Commodities: mantida em outubro a tendência de alta

            Os mercados internacionais de commodities apresentaram tendência de alta generalizada em outubro à medida que os preços do petróleo entraram em declínio. Somente as cotações do milho tiveram variação negativa.
            Assim, das nove commodities internacionais analisadas neste artigo, oito tiveram aumento de preço nos mercados de futuros, das quais cinco com grande importância nos volumes negociados nas bolsas apresentaram elevações expressivas (açúcar, algodão, café arábica, borracha natural e especialmente suco de laranja). A alta do suco de laranja congelado e concentrado no mês foi de 12,95% na bolsa de Nova York, em virtude da ampliação dos prejuízos dos furacões nos laranjais da Flórida.
            Por sua vez, o boi gordo, mesmo com a ocorrência de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, manteve a tendência de alta observada no mês anterior, tanto em dólar quanto em real por arroba, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A sinalização de que a oferta no final da entressafra do produto está muito restrita deverá dar sustentação ao preço nos próximos meses.
            Já no acumulado de 2005, a evolução das cotações das commodities indica alta, com exceção do boi, em real, que apresenta queda devido à forte valorização do real. Porém, no acumulado de 12 meses, apenas o milho e o boi gordo cotado em real apresentaram queda nos preços, enquanto as demais commodities tiveram crescimento.
            A tabela 1 mostra os resultados da análise das cotações das principais commodities agrícolas. Tem como base as cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em outubro e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços médios mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, outubro de 2005 e acumulado em 12 meses
(em percentagem)

Commodities
Mercado
Outubro de 2005
Acumulado 
2005
Acumulado 
12 meses
Açúcar
NY
6,93
28,41
27,62
Algodão
NY
8,31
28,38
19,19
Café arábica
NY
8,40
1,46
30,30
Café robusta
Lo
3,64
23,64
54,98
Suco Laranja CC
NY
12,95
29,65
29,44
Soja grão
CHT
0,03
8,64
10,20
Milho 
CHT
-0,93
2,88
-0,24
Trigo
CHT
4,27
14,09
7,81
Borracha SM20
Malásia
4,18
37,33
32,10
Boi
BM&F
9,90
12,59
16,06
Boi – em reais
BM&F
8,18
-6,67
-8,21
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            O avanço na colheita norte-americana de grãos e os bons rendimentos médios que vêm sendo obtidos, elevando a safra americana, influenciaram e reforçaram a tendência de alta nas cotações da soja e do trigo. Em contraposição, levaram à queda nos preços do milho no mercado de Chicago em outubro, como já havia acontecido em setembro, indicando poucas surpresas.
            O preço médio da soja, no mercado de Chicago, cresceu 0,03% em relação à média de setembro, com baixa volatilidade. O fato mais relevante foi a confirmação da safra americana de 82,8 milhões de toneladas, muito superior ao previsto, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1. No acumulado do ano, a alta chegou a 8,64% e em doze meses, a 10,20%.
            No caso do milho, o comportamento em Chicago foi de queda nas cotações com a elevação das estimativas da produção americana para o ano agrícola 2005/06. No mês de outubro, a cotação média caiu 0,93%, mas no ano subiu 2,88% e em doze meses caiu 0,24%. Com o aumento da oferta, a queda somente não foi maior devido ao aumento da demanda para a produção de etanol. Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
 

            Quanto ao trigo, a demanda asiática e a menor oferta canadense ajudaram a sustentar as cotações, com alta no mês de 4,18% em relação à média de setembro. No ano, o aumento atingiu 37,33% e no acumulado de doze meses, 32,10%. Com os problemas de qualidade da safra na Europa, de seca na Austrália e de terremotos no Paquistão e na Índia, a oferta mundial deverá ter redução de 2,4% e os estoques, de 6,4%, o que deverá dar sustentação à tendência de alta do produto, de acordo com o USDA.
            Para o algodão, na bolsa de Nova York, as expressivas exportações norte-americanas e a ação dos fundos sustentaram a alta das cotações, que cresceram 8,31% em relação à média de setembro, indicando elevação de 28,38% no ano e de 19,19% em doze meses (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
 

            Entre as commodities negociadas na Bolsa de Nova York, tem-se ainda o café arábica, o suco de laranja e o açúcar. O suco de laranja chegou a alcançar em outubro a maior cotação desde 1998, com alta de 12,95% em relação à média de setembro, devido às perdas da safra da Flórida, da ordem de 25 milhões de caixas, provocadas pelos furacões. Em 2005, a alta acumulada atingiu 29,65% e em doze meses foi de 29,445%. Essas perdas vão diminuir a oferta americana e pressionar o mercado internacional, com efeitos diretos nas exportações brasileiras.
            Para o café arábica, verificou-se mudança da tendência, com alta de 8,40% em relação à média de setembro. O mercado de café está indicando uma demanda mundial superior à oferta, o que dá sustentação às cotações, mesmo com as especulações sobre a safra futura do Brasil. Além disso, há uma demanda firme com a chegada do inverno no Hemisfério Norte e a quebra de safra dos produtores da América Central e do Caribe, devido aos furacões que têm atingido as regiões cafeeiras. No ano, as cotações do café arábica cresceram 1,46% e no acumulado de doze meses, 30,30%.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            O açúcar manteve firme tendência de alta em outubro, com 6,93% em relação ao valor médio do mês anterior, devido à demanda maior que a oferta, além da pressão pela demanda de álcool por parte do Brasil. Assim, com a alta de outubro, o preço médio do açúcar teve crescimento de 28,41% no ano e de 27,62%, nos últimos 12 meses.
            O café robusta na Bolsa de Londres reverteu a tendência de queda apresentada nos meses anteriores e teve alta de 3,64% em relação à média do mês de setembro. Com isso, a cotação do produto atingiu alta de 23,64% em 2005 e de 54,98% nos últimos doze meses, posicionando-se no ranking dos maiores ganhos no período (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A cotação média da borracha natural obteve alta de 4,18% em outubro em relação à média de setembro. No ano, cresceu 37,33%, constituindo-se na maior alta em 2005, fortemente influenciada pela elevação na cotação do petróleo e pelo crescimento da demanda chinesa, americana e japonesa. No acumulado de doze meses, a alta atingiu 32,10%.
            Este desempenho vai contribuir para o maior aumento no preço recebido pelos heveicultores paulistas no mês de dezembro, mesmo com a valorização do real. As cotações da borracha natural nos últimos 12 meses, no mercado da Malásia, podem ser observadas no gráfico seguinte:

            O mercado de futuros do boi gordo na BM&F apresentou-se em alta em outubro, com elevada volatilidade devido à ocorrência da febre aftosa em regiões do Mato Grosso do Sul, onde se localiza o maior rebanho bovino do país, e à suspeição da mesma ocorrência nos estados do Paraná e de São Paulo, que não se confirmaram.
            O aumento de 9,90%, segunda posição, em dólar, em relação à média de setembro está associado à baixa disponibilidade de boi gordo nos últimos meses da entressafra, além da dificuldade de se contar com a disponibilidade do Mato Grosso do Sul devido à aftosa. Porém, em reais, a alta na cotação média em outubro foi menor (8,18%), de acordo com a BM&F. No acumulado de 12 meses, as cotações em dólar subiram 12,59%, mas caíram 6,67% em reais, mostrando o efeito da desvalorização da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo.
            O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:

            Pelas análises realizadas, verifica-se melhora nas condições de mercado para a quase totalidade das commodities agrícolas no mês de outubro, com menor intensidade no caso da soja, o carro-chefe das exportações do agronegócio brasileiro. Isto ocorre no momento em que os agricultores de grãos e fibras estão em pleno plantio da safra do ano agrícola 2005/06 (casos de milho, soja e algodão).
            As estimativas preliminares da intenção de plantio da safra de verão 2005/06, divulgadas pela Companhia Brasileira de Abastecimento (CONAB)2, indicam redução de 5,7% na área plantada, a primeira queda nos últimos seis anos, com perda expressiva nas áreas de algodão (-34,9%), arroz (-15%) e soja (-7,8%). Essas reduções podem ser compensadas pelos ganhos de rendimento e, com isso, a produção de grãos poderá atingir 120 milhões de toneladas numa hipótese otimista, pois se espera a não-ocorrência de estiagem severa, como as ocorridas no início de 2005.
            Assim, além das dificuldades intrínsecas ao setor, as altas taxas de juros, as restrições na oferta de crédito a taxas de juros fixas, a contínua valorização do real e o baixo uso de insumos deverão levar o agronegócio brasileiro a uma situação de profunda incerteza no ano de 2006.3

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1 USDA: www.usda.gov
2 CONAB: www.conab.org.br
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-108/2005

Data de Publicação: 17/11/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor