Diferenças Nas Produtividades Do Algodão Brasileiro

            O cultivo do algodão no Brasil tem sido uma atividade de elevado nível tecnológico, inclusive contando com o apoio dos trabalhos de melhoramento genético, desde 1924, desenvolvidos no Instituto Agronômico (IAC), com reflexos positivos na sua produtividade.
            Essa fibra teve até meados da década de 70 significativa participação no mercado internacional, mas ao longo do tempo, por uma série de razões, foi perdendo espaço no cenário mundial. As políticas comerciais adotadas para o algodão no Brasil nos últimos 30 anos visavam garantir abastecimento constante de matéria-prima, primeiramente através do estabelecimento de barreiras à exportação, até a plena abertura do mercado em 1990. A partir daí as importações de algodão cresceram, em função, inclusive, das facilidades de financiamento internacional, com vantagens para a indústria têxtil brasileira adquirir a fibra no mercado externo, mesmo diante da elevação dos preços no mercado mundial. O resultado desse conjunto de fatores provocou desestímulo à produção interna, contribuindo para a ampliação da defasagem entre oferta e demanda. No caso do setor industrial têxtil brasileiro, se por um lado a redução de alíquotas de importação acirrou a concorrência com manufaturados em diversas etapas de transformação, por outro, a sobrevalorização cambial favoreceu o crescimento de investimentos para importações de equipamentos.
            Mais recentemente, os grandes produtores do cerrado da região Centro-Oeste iniciaram a busca por alternativas à cultura de soja que já apresentava baixa rentabilidade pelo uso contínuo do solo. Assim, foram iniciados os trabalhos com algodão, mediante convênio entre a Empresa Brasileira da Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Grupo Itamarati Norte. Os esforços subsequentes, apoiados pela Fundação Mato Grosso, permitiram que a região, e em especial o Mato Grosso, passasse a responder pela maior parcela da produção nacional de algodão, com níveis de produtividade superiores aos dos grandes produtores mundiais.
            A atual exploração algodoeira no Brasil desenvolve-se, principalmente, em duas regiões - Meridional (São Paulo e Paraná) e Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) - por força de fatores ambientais, econômicos e sociais. Na região Nordeste, a lavoura quase desapareceu nos últimos anos devido à inadequada estrutura de produção e infestação do bicudo. Só recentemente, a atividade voltou a crescer com alguma ênfase na Bahia e há esforços governamentais para que se desenvolva no Ceará, hoje importante pólo têxtil.
            Um estudo recente1 analisou o desempenho da produtividade da cultura do algodão nos principais estados produtores do Brasil, para poder comparar e avaliar as taxas médias de crescimento estaduais, calculadas através de regressão linear.
            Os resultados indicaram, para o período completo (1980-2000), a existência de diferenças significativas nas produtividades entre os estados. Goiás foi o que apresentou produtividades mais elevadas, graças ao desempenho ocorrido na década de 1980 e em meados de 1990. Os três estados detentores dos maiores índices de produtividade, depois de Goiás, foram, em ordem decrescente, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, os quais não apresentaram diferenças significativas entre si em termos de rendimento médio. Mato Grosso foi o que apresentou os menores índices de produtividade, o que o levou a ocupar a última posição na ordenação dos rendimentos. Também não foram constatadas diferenças significativas entre os rendimentos médios do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.
            Entretanto, para um período menor e mais recente (1996-2000), os resultados, além de continuarem a revelar a existência de diferenças significativas nas produtividades nos estados, mostram, também, uma inversão na classificação de Mato Grosso, que passou a ocupar a primeira posição, ficando Paraná e São Paulo nas posições inferiores da ordenação dos rendimentos.
            A produção de algodão cresceu acentuadamente, a partir do início da década de 1990, na região Centro-Oeste, cuja participação na produção brasileira passou de 9,0%, no triênio 1980-82, para 64,0%, em 1998-00. Os estados de São Paulo e Paraná, que participavam, em conjunto, com 74,0% da produção nacional, caíram para 20,0%. No último triênio analisado, somente o Estado do Mato Grosso respondeu por 39,0% da produção brasileira de algodão, alcançando 48,0% no ano de 2000.
            A expansão recente da produção de algodão no Centro-Oeste brasileiro pode ser considerada como integrante do processo de reformulação produtiva e gerencial, com o objetivo de modernização da atividade e de aumento de competitividade, imposto pela concorrência com a matéria-prima importada após a abertura comercial no início dos anos 90s. Particularmente no Mato Grosso, a cotonicultura é alicerçada no uso intensivo de tecnologia e de mecanização, explorada em grandes módulos de produção. Além da atuação da pesquisa no melhoramento de cultivares, a atividade conta com apoio de programas de aperfeiçoamento da qualidade da fibra e de incentivo fiscal mediante a redução do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Na região Meridional, os sistemas de produção mantêm a tradição de exploração em áreas relativamente pequenas, nem sempre aproveitando toda a tecnologia disponível.
            Embora seja uma atividade de alto risco, a cotonicultura tem apresentado excelentes taxas de retorno nos últimos anos, mas só com o elevado nível tecnológico (independente da região) haverá possibilidade de aumentar sua competitividade para concorrer nos mercados interno e, principalmente, internacional.

1BARBOSA, Marisa Z.; FERREIRA, Celia R.R.P.T.; NOGUEIRA JUNIOR, Sebastião. Análise regional da produtividade na cotonicultura brasileira. In III Congresso Brasileiro de Algodão. Campo Grande, 2001. Anais. CD-ROM].

Data de Publicação: 20/09/2001

Autor(es): Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor