Café: O Mercado Continua Influenciado Pelo Clima1

 

Mercado externo

            O mercado internacional de café prosseguiu, na primeira quinzena de maio, a recuperação das cotações observadas no final de abril, em virtude dos riscos de geadas no Brasil decorrentes do avanço das frentes frias que traziam baixas temperaturas para as regiões cafeeiras brasileiras. A partir da segunda quinzena, as cotações começaram a cair fortemente, influenciadas pelo aumento das temperaturas médias nas regiões cafeeiras e pela previsão de safra para a cafeicultura brasileira realizada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de 33,7 milhões de sacas.
            Assim, as cotações do café arábica para julho na Bolsa de Nova York, que abriram maio com US$ 88,82 por saca, caíram 15% no final do mês, para US$ 75,60/sc (gráfico 1). No caso do café robusta na Bolsa de Londres, contudo, as cotações para julho mantiveram-se praticamente estáveis, pois, de uma cotação no início do mês de US$ 34,56/sc, chegou-se, no final do mês, a US$ 33,72/sc, ou seja, uma queda de apenas 2,4% (gráfico 2). Na média, as cotações dos arábicas para julho em Nova York apresentaram alta de 5,6% em maio, em relação a abril, enquanto para o robusta em Londres os valores médios por saca permaneceram estáveis.

 

Gráfico 1 - Cotação do Café Arábica na Bolsa de Nova York

 
Fonte: Gazeta Mercantil

Gráfico 2 - Cotação do Café Robusta na Bolsa de Londres

 
Fonte: Gazeta Mercantil

Mercado interno

            O comportamento dos preços recebidos pelos produtores no mercado interno oscilou pouco durante maio de 2001. Enquanto eram veiculadas notícias sobre a possibilidade de geada nas zonas cafeeiras, os preços tiveram alguma tendência de elevação, com arábicas finos sendo cotados a R$ 137,00 a saca beneficiada e o conillon tipo 7, com até 10% de broca, a R$ 64,00/sc. Ainda que o clima tenha tido forte influência sobre as cotações, não se deve negar o reflexo positivo sobre os preços ocasionado pelo acertado término da política de retenção. Após o surgimento de notícias de que o clima se mantinha favorável à produção, somado à divulgação dos dados sobre a safra brasileira por parte do USDA, os preços começaram a cair, com os arábicas fechando o mês cotados a R$ 133,00 para os finos e a R$ 123,50 para os duros (gráfico 3) e o conillon tipo 7, com até 10% de broca, a R$ 63,00 (gráfico 4).

Gráfico 3 - Cotações Médias por Saca de Café Verde, Tipo 6 para Melhor, safra 2000/01,
FOB Armazén, 7 dias para liquidação 02/05/2001 a 31/05/2001

 

Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de Gazeta Mercantil, maio 2001.

Gráfico 4 - Cotações de Conillon por Saca Beneficiada 60kg,
Posto Armazenagem Interior (exclusive ICMS, inclusive Funrural)

 

Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de Gazeta Mercantil, maio 2001.

Oferta de café robusta: uma reflexão

            O robusta/conillon tem sido apresentado como um dos culpados pela difícil situação em que se encontra o mercado do café. Observando a série estatística, verifica-se que, a partir de 1997, a oferta de robusta tem aumentado mais de 8,5% ao ano, frente ao consumo que tem crescido apenas 1,3% nos principais mercados consumidores. O grande responsável por essa ampliação da oferta de robusta foi o Vietnã, que passou, em apenas 10 anos, de uma produção de pouco mais de 1 milhão para 13 milhões de sacas (alguns falam em até 14 milhões). De fato, se excluir esse país, a taxa de incremento na produção do robusta cai para menos de 5% no período 1997/2000.
            Segundo a maior parte dos analistas, em 2000 o mundo produziu 42,5 milhões e 70 milhões de sacas de café robusta e arábica, respectivamente, totalizando 112,5 milhões de sacas, enquanto nós estimamos o consumo mundial em apenas 106 milhões de sacas. Entretanto, o último levantamento da OIC aponta produção e consumo mundiais, no ano 2000, de respectivamente 109,3 e 101,8 milhões de sacas.
            Em 1997, a produção mundial de arábica foi de 63,7 milhões de sacas, o que, comparando com a produção atual (70 milhões de sacas), leva à taxa de crescimento de pouco mais de 3% ao ano, ainda assim superior ao crescimento da demanda. Entretanto, acreditamos que a produção mundial de arábica no ano 2000/01 poderia ter sido maior em pelo menos 8 a 10 milhões de sacas, se não fossem os distúrbios climáticos de 1999 e 2000 no Brasil que comprometeram seriamente seu potencial de produção. Ou seja, em vez dos 70 milhões, o mundo deveria ter produzido pelo menos 78 milhões de sacas de arábica, o que levaria ao crescimento na produção para 23% no período, ou mais de 7% ao ano. Portanto, observa-se um incremento quase que na mesma proporção do verificado no robusta. É claro que, se não fosse o aumento do robusta, os preços do café estariam em outro patamar menos desfavoráveis. Mas é injustiça atribuir a esse produto toda a culpa pela situação de hoje, atitude essa explicada pela tendência do ser humano em transferir inconscientemente para outros os resultados negativos decorrentes de decisões equivocadas tomadas no passado e que poderiam ter sido evitadas. O que queremos dizer é que o maior responsável por essa situação que vivemos hoje é o próprio setor produtivo (do mundo todo), que se lançou afoitamente ao plantio de café quando os preços estavam bastante elevados a partir de 1997. Lembramos que mesmo antes dessa época (ver revista Globo Rural de outubro de 1996) já antecipávamos que o setor de produção iria passar por esses momentos difíceis a partir do ano 2000 (assumindo todos os riscos de previsões sobre e o futuro).
            Seria bom que o próprio setor produtivo estivesse munido de um completo banco de dados e de informações que lhe possibilitasse ter uma visão prospectiva do negócio café de pelo menos 3-4 anos à frente. Assim, as decisões no setor, inclusive as de ampliação ou não de áreas de cultivo, seriam tomadas em bases técnicas e não no subjetivismo das lideranças, o que, indubitavelmente, levaria a menores erros de decisão.

Rotular o café torrado e moído

            Outra discussão do momento se refere à rotulagem nas embalagens. Acreditamos que, apesar das resistências, no futuro, poderá constar nelas a quantidade de robusta que entra na composição dos blends. No momento, existem sérios problemas, aparentemente de natureza operacional, que dificultariam sua implementação. Mas é um direito do consumidor saber o que está consumindo!
            Sabe-se que o mercado de robusta está em franco crescimento. A razão disso é que os mercados mais promissores para elevar o consumo de café (China e Leste Europeu) deverão ser abertos pelo solúvel, cujo principal componente é o robusta. Adquirido o hábito de se tomar café, a tendência esperada desses mercados é de se deslocar para o consumo do café convencional, beneficiando na seqüência os próprios produtores de arábica. Ademais, as inovações visando aumentar o consumo de café nos mercados tradicionais têm como base o café solúvel. Deve ser lembrado também que o café robusta é componente importante para neutralizar os grãos que conferem acidez à bebida, como é o caso do produto oriundo da América Central, da Colômbia e do Quênia. É isso que explica a aparente contradição de países como Japão e Alemanha, por exemplo, serem ao mesmo tempo grandes importadores de arábicas de boa qualidade e também de robusta. Finalmente, deve ser mencionado que estão em andamento pesquisas visando propor nova forma para a classificação do café robusta que deverá melhorar o seu aproveitamento como matéria-prima industrial.

Previsão americana sobre a safra brasileira

            O USDA acaba de fazer uma previsão de safra para a cafeicultura brasileira. Segundo essa instituição, o Brasil deverá produzir 33,7 milhões de sacas no ano-safra 2001/02. Esse número é 26,7% superior à previsão da EMBRAPA de 26,7 milhões de sacas (em junho esta instituição deverá divulgar outra previsão). Previsões de safra de café no Brasil feitas pelo USDA são sempre vistas com desconfiança pelos técnicos do setor. Assim como alguns segmentos ligados à produção tendem a subestimar a safra brasileira, essa instituição americana tende a superestimá-la. Todos guardam na memória a divulgação da safra de 1993. Naquela época, contrariando as péssimas condições econômicas do produtor nacional, sem recursos para fazer bom manejo de suas lavouras, o USDA publicou números de safra sem qualquer aderência com a realidade.

A flutuação da taxa de câmbio e o preço do café

            O preço do café brasileiro tem se beneficiado da desvalorização do real frente ao dólar, uma vez que a formação dos preços no país tem forte influência do que ocorre na Bolsa de Nova York. Do início ao final do mês de maio, o preço do café tipo 6, recebido pelos produtores de São Paulo, apresentou crescimento de 5,27%, enquanto as cotações do contrato C na Bolsa de Nova York apresentaram decréscimo de 14,9%. Essa variação em sentido contrário nas cotações no país deveu-se à desvalorização do real, que atingiu 8,02% (em maio), segundo o Banco Central do Brasil, para a taxa média diária do valor do dólar americano. É evidente que os cafeicultores, se ao nível dos preços recebidos estão se beneficiando da desvalorização da moeda brasileira, deverão enfrentar no futuro próximo os seus efeitos nos insumos, cujos preços seguem o mercado internacional, como fertilizantes e pesticidas, o que deverá pressionar os custos na próxima safra.
 

1 Convênio DESR/ESALQ/USP-IEA/APTA-SAA

 


 

Data de Publicação: 07/06/2001

Autor(es): Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor