Feijão: Estiagem E Escassez Elevam Os Preços

    Os preços médios diários recebidos pelos produtores de feijão, na região (Escritório de Desenvolvimento Rural- EDR) de Avaré, no Estado de São Paulo, ficaram literalmente estacionados no patamar de R$50,00 a saca de 60 quilos, durante o mês de julho, até o dia 24. No dia seguinte, o preço elevou-se para R$63,00/sc, com 26% de acréscimo , refletindo não só a escassez do momento como principalmente a provável escassez nos próximos meses, ou seja, até que a oferta do produto aumente com a próxima safra das águas.
            Essa tendência de reviravolta no mercado pode ser também captada pela alteração do preço modal no atacado de São Paulo, que subiu para R$75,00/sc, com margem de comercialização de R$12,00. O novo valor de R$12,00 indica certo desequilíbrio nos preços de mercado, ocasionado por desajustes do preço de atacado ou do preço recebido pelo produtor, considerando-se que a média diária desses preços em 2001 ficou em R$56,00 para o produtor, R$65,00 no atacado e R$9,20 para a margem de comercialização. 

Gráfico Figura 1. - Preços Médios Diários Recebidos pelos Produtores de Feijão no Escritório de Desenvolvimento Regional de Avaré, SP, e Preços Modais de  Feijão Carioquinha Tipo 1 no Atacado da Cidade de São Paulo, junho  Julho de 2001  
            Em julho, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) anunciou os dados do quinto levantamento de previsão da safra 2000/01, realizado no período de 17 a 23 de junho nas regiões produtoras do País. Segundo esse levantamento, a produção de feijão foi estimada em 1,162 milhão de toneladas na primeira safra, com queda de 17,7%; 1,126 milhão de toneladas na segunda safra , com queda de 22,6%; e 286,5 mil toneladas na terceira safra (assim denominada pela CONAB para a safra irrigada), com aumento de 24,5% em relação ao ano anterior, o que totaliza 2,575 milhões de toneladas.
            Em comparação com a produção total da safra 1999/00, de 3,098 milhões de toneladas, houve redução de 16,9% na produção brasileira de feijão, o que já refletiu nos preços de comercialização desde o início deste ano, elevando os preços médios mensais sempre acima de R$50,00. O aumento estimado para a terceira safra de feijão amenizará em muito pouco esta escassez, uma vez que representa apenas 11% da produção anual. O aumento significativo (um pouco tardio) ocorrido nos preços de feijão no final de julho é coerente com a conjuntura atual do mercado.
            Os números do quinto levantamento, relativos à segunda safra de feijão no Nordeste, são ainda preliminares, segundo a CONAB, uma vez que, em alguns Estados, os produtores ainda arriscam a semear parte da área. Em Alagoas, Sergipe e na região nordeste da Bahia, em que o plantio e a colheita coincidem com a safra irrigada, a semeadura, que habitualmente ocorre nos meses de abril a maio, começou a partir da primeira semana de junho. A semeadura da terceira safra (irrigada) de feijão, segundo a CONAB, está atrasada no país e deverá ir até o final de julho.
            Um fato que pode afetar a terceira safra brasileira de feijão é o baixo nível dos reservatórios e cursos d’água para a alimentação dos equipamentos de irrigação (pivôs). Além disso, a imposição das metas de redução de consumo de energia elétrica, em vigor a partir de junho, afetará não só a carga horária do uso de irrigação, como também fará acrescer os custos de produção.
            Os problemas climáticos, que em algumas regiões produtoras de feijão se estendem desde janeiro deste ano (como na Bahia), e em outras, desde abril (como em Minas Gerais), somados ao problema do racionamento de energia, poderão afetar a produção brasileira de feijão, diminuindo a estimativa já anunciada pela CONAB da terceira safra. Para agravar a situação, em junho choveu apenas até 25 milímetros na área central do país, grande produtora do grão no País, segundo dados de precipitação do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
            A desvalorização cambial, ocorrida neste ano, dificulta a importação de feijão. Tanto que está prevista a importação de apenas 90 mil toneladas neste ano, em comparação com 190 mil toneladas em 1998. Qualquer desequilíbrio na produção e na produtividade deverá acarretar uma elevação mais que proporcional nos preços de mercado, considerando-se que o estoque governamental de feijão (AGF e contrato de opção) no momento é zero (dados de 24/07/01).
            A oferta de feijão na zona cerealista da cidade de São Paulo, no dia 26/07/01, teve como fontes de suprimento (origem), segundo a Bolsinha Informs, os seguintes Estados: São Paulo (72,7%), Minas Gerais (9,1%), Paraná (6,1%), Mato Grosso (6,1%) e Goiás (6,1%).
            Com a elevação na cotação de preços pagos aos produtores, é possível que aumente a participação de demais Estados produtores na oferta de feijão na zona cerealista, uma vez que esse aumento minimiza o custo relativo ao transporte.

Data de Publicação: 27/07/2001

Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor