Estimativa De Tamanho Mínimo De Área Para Introdução Do Plantio Direto

            A área sob plantio direto no mundo é de 58 milhões de hectares, sendo que os EUA participam com 34% (19,75 milhões de ha) e o Brasil com 23% (13,47 milhões de ha), ocupando o primeiro e o segundo lugares, respectivamente1 .
            Do total no Brasil, por volta de 4 milhões localizam-se no Paraná, ocupando o primeiro lugar, com 31% 2. Já para São Paulo as informações indicam existência de 550 mil ha, significando 35% da área total de grãos do estado, os quais se acrescidos das áreas de pastagem e de cana-de-açúcar sob plantio direto deve aumentar, no máximo, em 100 mil ha3 . Em relação à área agrícola ocupada, em torno de 18 milhões de ha, sua representatividade é de apenas 4%.
            Políticas públicas recentes do governo estadual tem estimulado seu aumento através do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, que orienta sua adoção, e pelo incentivo do FEAP, que financia a compra de semeadoras de plantio direto4.
            Com o intuito de colaborar para a difusão dessa prática benéfica de manejo do solo, o objetivo deste artigo é o de fazer uma avaliação econômica da introdução do sistema de plantio direto na produção de grãos, feito através de um estudo de caso, com informações coletadas em uma propriedade rural da região de Ourinhos/SP, na qual esta técnica já é tradicionalmente adotada. Sua escolha se deve à condição de representar um padrão referencial tecnológico e gerencial em plantio direto.

Método do orçamento parcial e ponto de equilíbrio

            Utiliza-se do método do orçamento parcial por ser um instrumento do planejamento agrícola que possibilita elaborar estimativas de despesas e receitas para examinar alterações marginais que não alteram a estrutura existente. Em seguida calcula-se o ponto de equilíbrio, que é o valor da variável de decisão que resulta em benefícios líquidos iguais para a alteração pretendida e a opção em uso5.

O modelo de sucessão adotado

            O modelo de sucessão das atividades leva em conta as características de intensificar o uso do solo, aumentar a matéria orgânica e reduzir a erosão. O ciclo produtivo inicia-se no verão com o plantio do milho, sequenciado pela aveia, no inverno, que será incorporada como matéria orgânica. No ano seguinte planta-se a soja e depois o girassol para indústria. As culturas escolhidas são aquelas tradicionalmente exploradas na região, como o milho e a soja, sendo a aveia e o girassol consideradas como opções para representar as atividades de inverno do modelo.

Os resultados

            O orçamento parcial foi elaborado com base nos fluxos dos benefícios do plantio direto, que são as despesas evitadas com o plantio convencional da exploração do milho no primeiro ano, seguido pela soja no segundo ano – sob a hipótese plausível de que o solo tem capacidade de suporte para apenas uma cultura anual nesse tipo de manejo, sem prejudicá-lo drasticamente – acrescidas das receitas líquidas proporcionadas pelas atividades sugeridas para o modelo de sucessão. Esses benefícios adicionais são comparados aos custos adicionais, compostos pelo fluxo dos custos fixos da plantadora de milho/soja de plantio direto, além de outros custos fixos adicionais, por fim acrescidos dos custos variáveis das culturas do modelo6.
            Todos os fluxos são transformados em valores presentes, descontados a uma taxa que corresponde a um determinado custo de oportunidade do capital empregado (8,75% a.a.), no caso equivalente à taxa oficial de juros do crédito rural.
            Ao comparar-se o valor presente da tabela 1 (R$2.068,74) com a soma dos valores presentes da tabela 2 e 3 (R$5.436,47 + R$1.517,60), calculados para um hectare, verifica-se que o valor presente dos benefícios adicionais do plantio direto é menor que o valor presente dos custos adicionais, o que leva à indagação de qual será o tamanho de área cultivada em que é vantajoso adotar esse sistema de manejo de solo.
            Assim, para se conhecer o módulo mínimo de área, a partir do qual abaixo dele haverá prejuízo em fazer a alteração no sistema de plantio e acima dele haverá benefícios líquidos positivos, calcula-se o chamado ponto de equilíbrio, determinando-se as seguintes equações dos benefícios e dos custos7, genericamente:

Bpd/pc = BF + bx

Cpd/pc = CF + cx

onde: Bpd/pt = benefício líquido adicional do plantio direto em relação ao plantio convencional; BF = benefícios adicionais fixos resultantes da mudança para o plantio direto, que no caso não existem; b = benefício unitário adicional, estimado como as despesas evitadas do plantio convencional (milho, ano1 e soja, ano2) , acrescidas da renda gerada pelas atividades do modelo de sucessão (milho e aveia palhada, ano1 mais soja e girassol, ano2); Cpd/pc = custos adicionais da alternativa do plantio direto, subdividido em CF, representando os custos fixos (gastos com depreciação, seguro, juros sobre capital investido nos equipamentos: semeadora-adubadora de plantio direto + plataforma de soja + rolo faca da aveia palhada + adaptação da colhedora para girassol), e em c, representando os custos variáveis adicionais das atividades do modelo de sucessão; e x = variável de decisão, área em hectares.
            Igualando-se Bpd/pc = Cpd/pc e substituindo pelos valores constantes nas tabelas a solução resulta no valor de 9,86 ha. Abaixo dessa área cultivada a receita será menor que os custos e acima dela haverá lucro (Figura 1). Ressalte-se que o valor do ponto de equilíbrio é bastante influenciado pelos preços recebidos pelos produtos e também pela produtividade. Mudanças acentuadas em preços poderão alterar substancialmente o ponto de equilíbrio, aumentando-o ou diminuindo-o. Além disso, deve-se entender que ele também se modifica em função das variáveis que estão (um pouco mais) sob o controle do produtor e que determinam a produtividade da cultura, tal como o manejo da atividade, supondo condições normais de clima.

.. Figura 1

            Assim, esse valor mínimo de área serve mais como padrão de comparação do que de determinação, sendo que pode se alterar tanto em função de variáveis externas ao produtor quanto em função de variáveis internas da produção. Entretanto, é esperado que havendo manutenção da paridade relativa dos preços da colhedora, dos produtos agrícolas e dos insumos utilizados, o tamanho mínimo da área para plantio direto fique em torno de 10 hectares.
            É esperado que no início da adoção dessa prática o tamanho mínimo seja maior que o valor atual estimado, em razão de se estar em fase de adaptação e aprendizado, sendo normal que, depois, convirja para o valor estimado conforme haja maior domínio da técnica, melhoria das condições ambientais e consequente aumento na produtividade.

Tabela 1. Fluxo das despesas evitadas e das novas receitas

despesas evitadas
 
ano 1
ano 2
milho  soja 
custo total /ha 663,43 435,60
fluxo descontado (1) 663,43 400,55
aumento de receitas
 
milho 
aveia palhada
soja 
girassol 
prod/kg/ha
5.940
1.500
2.700
2.350
preço/kg
0,1583
0,2320
0,3167
0,3000
custo total /ha
631,43
348,01
387,80
415,78
receita
308,87
0,0000(1)
467,29
289,22
fluxo descontado (2)
308,87
0,0000
429,69
265,95
valor presente das despesas evitadas + receitas novas
2.068,74
Fonte: dados da pesquisa.
(1) por ser incorporada ao solo considera-se, para efeito de cálculo, que os benefícios são iguais aos custos.
(2) taxa de desconto de 8,75% a.a.

Tabela 2. Fluxo dos custos fixos adicionais

 
ano1
ano2
 
milho 
aveia palhada
soja 
girassol 
custo fixo/ha
3.848,00
730,00
600,00
333,59
fluxo descontado (1)
3.848,00
730,00
551,72
306,75
valor presente dos custos fixos adicionais 5.436,47
Fonte: dados da pesquisa.
(1) por ser incorporada ao solo considera-se que os benefícios igualam-se aos custos.
(2) taxa de desconto de 8,75% a.a.

Tabela 3. Fluxo das despesas variáveis

 
ano1
ano2
milho 
aveia palhada
soja 
girassol 
custo variável/ha
563,31
319,38
329,85
360,62
fluxo descontado (1)
563,31
319,38
303,31
331,60
valor presente das despesas variáveis adicionais 1.517,60 
Fonte: dados da pesquisa.
(1) taxa de desconto de 8,75% a.a.
 
 
1 DERPSCH, R. Expansão mundial do plantio direto. Plantio Direto, no.59, set/out., 2000. 
2 COMO LER a revista Plantio Direto. Editorial, Plantio Direto, no. 63, maio/junho de 2001.
3 De acordo com informações de técnicos especialistas no assunto. 
4 O apoio do FEAP teve início em agosto de 1998 e o Programa de Microbacias Hidrográficas foi assinado com o Banco Mundial em 2000.
5 NORONHA, J.F.  Projetos Agropecuários: administração financeira, orçamentação e avaliação econômica, Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, 274p, 1976. 
6 HOFFMANN, R. et al.   Administração da Empresa Agrícola.  Livraria Pioneira editora, 323p, 1976.
7 Ver em Noronha (1976:66-68).


        

/ftpiea/pol-tamt0402.zip 

 

Data de Publicação: 22/04/2002

Autor(es): Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
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