Ovinos e caprinos avançam em São Paulo

            A criação de ovinos e caprinos vem se destacando a cada dia e já se tornou mais uma alternativa para o produtor rural. A produção mundial de carne de caprinos e ovinos de 2003 a 2005 cresceu 6,5%, significando o maior avanço relativo dentre os principais tipos de carne, embora ainda represente apenas 5% do volume total.
            De modo geral, também tem havido crescimento da exploração desses animais nas diversas regiões do Brasil e com isso está se transformando o cenário dos sistemas produtivos. Ao longo das últimas décadas, a ovinocaprinocultura sofreu transformações radicais nos diversos elos de sua cadeia produtiva, em decorrência da notória expansão dos mercados interno e externo.
            Em 2005, a composição do rebanho brasileiro conjunto de ovinos (68%) e caprinos (32%) está estimada em 25,8 milhões de cabeças, de acordo com dados do Instituto FNP1. Do efetivo nacional de caprinos, 93% estão na região Nordeste, 2,4% no Sudeste, 1,9% no Sul, 1,4% no Norte e 1% no Centro-Oeste.
            Com relação ao rebanho ovino, 49% encontram-se na região Nordeste, 40% no Sul, 4,9% no Centro-Oeste, 2,8% no Norte e 2,8% no Sudeste. A região Nordeste tem ainda a maior concentração desses animais, porém com predominância de criações extensivas, utilizadas para subsistência da população rural.
            O cenário, no entanto, está mudando. Tradicionalmente explorados de forma extensiva e em propriedades de pequeno e médio porte, os caprinos e ovinos têm aumentado substancialmente seu contingente populacional em moldes empresariais e aprimorado a sua qualidade genética. A melhoria da gestão das unidades produtivas, com o crescente uso de inseminação artificial, o cruzamento de raças, a adaptabilidade às condições edafoclimáticas locais e o controle da produção com a programação das parições, já é uma realidade.
            A demanda brasileira pela carne em cortes padronizados, leite e queijos de cabras vem apresentando considerável crescimento nas áreas com população de maior poder aquisitivo, que busca novidades e preciosidades nos restaurantes, churrascarias e hotéis finos do país, metade deles localizados em São Paulo. A provável maior oferta poderá ampliar o consumo para outras camadas da população. O consumo médio no Nordeste do País é de 2,8 kg/hab/ano, enquanto que a média brasileira é de cerca de 1kg/hab/ano.
            A importação conjunta de carne ovina e caprina por parte do Brasil passou de 2,3 mil toneladas em 1992 para 2,5 mil toneladas em 2002. Já em 2005, 3,6 mil toneladas foram adquiridas do Uruguai (principal fornecedor)2, da Argentina e da Nova Zelândia. A exportação brasileira, por sua vez, é ainda insignificante.
            Embora o consumo de carne desses animais ainda seja um pequeno nicho, a população começa a ter conhecimento de suas qualidades, que atendem aos modernos padrões dietéticos de consumo (tabela 1).

Tabela 1 - Composição de tipos de carne
(100 gramas de carne assada)

Origem  Calorias Gordura
(g)
Gordura Saturada (g) Proteína
(g)
Ferro
(g)
Caprino 131 2,76 0,85 25 3,54
Ovino adulto 252 17,14 7,82 24 1,5
Ovino precoce 163 9,5 - 19 -
Bovino 263 17,14 7,29 25 3,11
Suíno 332 25,72 9,32 24 2,9
Frango 129 3,75 1,07 24 1,61
Avestruz (85g) 97 1,70 49(mg) 21,2 -
Peru (85g) 135 3,00 59(mg) 27 -
Fonte: Dairy Goat Journal (1996); Nutritive value of foods-USDA; Canadian ostrich management export team.

            Além da carne com cortes especiais, a produção de itens com maior valor agregado já está sendo disponibilizada no mercado, na forma de hambúrguer, lingüiça, bolinhos, snack, carpaccio e tartar.
            Do mesmo modo, o leite (de cabra) tem qualidades nutritivas e terapêuticas na alimentação humana. Sua composição básica é similar à do leite de vaca, com algumas diferenças nas formas e concentrações de nutrientes (tabela 2).

Tabela 2 - Composição química de tipos de leite

Origem do leite Extrato seco
total %
Gordura
%
Proteína
%
Lactose
%
Cinza
%
Cabra 12,4 3,7 3,3 4,7 0,7
Vaca 12,7 3,9 3,3 4,8 0,7
Búfala 23,2 12,5 6,0 3,8 0,9
Ovelha 18,4 6,5 6,3 4,8 0,8
Fonte: http://criareplantar.com.br

            A exploração de caprinos para leite está voltada também para o mercado de iogurtes e outros derivados lácteos, sobretudo para pessoas alérgicas ao leite de vaca. Além disso, queijos finos (mais de 300 tipos podem ser confeccionados) constituem um nicho com grande potencial de exploração.
            A exemplo dos outros estados da região Sudeste do Brasil, em São Paulo a caprinocultura leiteira está em evolução para aumento da escala e abastecimento do mercado local 3.
            Também a ovinocaprinocultura de corte avança, com iniciativas de empresários. É o caso do Projeto Cordeiro Brasileiro na região de Presidente Prudente que envolve 62 municípios, incluindo um frigorífico com capacidade para abater até 400 animais por dia, uma central de produção e um centro de treinamento para os integrados4.
            Ademais, no intuito de alavancar as atividades no Estado de São Paulo, a ASPACO (Associação Paulista de Criadores de Ovinos)5, em parceria com o Sistema FAESP-SENAR-AR/SP, desenvolveu um Programa de Capacitação para os interessados. Por sua vez, a CAPRIPAULO (Associação Paulista dos Criadores de Caprinos)6 atua como facilitadora entre criadores e organismos de fomento e financiamento, estimulando e apoiando as iniciativas empresariais. O apoio oficial se faz presente com a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA)7, que vem realizando cursos e encontros para promover melhoramento nos sistemas de criação e melhorar a sanidade do rebanho desses pequenos ruminantes.
            As atividades contam ainda com programas de apoio financeiro, casos do PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar) e do FEAP/BANAGRO (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista) do Governo do Estado de São Paulo.
            O interesse dos mercados externos por carne, lã, leite e pele abre espaço para a atividade ovinocaprina. A pele tem sido considerada o mais lucrativo dos componentes da cadeia produtiva, sendo apresentada em várias versões: chamois (ovina), napa, pelica e camurça (caprinas), para a produção de calçados e roupas. A indústria de artefatos de couro encontra-se mais disseminada nas regiões Sul e Nordeste do País 8.
            Em 2004, a produção nacional de peles de caprinos e de ovinos foi de 5.106 toneladas e de 18.500 toneladas, respectivamente. Nesse período, foram exportadas9 para a União Européia 300 toneladas de peles de ovinos, representando US$ 3,6 milhões ao preço médio de US$ 13,61 por m2, e 250 t de pele de caprino, contabilizando US$ 524 mil, a um preço médio de US$ 6,25 por m2.
            A criação de ovinos e caprinos e o processamento do leite, carne e pele são opções rentáveis para pequenos, médios e grandes produtores, oferecendo esses produtos no mercado brasileiro e internacional, no momento em que a atividade passa por uma fase de forte incremento nas regiões brasileiras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, crescendo a taxas médias anuais de 7% e 4%,
            Embora os ovinos estejam presentes nos 492 municípios do Estado de São Paulo, com rebanhos variando de 10 a 12.000 animais, o plantel concentra-se nos Escritórios de Desenvolvimento Regional (EDRs) de Marília, Araçatuba, São José do Rio Preto, Botucatu e Andradina. Para caprinos, os EDRs mais representativos estão localizados à Sudoeste/Sul do Estado – Sorocaba, Itapetininga, Itapeva e Ourinhos, seguidos de Bragança Paulista; também presentes em todos os municípios paulistas, com rebanhos de 3 a 13.000 cabeças 10.
            O Estado de São Paulo conta com fatores propícios para a consolidação da ovinocaprinocultura: boas condições ecológicas; produção constante de alimentos para uso animal; tradição e aptidão na bovinocultura de leite e corte, permitindo a criação consorciada de espécie; interesse dos produtores familiares e empresários; articulação de instituições públicas e privadas; e linhas de crédito específicas para o setor.
            Aliam-se a isso as características das espécies ovina e caprina (docilidade, porte pequeno e relativa rusticidade) que permitem a sua exploração utilizando mão-de-obra familiar e instalações simples e de baixo custo 11.
            A atividade pode adotar a integração como sistema de produção que é um processo de parceria entre produtores e indústrias, o qual eleva o padrão de eficiência e qualidade da atividade, a exemplo do que ocorre tradicionalmente, com suínos e aves. Também vem ganhando espaço a exploração em sistema de confinamento 12, que possibilita um melhor sanitário e nutricional.
            Conta ainda com mercados consumidores próximos, facilidades de escoamento, abatedouros-frigoríficos voltados para abate e cortes de pequenos animais e usinas para a pasteurização do leite e produção de derivados.
            A ovinocaprinocultura, no momento, é considerada uma das mais promissoras atividades pecuárias. 13

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1 ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira – 2005. São Paulo: Instituto FNP, p.249-251, 2005.
2 Ovinocultura: rumo ao Sul. Globo Rural, v. 21, n. 241, p: 30-35, nov., 2005.
3 Melo, Beth. Mercado está favorável à caprinocultura. Suplemento Agrícola, São Paulo: OESP, p: G6-G7, 14/05/2003.
4 Projeto Cordeiro Brasileiro: www.cordeirobrasileiro.com.br
5 ASPACO: www.aspaco.org.br
6 CAPRIPAULO: www.capripaulo.com.br
7 APTA: www.apta.sp.gov.br
8 SILVA, Roberis R. O agronegócio brasileiro da carne caprina e ovina. Salvador: R.R.da Silva, 2002. 111p.
9 ALICE: http: //aliceweb.mdic.gov.br
10 Produção Pecuária Municipal. IBGE: http: //sidra.ibge.gov.br/acervo.
11 MELLO, Nilda T.C.de., NOGUEIRA, Elizabeth A e., RODRIGUES, Carlos F.de C. Entraves e desafios à caprinocultura no Sudoeste paulista. Disponibilizado em out/2005. www.iea.sp.gov.br
12 NOGUEIRA, Elizabeth A.e. & MELLO, Nilda T.C.de. Diagnóstico sócio-econômico da caprinocultura no Sudoeste paulista. Informações Econômicas, SP, v.35, n.8, ago., 2005.
13 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-116/2005.

Data de Publicação: 06/12/2005

Autor(es): Elizabeth Alves e Nogueira (enogueira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor