Avicultura De Postura Contribui Para A Estabilidade De Preços

            Segundo as estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil é atualmente o oitavo produtor mundial de ovos, muito embora seu consumo per capita/ano, estimado em 90 e 93 ovos em 2000 e 2001, respectivamente, seja muito inferior ao observado em Taiwan, no Japão e no México, onde ultrapassa 300 unidades per capita/ano, e abaixo também do verificado na China, França, Estados Unidos, Hong Kong, Alemanha e Espanha, onde ultrapassa 200 ovos per capita/ano.
            A produção brasileira de ovos, segundo a União Brasileira de Avicultura (UBA), atingiu seu recorde em 1996, quando ultrapassou 15,9 bilhões de unidades. Esse nível de oferta, alto em relação à demanda, acarretou forte crise no setor e a produção caiu para aproximadamente 12,6 bilhões de unidades em 1997. Nos anos seguintes, a produção veio se recuperando lentamente, tendo atingido 13,6 bilhões de unidades em 1998 e aproximadamente 14,8 bilhões em 1999 e 2000, devendo chegar a 15,1 bilhões de unidades em 2001, volume ainda inferior ao obtido cinco anos atrás. Essa produção destina-se quase que exclusivamente ao mercado interno, continuando a predominar a comercialização do ovo na forma in natura.
            O Estado de São Paulo, maior produtor do país, aumentou sua fatia para 42% da oferta total em 1997 e, a partir daí, vem mantendo essa participação, muito embora o número de granjas, especialmente das pequenas granjas, venha se reduzindo.
            Os últimos meses de 1999 e o ano 2000 foram especialmente difíceis para a produção de ovos, devido principalmente à alta acentuada do preço do milho, uma vez que a produção brasileira do cereal na safra 1999/2000 ficou muito ajustada à demanda. O preço médio anual da saca de milho em 2000 foi quase 30% superior ao verificado no ano anterior. Esta foi a principal causa de o preço de venda do ovo mal ter coberto o custo de produção divulgado pela Associação de Produtores de Ovos do Estado de São Paulo (APOESP), como se pode ver no Quadro 1 abaixo.

            Com o início da safra de milho em 2001, o preço do milho caiu bastante, propiciando algum lucro ao produtor de ovos. Porém, neste segundo semestre a situação piorou. Basta ver que entre março e setembro o custo da ração aumentou 30%, enquanto o preço do ovo na granja caiu de R$20/21 para R$19/20. A elevação do custo da ração decorreu da grande desvalorização da moeda nacional, que está influenciando o preço do farelo de soja, que subiu de R$360,00 a tonelada em março de 2001 para R$505,00/t no final de setembro. Decorreu também do preço da tonelada de milho, que aumentou de R$123,00 para R$183,00 no período, devido ao enxugamento da oferta propiciado pela expansão da avicultura de corte, pela liberação de empréstimos governamentais para a armazenagem e também pelas exportações do cereal, que se tornaram muito interessantes com a desvalorização da moeda nacional. Note-se que esta desvalorização encarece também outros insumos importados, como os ovos férteis que produzem as avós e a metionina e a colina que entram, em pequenas quantidades, na formulação das rações.
            Os produtores de ovos já estão reduzindo seus planteis de poedeiras, estratégia que vem sendo adotada sempre que os custos de produção excedem os preços. A demanda por ovos parece não estar crescendo o suficiente para dar sustentação a níveis de produção mais altos, embora o consumo nacional seja relativamente baixo, como já foi comentado.
            No Quadro 2, estão alguns dados ilustrativos da situação da produção e do comércio de ovos em São Paulo. Entre 1998 e 2000, a evolução do preço do ovo ao produtor foi de 16% enquanto a inflação medida pelo IGP-DI foi de 27%. Chama atenção também o fato de o preço de varejo ter evoluído menos do que o preço ao produtor e muito menos do que o preço de atacado e o índice de inflação, mostrando que a ponta final do comércio está se constituindo numa barreira à alta dos preços.

Quadro2 - Preços e relações de preço relevantes na avicultura de postura
  médias anuais médias do primeiro semestre
Preços 1998(a) 1999 2000(b) ((b/a)-1)% 1998(c) 1999 2000 2001(d) ((d/c)-1)%
Ovo produtor * 18,53 19,26 21,54 16% 19,24 18,86 20,87 24,1 25%
Ovo atacado** 20,89 23,01 26,85 29% 21,4 22,4 26,76 28,27 32%
Ovo varejo*** 39,3 44,4 44,1 12% 39,9 49,2 43,2 49,2 23%
Relações de preço com insumos
Ovo produtor /milho 135,15 120,00 101,00 -25% 139,38 133,73 96,84  170,41 22%
Ovo produtor /farelo de soja 41,51 44,78 43,24 4% 41,59 47,1 42,12  45,15 9%
Ovo produtor / pinto um dia 26,65 25,62 26,72 0% 27,88  25,17  25,04  28,30 2%
Relações entre preços de ovo
Atacado/produtor 1,13 1,19 1,25 11% 1,11 1,19 1,28 1,17 5%
Varejo / atacado 1,89 1,97 1,65 -13% 1,87  2,24  1,62  1,75 -6%

Fonte: elaborado a partir de dados do IEA.
Obs: *ovo branco extra em caixa de 30 dúzias, posto na granja.
       **ovo branco extra em caixa de 30 dúzias, na cidade de São Paulo.
       *** 30 dúzias de ovo, preço médio encontrado no varejo da cidade de São Paulo.


            Em termos dos insumos básicos que constituem a maior parte do custo de produção do ovo, nota-se que, de 1998 a 2000, ocorreu grande redução no seu poder de compra em relação ao milho, cujo suprimento tem sido um dos maiores problemas da avicultura. As oscilações do poder de compra do ovo em relação ao farelo de soja e ao pintinho foram pequenas e positivas nesse período.
            Quando se analisam as relações entre os preços do ovo vigentes nos vários níveis de mercado, neste curto período, observa-se que a margem do atacado aumentou, enquanto a do varejo diminuiu. O aumento de preço verificado no atacado pode estar relacionado ao grande aumento do custo de transporte, que é bancado pelo atacado, pois estamos trabalhando com preço ao produtor do ovo posto na granja e demais preços na cidade de São Paulo. Esse aumento da margem do atacado indica tambem o poder deste sub-setor dentro da cadeia produtiva. Finalmente, a redução na margem de varejo provavelmente tem a ver com a constatação de que preços ligeiramente maiores reduzem bastante o volume de vendas e, também, com a concentração crescente do mercado varejista, que favorece maiores economias de escala. 


Data de Publicação: 04/10/2001

Autor(es): Sônia Santana Martins (soniasm@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor