Perspectivas Do Mercado De Trigo: Safra 2000/2001

Panorama Internacional

            A produção mundial de trigo em 1999/2000, de acordo com o USDA, está estimada em 584,45 milhões de toneladas, 1,0% inferior à do ano anterior. Mesmo assim, a projeção é de que os estoques finais caiam para 127,23 milhões de toneladas, o que representa um decréscimo de 6,0%, basicamente em função de projeções de um leve aumento no consumo doméstico mundial e crescimento de 3,6% no total das exportações, que deverá se situar em 125,26 milhões de toneladas. Estão previstos maiores volumes de importação da Rússia e dos países da ex-União Soviética.
            Para os maiores exportadores de trigo, a redução da produção estadunidense, de 69,93 milhões de toneladas para 62,66 milhões de toneladas, está sendo compensada pelo aumento das produções da Argentina, da Austrália, do Canadá e do total da União Européia. Com exceção dos Estados Unidos, em todos esses países e regiões, está sendo previsto aumento do consumo doméstico. Dessa forma, não há grandes alterações no balanço de oferta e demanda que possam modificar muito o mercado, relativamente às condições verificadas no ano anterior. Contudo, especialmente para o produtor brasileiro, pode preocupar um pouco o aumento da produção argentina, de 12,00 milhões de toneladas para 14,50 milhões de toneladas na atual safra, já que a maior parte das exportações argentinas, desde a formação do MERCOSUL, destinam-se ao Brasil. Mas, um possível efeito de queda de preços, dada a maior oferta, poderá ser atenuado, uma vez que a Argentina, conforme informações divulgadas por analistas de mercado, está conquistando novos mercados, através de exportações de 1,7 milhão de toneladas para 15 novos destinos na África, Ásia e também na Europa.
            Outro fator de alta nos preços do mercado internacional é a seca nas regiões tritícolas dos Estados Unidos, que está implicando pouca cobertura de neve e temperaturas acima do normal para o momento, podendo antecipar a germinação e, portanto, aumentar o risco de perdas nas lavouras em face de possíveis quedas de temperatura após a germinação, fenômeno conhecido como winter killer. Nessas circunstâncias, os fundos de investimentos estão entrando no mercado, reforçando a pressão altista.

Situação Interna

            A desvalorização cambial de janeiro de 1999 não foi suficiente para impedir a redução de 9% na área plantada, decorrente da insegurança dos triticultores devido à instabilidade dos preços do produto nacional nos anos anteriores à desvalorização. Entretanto, face às condições climáticas favoráveis, a produção nacional apresentou um crescimento de 6,0%, conforme estimativas da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), resultado influenciado pelo Paraná, maior Estado produtor, cuja área de plantio acusou queda de 21%, enquanto a produção caiu apenas 5,0% (Tabela 1).
            Em São Paulo, entretanto, a área cultivada, que já tinha apresentado aumento em 1998, em 1999 cresceu mais 20%, expansão limitada pela falta de sementes. A produção paulista evoluiu de 34,2 mil toneladas em 1998 para 41,0 mil em 1999 (Tabela 2).
            Para a safra 2000/2001, cujo plantio deve-se iniciar a partir de 20 de março, conforme recomendação técnica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), as perspectivas são favoráveis. Da produção nacional, a safra paulista, que se inicia a partir de final de agosto, é a que entra mais cedo no mercado e coincide com a entressafra argentina. Os efeitos da desvalorização cambial de janeiro de 1999 ainda estão favorecendo a competitividade do trigo nacional. O câmbio atual (15/02/2000), de R$1,7691 por dólar, é compensador.
            Os preços médios recebidos pelos triticultores paulistas em 1999 apresentaram-se bem superiores aos do ano anterior, notadamente nos meses de safra (agosto a novembro) (Tabela 3). A comercialização foi satisfatória, de acordo com informações de técnicos que atuam na região sudoeste do Estado; o trigo da Cooperativa Agroindustrial Holambra foi comercializado por um preço médio de R$250,00/tonelada.
            Outros fatores concorrem para estimular o plantio do trigo, entre os quais podem-se salientar os seguintes: 1) há um movimento crescente de adoção do sistema de plantio direto, no qual o trigo é uma boa opção de inverno, junto com aveia e triticale; 2) encontra-se em discussão, no âmbito da CONAB, uma proposta de elevação do preço mínimo, dos atuais R$185,00 por tonelada para algo em torno de R$220,00 por tonelada; 3) os atrasos das colheitas de verão aumentam o risco de cultivo do milho safrinha; e 4) o Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes, da SAA, está colocando à disposição dos triticultores, neste ano, 3.030,04 toneladas de sementes de trigo, o que significa uma expansão de 124% em relação à quantidade ofertada na safra anterior (Tabela 4).

Tabela 1 - Área, Produção e Rendimento da Cultura de Trigo nos Estados Produtores,
Brasil - 1997 a 1999


Estado
1997
1998
Área
(hectare)
Produção
(tonelada)
Rendimento
(kg/ha)
Área
(hectare)
Produção
(tonelada)
Rendimento
(kg/ha)
Paraná
944.000
1.719.000
1.821
960.000
1.581.452
1.647
Rio Grande do Sul
478.209
590.622
1.235
384.614
516.636
1.343
Mato Grosso do Sul
29.764
47.087
1.582
29.551
48.997
1.658
Santa Catarina
33.398
34.227
1.025
27.872
42.411
1.522
São Paulo
14.430
27.420
1.900
9.900
17.226
1.740
Minas Gerais
3.157
14.311
4.533
2.881
13.155
4.566
Goiás
2.716
8.196
3.018
7.973
11.757
1.475
Brasil
1.505.671
2.440.863
1.621
1.422.791
2.231.634
1.568
Estado
1999
Área
(hectare)
Produção
(tonelada)
Rendimento
(kg/ha)
Paraná
761.500
1.508.000
1.980
Rio Grande do Sul
388.181
677.822
1.746
Mato Grosso do Sul
42.324
71.104
1.680
Santa Catarina
24.471
40.241
1.644
São Paulo
17.600
38.700
2.198
Minas Gerais
3.581
14.860
4.150
Goiás
10.208
12.520
1.226
Brasil
1.247.865
2.363.247
1.894

                   Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tabela 2 - Área, Produção e Rendimento da Cultura de Trigo, por Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR), Estado de São Paulo, 1997 a 1999
EDR
Área (hectare)
Produção (tonelada)
Rendimento (kg/ha)
 
1997
1998
1999
1997
1998
1999
1997
1998
1999
Avaré
3.700
2.960
6.453
6.345
6.507
16.078
1.714
2.159
2.491
Assis
1.704 
3.336 
5.807
3.310
8.850
10.789
1.942
2.652
1.857
Itapeva
3.470
6.100
3.300
5.928
11.150
6.480
1.708
1.827
1.963
Itapetininga
690
2.090
2.055
1.333
3.864
3.720
1.931
1.848
1.810
Ourinhos
2.360
2.010
1.860
3.579
3.060
2.799
1.516
1.522
1.504
Mogi Mirim
350
310
330
738
673
697
2.108
2.170
2.112
Pres Prudente
-
12
130
-
22
252
-
1.833
1.938
Botucatu
20
-
85
21
-
115
1.050
-
1.352
Piracicaba
-
20
80
-
36
96
-
1.800
1.200
Campinas
10
10
-
12
15
-
1.200
1.500
-
Franca
75
-
-
270
-
-
3.600
-
-
Total
12.379
16.878
20.100
21.537
34.177
41.026
1.739
2.027
2.041

                  Fonte: Intituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

Tabela 3 - Preços Médios de Trigo Recebidos pelos Produtores Paulistas, 1997 a 1999

                                                (R$/tonelada)

Mês
1997
1998
1999
Janeiro
147,60
151,30
153,50
Fevereiro
149,60
153,60
196,60
Março
158,00
151,30
200,00
Abril
173,80
154,60
200,00
Maio
188,10
148,10
200,30
Junho
188,10
150,00
208,30
Julho
174,50
156,30
208,30
Agosto
174,50
155,80
215,50
Setembro
169,00
146,10
224,30
Outubro
167,10
147,80
225,10
Novembro
166,80
150,00
227,00
Dezembro
162,00
153,10
222,80

                   Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

Tabela 4 - Produção de Sementes de Trigo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - 1996 a 1999 ( em tonelada )
Cultivar 
1996
1997
1998
1999
IAC – 24
1.405,24
601,92
734,00
1.447,32
IAC – 350
-
132,00
548,52
1.456,88
IAC – 287
-
-
-
23,12
IAC – 120
-
52,00
11,04
-
IAC – 289
175,00
147,92
60,00
28,00
IAC – 231
12,00
24,00
-
-
BR – 18
-
-
-
74,72
TOTAL
1.592,24
957,84
1.353,56
3.030,04

     Fonte: Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

Data de Publicação: 21/03/2000

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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