O Que Se Espera Do Complexo Protéico-animal E Do Setor De Rações Em 2001

            A doença ou mal da vaca louca, tecnicamente denominado Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), tem causado furor na mídia internacional com fortes reflexos no complexo protéico-animal brasileiro.
            Por estar evoluindo desde 1994, quando ocorreram os primeiros casos na Inglaterra, e exponencialmente nos dias atuais, o mal vem provocando diminuição acentuada no consumo de carne bovina, sobretudo na Europa Ocidental onde foi detectado em quase todos os países. Há informações de diminuição da utilização de carne bovina de quase 30% no Bloco e de até 40% em alguns países.
            O alarme, exaustivamente noticiado na imprensa, tem favorecido os outros segmentos produtivos de proteína animal – aves, suínos e peixes, em especial.
            Países fora da zona atingida naturalmente deveriam ser privilegiados, sobretudo aqueles localizados no Hemisfério Sul.
            Contudo, o Brasil, por razões político-econômicas, foi fortemente prejudicado com o anúncio pelo Canadá de que a carne verde-amarela poderia estar contaminada por força de importações de matrizes de origem européia na década de 90.
            Isto provocou a suspensão automática dos embarques, com o conseqüente arrefecimento dos preços internos, e gerou ainda forte turbulência no mercado de carnes e no nível de emprego.
            O que se teme são os prejuízos que poderão advir com o comprometimento de exportações para outros destinos que não o Canadá, Estados Unidos e México (parceiros no NAFTA). Leia-se Europa, em especial.
            Por outro lado, as carnes alternativas, principalmente aves e suínos, deverão ser beneficiadas. E mesmo a carne bovina, se nada for confirmado!
            No caso de aves, dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF) registraram 78 mil toneladas exportadas em janeiro último, quase 8% superior ao mês correspondente do ano anterior. Cabe lembrar que em 2000 as receitas com carne de frango somaram US$ 828,7 milhões, com queda de 7% na arrecadação em relação ao total do ano anterior, por conta de menores preços internacionais, já que as quantidades embarcadas foram 22% maiores (940 mil toneladas). Isto mostra o dinamismo do setor avícola e a possibilidade de resposta rápida no nível de produção (via alojamento de animais): no início da década de 90, os embarques somaram 324 mil toneladas.
            No caso da suinocultura, as perspectivas são favoráveis, tendo em vista que recente visita de Missão Russa ao Brasil aprovou a compra de carne do Rio Grande do Sul, até então proibida por restrições sanitárias.
            No setor de rações, há um otimismo generalizado, prevendo-se crescimento em todos os segmentos. Segundo a Associação Nacional dos fabricantes de Alimentos para Animais (ANFAL), a produção de ração deverá aumentar cerca de 7% em relação à do ano anterior que totalizou 35,4 milhões de toneladas. Maiores aumentos são esperados para aqüicultura (20,5 %) e bovinocultura (15,1 %), embora sejam consideradas atividades pouco representativas no contexto global de utilização deste insumo. O pet food, com 1,1 milhão de toneladas, também mostra-se promissor, com amplo potencial a ser conquistado.
            Os segmentos que mais consomem ração – aves e suínos, responsáveis por 85% do total - deverão ser favorecidos pelas grandes safras nacionais de milho e soja, que juntas representam 83% das matérias-primas utilizadas no arraçoamento animal.
            Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção de milho poderá chegar a 38,5 milhões de toneladas (+ 22%) e a de soja, a 34,4 milhões de toneladas (+ 7%), garantindo o pleno abastecimento, mesmo com o esperado acréscimo nos embarques de soja em grão para a Europa Ocidental. O grão será utilizado na fabricação de farelo, para substituir a farinha de carne (considerada um dos vetores de disseminação da vaca louca) na elaboração de ração. Ambas as safras representam recordes históricos.
            A possibilidade de crescimento da economia brasileira em 2001, mesmo que em ritmo moderado, aliada ao esperado aumento da massa salarial, deve provocar maior consumo por componentes do complexo protéico-animal, devido à elevada elasticidade – renda desses produtos (carnes), e por conseguinte maior procura por ração por conta da demanda derivada.
            Acontecimentos recentes, tais como o ressurgimento de focos de febre aftosa na Argentina e na Inglaterra e em contraposição a liberação da carne de porco do Rio Grande do Sul para ingresso na Rússia, são fatores que podem favorecer os produtos brasileiros, desde que não haja uma desaceleração do ritmo econômico mundial provocado pelo recesso estadunidense.
            O cenário atual, portanto, mostra-se favorável à maior procura por carnes. A bovina tem amplas possibilidades de conquistar mercados, tão logo a questão da vaca louca seja resolvida com os países da América do Norte. A recuperação dos preços internacionais, decorrente da retirada de mais de meio milhão de toneladas de carne da Europa, permite tal ilação.
            A avicultura em 2000 aumentou o volume exportado de carnes, com maior participação de cortes nobres - agregando valor ao produto –, além de conquistar novos mercados. Diante disso, as expectativas para esse segmento são bastante promissoras.
            A suinocultura também apresenta potencial, já que se tem verificado avanços tecnológicos significativos que certamente possibilitarão embarques para novos mercados. A propósito, no último Congresso Mundial de Carnes realizado ano passado em Belo Horizonte (MG), representantes do Canadá mostraram interesse em promover intercâmbio com parceiros do Brasil.
            Medidas de ordem sanitária, hoje mais rígidas até que as tarifárias, deverão ser levadas em conta para que o País se firme no cenário internacional de carnes, pois, como se sabe, a tônica do mercado, sobretudo o externo, pauta-se pela relação preço-qualidade em detrimento das relações histórica e tradicional entre os países.

Data de Publicação: 06/03/2001

Autor(es): Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor