Mandioca: Normalização Do Mercado Poderá Vir Em 2002

            A produção nacional de mandioca da safra 1999/2000, segundo estimativa da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acusou aumento de 10%, em relação à do período anterior, situando-se em 22,9 milhões de toneladas. Embora não seja uma expansão de grande magnitude, reflete a recuperação da produção nordestina, face ao fim de um longo período de estiagem, e é a maior safra do último quinquênio, se bem que ainda não atingiu os patamares do quinquênio anterior, quando a produção média anual foi de 24 milhões de toneladas. Contudo, a variação já foi suficiente para fazer com que os preços recebidos pelos produtores caíssem de R$ 113,34 por tonelada, em fevereiro de 2000, para R$ 50,00 no mesmo mês deste ano. Os preços elevados a partir de setembro de 1999 estimularam a expansão do plantio nas principais regiões produtoras do país (Tabela 1).

Tabela 1 -Produção de Mandioca: Região e Estados Selecionados, 1999 e 2000 (toneladas)
 
Mato Grosso.do Sul
Santa Catarina
São Paulo
Minas Gerais
Paraná
Pará
Nordeste
Brasil
1999 622.973 632.547 701.300 866.252 3.500.000 4.070.923 6.373.173 20.891.531
2000 604.951 691.936 729.460 910.834 3.868.000 4.196.070 7.666.069 22.919.535
Var.% -3,66 9,39 4,02 5,15 10,51 3,07 20,29 9,71

Fonte: IBGE – nov.2000 
            Essa situação vem trazendo problemas aos agricultores que estão com dificuldades para comercializar o produto, uma vez que os principais mercados de farinha se encontram bem abastecidos. Além do aumento na produção nordestina, que foi de 20%, houve expansão também nos estados mais importantes em produção e processamento de mandioca (Tabela 2). No Paraná, os preços da farinha caíram de R$ 21 por saco de 50 quilos, em fevereiro de 2000, para R$ 12,00 no mesmo mês deste ano, uma queda de 57% para uma inflação de 9,1% no período. Como agravante, os preços do milho, cujo amido é o principal concorrente da fécula, também caíram pela metade no mesmo período, contribuindo para rebaixar os preços pagos pelas fecularias. Mesmo assim, ainda continuam servindo de suporte para evitar que os preços caiam ainda mais, pelo menos nas áreas de influência das grandes indústrias de fécula, cujo preço médio FOB-fábrica caiu de R$ 0,70/kg em fevereiro de 2000 para R$ 0,48/kg em fevereiro último. As industrias, que estabeleceram contratos prévios com agricultores, estão adquirindo primeiro a mandioca contratada.

Tabela 2- Preços médios mensais de mandioca  recebidos pelo produtor,
período jan/96 a dez/00, em R$/t, corrigidos para dez/2000.

Ano Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
1996 R$ 52,66  R$ 59,49  R$ 60,66  R$ 61,34  R$ 71,69  R$ 77,05  R$ 80,43  R$ 83,05  R$ 84,70  R$ 85,86  R$ 87,51  R$ 90,27 
1997 R$ 83,61  R$ 84,23  R$ 79,14  R$ 76,03  R$ 75,94  R$ 74,42  R$ 70,56  R$ 68,90  R$ 64,84  R$ 64,62  R$ 65,10  R$ 66,17 
1998 R$ 66,68  R$ 59,76  R$ 60,36  R$ 61,68  R$ 58,43  R$ 58,51  R$ 58,54  R$ 59,48  R$ 58,58  R$ 59,40  R$ 58,71  R$ 59,44 
1999  R$ 60,14  R$ 56,40  R$ 59,61  R$ 62,15  R$ 62,06  R$ 60,59  R$ 61,44  R$ 61,04  R$ 65,36  R$ 72,19  R$ 89,34  R$ 104,83 
2000  R$ 115,29  R$ 113,34  R$ 105,29  R$ 90,84  R$ 79,48  R$ 76,50  R$ 71,56  R$ 69,27  R$ 63,79  R$ 65,91  R$ 64,68  R$ 67,96 

  
            A mandioca industrial pode ser cultivada em um ou dois ciclos, variando normalmente entre 12 e 18 meses, condicionada pela situação de mercado. Conforme tenha mais ou menos doze meses, é chamada de mandioca velha ou nova. Nessa conjuntura, em São Paulo, como ocorre todos os anos, nos primeiros meses os produtores arrancam a mandioca mais velha e a partir de março cresce o arranquio da mandioca nova. Como o plantio em 1999 foi grande, há uma grande oferta remanescente em 2000 cuja colheita deverá se estender até outubro do corrente ano. No Vale do Paranapanema, principal região produtora, as previsões são de que o início do arranquio da mandioca nova seja mais tardio, devendo iniciar-se a partir de maio, enquanto que, em anos de maio equilíbrio entre oferta e demanda, a colheita da mandioca mais nova começa até fevereiro. Contudo, a maior parte das farinheiras está operando com baixa capacidade e tentando colocar seus estoques no mercado, mesmo com o atraso para a entrada da safra nova.
            A observação de séries mais longas de oferta e preço permite verificar um comportamento mais ou menos cíclico dos preços de mandioca. No curto prazo, não há perspectiva de reversão desse quadro e os preços poderão cair ainda mais, à medida que a safra for se intensificando. A normalização das condições do mercado poderá ocorrer a partir de 2002, uma vez que o plantio em 2001 deverá ser menor devido aos baixos preços.
            Para minimizar o problema, seria oportuno que o governo federal retomasse a política de Empréstimos do Governo Federal (EGF) e de Aquisições do Governo Federal (AGF), para enxugar o mercado e recompor os estoques oficiais, e que, paralelamente, os diversos segmentos da cadeia produtiva se organizassem para envidar esforços no sentido de ampliar as exportações de produtos de mandioca.
 


 

Data de Publicação: 01/02/2001

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor