Potencialidades E Alternativas De Produção Para O Desenvolvimento Da Agricultura Familiar Do Sudoeste Paulista

            Atividades agropecuárias são atreladas às vocações de clima, solo e hidrografia locais, relevantes para a obtenção de bons níveis de produtividade e qualidade dos produtos, mas há que se considerar outras variáveis: estrutura agrária, condições sociais, localização geográfica de mercados, disponibilidade de fatores de produção, como determinantes para resultados técnico-econômicos adequados ao desenvolvimento regional.
            A região sudoeste paulista, uma das grandes produtoras de alimentos básicos, é um exemplo a mostrar que nem só a vocação agrícola é suficiente para a sustentabilidade do negócio, a qualquer categoria de produtor e tamanho de estabelecimento. O cultivo do feijão, principal produto regional, apesar de permitir duas safras, tem excluído muitos dos pequenos produtores familiares do bom desempenho econômico que vem obtendo nos últimos anos. Isto porque são incapazes de incorporar tecnologias já disponíveis ao cultivo, apresentando níveis insatisfatórios de produtividade. Tal situação tem levado esses produtores tradicionais à descapitalização, expulsando-os de suas unidades produtivas, até mesmo do setor rural, o que eleva ainda mais o número de desempregados urbanos.
            Características regionais apontam para outros tipos de cultivo, que não necessariamente produtos da alimentação como feijão, milho, bovinos de leite e corte, que devem permanecer, sim, como opções de exploração, mas somente àqueles produtores que possuem escala e condições de adoção tecnológica compatíveis com o mercado competitivo desses produtos.
            A fruticultura e a criação de pequenos animais - caprinos, ovinos e suínos - têm sido apontadas pela pesquisa e pelos agentes do agronegócio local como boas alternativas, principalmente para a pequena produção, sendo que algumas dessas explorações como uva, pêssego, laranja e suínos já se encontram instaladas e concorrem com a área dos produtos tradicionais e de reflorestamento regional.
            Com a globalização econômica, a sustentabilidade do negócio agrícola de qualquer categoria de produtor passa pelo acesso e permanência em mercados dinâmicos - que são competitivos e por conta disso se encontram em constantes mudanças. Para que produtores familiares tenham condições de ocupar espaço nesses mercados é preciso que diferenciem seus produtos, seja incorporando-lhes algum atributo de qualidade que os tornem mais atrativos, seja buscando mercados que agreguem valor, através do processamento e/ou industrialização ou, ainda, participando do mercado fora dos picos de oferta de seus concorrentes, aproveitando vantagens locacionais. Essas estratégias, inclusive, podem ser combinadas para compor um novo perfil produtivo do sudoeste paulista, sendo que a última mencionada deve ser considerada especialmente quando se objetiva aproveitar as potencialidades locais, incrementando a fruticultura de mesa para a região.
            Todavia, há muito que se fazer para realinhar e combinar atividades tradicionais com as novas alternativas regionais, no sentido de melhor ajustar a produção à sua realidade, ou seja, levando em conta o conjunto de suas peculiaridades sócio-econômicas em que prevalecem as pequenas propriedades, mão-de-obra abundante, localização privilegiada em relação aos grandes mercados consumidores de produtos frescos, além das condições edafoclimáticas favoráveis.
            As instituições estaduais de pesquisas têm ofertado tecnologia para as principais atividades agropecuárias, mas ainda há grande demanda em termos de pesquisas tecnológicas para a produção e comercialização de novos produtos, de adaptação regional e de difusão de conhecimentos técnicos aos produtores. Existe também necessidade de implementação de políticas públicas para todo o segmento e de outras especiais de financiamento para a fruticultura e estruturação do rebanho de pequenos animais, que exigem investimentos iniciais de grande porte.
            Nesse novo enfoque em que se discute o planejamento regional, os produtores e demais agentes envolvidos com as cadeias produtivas da agropecuária têm de ser ouvidos pela pesquisa e instituições governamentais. Estudos dos Institutos de Pesquisa da APTA/SAA que vêm sendo realizados na região dão conta de que parte dos representantes do setor já se conscientizou da necessidade de mudanças, que proporcionem alternativas diversificadas mais adequadas à região como um todo, vislumbrando a manutenção do produtor na atividade agrícola e a geração de renda e emprego.

Data de Publicação: 04/10/2002

Autor(es): Nilda Tereza Cardoso De Mello (nilmello@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Elizabeth Alves e Nogueira (enogueira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor