A Meta De 100 Milhões De Toneladas De Grãos Em 2002

            Na posse do atual Ministro da Agricultura e do Abastecimento, o Governo anunciou a meta de 100 milhões de toneladas de grãos para a safra 2001/2002, a segunda colheita do terceiro milênio e a última do atual governo. Pergunta-se: a meta é razoável? É inatingível?
            A análise da factibilidade da meta governamental será baseada nos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) referentes aos grãos, cujo total engloba cereais (arroz, aveia, centeio, cevada, milho, sorgo e trigo), leguminosas (feijão e soja) e oleaginosas (amendoim, caroço de algodão, girassol e mamona). Segundo essa fonte, a produção de grãos no Brasil cresceu nos últimos dez anos à taxa média de 1,7% ao ano, devido exclusivamente ao aumento da produtividade média das 13 culturas (de 3,8% ao ano), porquanto a área plantada se retraiu à taxa de 1,5% ao ano. Nesse período a área total das culturas de grãos diminuiu cerca de 6,4 milhões de hectares. A retração da área (17,2%) da cultura de milho, mais especificamente no plantio da primeira safra (de verão), foi a maior responsável por essa queda.
            A produção média per capita de grãos em 1999 está estimada em 501 kg, praticamente a mesma de 1989 (503 kg), ou seja, com crescimento apenas vegetativo, acompanhando o aumento da população do país. De acordo com o último levantamento da safra 1998/99, realizado em julho (com dados praticamente definitivos), a produção de grãos está estimada em 82,1 milhões de toneladas, com área plantada de 36,5 milhões de hectares e produtividade média de 2.247 kg/ha.
            Para o alcance da meta governamental de produção de 100 milhões de toneladas de grãos na safra 2001/2002, são necessárias as ocorrências dos seguintes eventos, com base no desempenho dos últimos dez anos: a) crescimento médio anual de 3,8% na produtividade das culturas, passando dos atuais 2.247 kg/ha (em 1998/99) para 2.512 kg/ha em 2001/2002; e b) aumento médio anual de 2,9% na área total de plantio das culturas de grãos, o que corresponde a um acréscimo anual de 1,1 milhão de hectares nos próximos três anos. Dessa forma, pode-se projetar para o ano 2000 uma produção de 87,8 milhões de toneladas, para 2001 uma produção de 93,7 milhões de toneladas e para 2002, uma colheita de 100 milhões de toneladas de grãos.
            Torna-se, portanto, oportuna e pertinente a discussão sobre as condições necessárias para a expansão da área de cultivo de grãos, revertendo a tendência histórica de retração, porquanto se o aumento da produção de grãos depender somente da elevação do rendimento das culturas (e mantida a mesma área), este deverá crescer à taxa média de 6,8% ao ano, para atingir 2.737 kg/ha (no total das 13 culturas) em 2001/2002, o que é uma meta muito ambiciosa.
            O desafio do aumento da produção de grãos é enorme, já para a próxima safra de verão, bastando citar a perspectiva desfavorável para o uso de insumos importantes para o aumento da produtividade, como os fertilizantes, cujas elevações de preços com a desvalorização cambial no início de 1999 pioraram sensivelmente a relação de troca de praticamente todos os grãos.
            Para a expansão da área das culturas de grãos é necessário melhoria da capacidade de auto-financiamento dos produtores, aumento da oferta e melhoria das condições de acesso ao crédito de custeio, créditos mais favoráveis para investimento em máquinas e para recuperação dos solos, redução do custo do arrendamento das terras, perspectivas favoráveis dos mercados dos grãos e, obviamente, melhoria da competitividade dessas culturas em relação a outras atividades alterna-tivas. A crônica dificuldade de renegociação dos débitos do crédito rural, no momento em plena discussão, em parte é decorrente do fato de que ampla parcela dos agricultores não vem obtendo renda suficiente sequer para manutenção da sua atividade, quanto mais para investir na expansão da sua produção.
            Outro aspecto a ser considerado é a da inelasticidade da demanda de grãos, ou seja, pode ocorrer queda de receita do produtor com o aumento da oferta, numa conjuntura recessiva da economia brasileira, aliado a um mercado internacional com estoques crescentes e preços deprimidos, dada à baixa procura da Ásia e da Europa Oriental, regiões que vem sofrendo séria crise financeira.

Data de Publicação: 25/10/1999

Autor(es): Alfredo Tsunechiro (tsunechiro@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor