00 | 164,91 | 1.281,69 | 3.340,39 | 160,6 | 
  
    | Piaui | 0,00 | 1.278,35 | 6.996,02 | 3.325,36 | -52,5 | 
  
    | Minas Gerais | 50,23 | 1.568,41 | 1.899,83 | 621,36 | -67,3 | 
  
    | Outros | 83,76 | 167,16 | 635,73 | 904,05 | 42,2 | 
  
    | Total | 2.809,35 | 23.141,22 | 45.545,10 | 42.374,38 | -7,0 | 
  
    | Descrição do 
    País | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | Variação 
      2004-03 %
 | 
  
    | Preço em 
      US$/t | 
  
    | São Paulo | 1,26 | 1,92 | 2,37 | 2,02 | -14,8 | 
  
    | Santa Catarina | 1,13 | 1,71 | 2,36 | 2,04 | -13,6 | 
  
    | Ceará | 0,97 | 1,76 | 2,41 | 1,90 | -21,3 | 
  
    | Paraná | 1,19 | 1,98 | 2,40 | 2,25 | -6,5 | 
  
    | Rio Grande do Sul | --- | 2,14 | 2,31 | 1,98 | -14,5 | 
  
    | Piauí | --- | 1,72 | 2,32 | 1,90 | -18,1 | 
  
    | Minas Gerais | 1,20 | 1,74 | 2,33 | 2,16 | -7,4 | 
  
    | Outros | 1,24 | 2,15 | 2,38 | 2,04 | -14,4 | 
  
    | Total | 1,13 | 1,83 | 2,36 | 2,02 | -14,7 | 
Fonte: Elaborada pelos autores com dados básicos da SECEX 
            No 
primeiro bimestre de 2005, o preço do mel exportado apresentou forte queda, para 
US$ 1.429 a tonelada, comparado a US$ 2.386/t em 2004 e US$ 2.283/t em 2003, de 
acordo com a SECEX/MDIC. Para Constantino Zara Filho, presidente da Associação 
Paulista de Apicultores (APACAME)4, esta situação 
é reflexo, principalmente, da volta da China ao mercado e de um mercado 
relativamente abastecido. A China voltou a exportar mel a US$ 1.100 a tonelada, 
a partir de agosto do ano passado. Além disso, as informações são de que o 
mercado esteja abastecido, a julgar pela recusa dos europeus em comprar mel 
escuro no final do ano passado. Por sua vez, o produtor brasileiro está vendendo 
mel entre R$ 70 e R$ 75 a lata de 25 kg, bem abaixo dos R$ 110 a R$ 120 do ano 
passado. No entanto, o cenário só deve ficar mais claro após o inverno no 
Hemisfério Norte, quando os europeus, principalmente, voltarem com mais ímpeto 
ao mercado. 
            
Segundo Joail Humberto Abreu, presidente da Confederação Brasileira de 
Apicultura (CBA)5, a queda dos preços reflete um 
'ajuste' em curso. O Brasil chegou a triplicar a produção por causa do mercado 
favorável, em virtude da grande procura por parte de europeus e norte-americanos 
com a saída da China do mercado nos últimos dois anos. Muita gente entrou no 
ramo em busca dos grandes retornos que estavam sendo proporcionados pelas 
exportações. Agora, a situação é de mercado internacional mais competitivo, 
preços mais baixos e fraca demanda interna. Com o retorno da China ao mercado 
internacional, os preços recuaram e parte das vendas brasileiras foram 
substituídas, obrigando parte dos produtores a redirecionar vendas para o 
mercado interno. 
Produção brasileira 
            De 
2000 a 2003, a produção brasileira de mel natural aumentou 37,3%, segundo o 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)4 que ainda não divulgou os dados de 2004. Este 
crescimento representa a média da grande expansão da atividade no Nordeste 
(+112,6%), que evoluiu de uma participação de 17,1% do total nacional para 
26,5%, e das menores expansões sulina (+21,2%), o que reduziu sua participação 
de 57,9% para 51,15%, e do Sudeste (+18,2%), que reduziu sua participação de 
20,6% em 2000 para 17,8% em 2003 (tabela 4). 
Tabela 4: Produção de mel natural, Brasil, estados e 
regiões, 2000 a 2003, em ton. 
  
  
    | Brasil e 
      estados | Ano | Variação 
      2003/2000 | 
  
    | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 | % | Ton | 
  
    | Brasil | 21.865,1 | 22.219,7 | 24.028,7 | 30.022,4 | 37,3 | 8.157,3 | 
  
    | Rondônia | 164,6 | 174,9 | 192,4 | 194,1 | 17,9 | 29,4 | 
  
    | Acre | 1,8 | 3,3 | 3,3 | 4,5 | 149,1 | 2,7 | 
  
    | Amazonas | 0,5 | 0,5 | 0,6 | 1,0 | 104,4 | 0,5 | 
  
    | Roraima | 4,7 | 4,7 | 12,5 | 70,0 | 1.383,1 | 65,3 | 
  
    | Pará | 83,4 | 78,3 | 91,6 | 149,4 | 79,2 | 66,0 | 
  
    | Amapá | - | - | - | - | - | - | 
  
    | Tocantins | 46,7 | 55,8 | 70,7 | <DIV ali | 
                  
                                    
                
              
              
               Data de Publicação:
                12/04/2005              
              
                Autor(es): 
                Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor
Benedito Barbosa de Freitas (bfreitas@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor