Impacto Do Aumento Dos Combustíveis Nos Custos Operacionais Agrícolas

            O presente estudo tem o objetivo de analisar o impacto direto do reajuste dos combustíveis no custo horário de máquinas e implementos e seus reflexos no custos operacionais do algodão, soja, milho e trigo para o estado de São Paulo.
            Os preços de óleo diesel, óleos lubrificantes e graxas foram coletados nos dias 20 e 21 do mês de julho, após o reajuste fixado em 15 de julho, em nove municípios do estado de São Paulo. O levantamento mostrou que há uma certa uniformidade no preço do óleo diesel mas os preços praticados nos óleos lubrificantes e graxas apresentaram grande variabilidade nos postos de combustíveis. O valor mínimo do diesel encontrado foi de R$ 0,70 por litro e o máximo de R$ 0,75 por litro, sendo utilizado nesse estudo o valor médio de R$ 0,72 por litro. Esses novos valores de óleo diesel e de outros óleos lubrificantes e graxas foram aplicados na planilha de custo horário de máquinas e em seguida utilizados nas matrizes de custos, conservando os demais valores calculados em março de 2000.
            No cálculo do custo horário de máquinas, são considerados, além dos preços de óleo diesel, todos os itens de manutenção preventiva, como óleos, filtros e graxas, segundo as recomendações dos fabricantes. Não estão computados o custo do operador, a depreciação e os juros sobre o capital.
            Dentre os tratores utilizados nas matrizes do IEA, o impacto no custo horário dos tratores variou de 7,33% até 8,50% para as diferentes potências. Nas colhedoras automotrizes de cereais, o aumento variou de 5,31% a 5,72% nas diferentes potências (Tabela 1).

TABELA 1. Impacto do Aumento no Custo Horário das Máquinas.

Máquina
Custo horário (R$/h)
Aumento Percentual
Março
Julho
Trator 62cv
8,98
9,71
8,13
Trator 77cv
10,55
11,41
8,15
Trator 82cv
12,94
14,04
8,50
Trator 105cv
15,01
16,11
7,33
Trator 110cv
14,64
15,86
8,11
Colhedora de cereais 105cv
20,93
22,07
5,45
Colhedora de cereais 117cv
24,24
25,53
5,32
Colhedora de cereais 140cv
27,82
29,41
5,72
Colhedora de algodão 207cv
42,34
44,59
5,31
                   Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).

            A Tabela 2 apresenta os resultados do aumento dos itens nas operações de máquinas e custo operacional efetivo (COE). O COE engloba as operações de máquinas e os materiais consumidos no processo de produção, que portanto configuram as despesas diretas nas culturas.

TABELA 2. Aumento nas Operações e no Custo Operacional Efetivo.

Cultura / Sistema de Plantio / Município
Aumento da Participação Percentual nas operações
Aumento no COE
(%)
Algodão(1) (PC) São João da Boa Vista
7,28
1,90
Algodão(2) (PC) Orlândia
7,49
1,34
Algodão(3) (PC) Presidente Venceslau
7,61
1,78
Arroz de Sequeiro(2) (PC) São José do Rio Preto
6,52
2,03
Arroz Irrigado(1) (Pré Germ.) Pindamonhangaba
7,63
7,63
Soja(2) (PC) Orlândia
11,4
2,21
Soja(1) (PD) Assis
12,2
2,32
Milho(1) (PD) Itapetininga
6,94
1,00
Milho(2) (PC) Itapetininga
14,14
2,77
Milho(1) (PC) São João da Boa Vista
10,87
2,82
Trigo(1) (PC) Itapeva, Ourinhos e Assis
9,08
2,53
Trigo(1) (PD) Itapeva, Ourinhos e Assis
9,93
1,28
      FONTE: Instituto de Economia Agrícola (IEA).

(1) Realiza colheita mecânica com colhedora própria.
(2) Serviço de colheita mecânica por empreita.
(3) Realiza colheita manual.
PD= Plantio direto.
PC= Plantio convencional.
Pré Germ.= pré- germinado.

            Para a cultura do algodão, analisou-se o sistema de plantio convencional para três regiões do Estado, constatando-se os seguintes aumentos nas operações de máquinas: Orlândia (7,49%), São João da Boa Vista (7,28%) e Presidente Venceslau (7,61%). No que tange aos aumentos no COE, foram de 1,34%, 1,90% e 1,78% respectivamente. A participação da região de São João da Boa Vista foi um pouco maior devido à colheita mecânica ser realizada, geralmente, com máquina própria. Em Presidente Venceslau a colheita é terceirizada e não foi computada nestes custos.
            A cultura do arroz de sequeiro teve a participação dos custos das máquinas alterada em 6,52% com um aumento no COE de 2,03%. Para o arroz irrigado da região de Pindamonhangaba, o aumento foi de 7,63% nas operações e no COE. Este salto na participação do COE se explica pelo fato desse sistema de produção utilizar coeficiente alto de horas-máquina, cerca de quatro vezes a mais do que o arroz de sequeiro.
            Na cultura da soja (sistema de plantio convencional, na região de Orlândia), a participação percentual do item operações de máquinas aumentou 11,4% o que resultou em aumento de 2,21% no COE. No sistema de plantio direto na região de Assis, o aumento de 12,2% nas operações de máquinas causou impacto de 2,31% a mais no COE desse sistema de produção.
            As três regiões analisadas para a cultura do milho apresentaram variação no item operações de máquinas de 6,94% a 14,14%. O aumento do COE ficou entre 1,00% no sistema de plantio direto e 2,82% no sistema de plantio convencional.
            A variação no item operações de máquinas, na cultura do trigo, apresentou aumento de 9,08% para o sistema de plantio convencional e 9,93% no plantio direto. Essa variação nas operações com máquinas elevou o COE em 2,53% e 1,23%, respectivamente para o dois sistemas de plantio.
            Analisando os resultados apresentados, observa-se que entre as atividades estudadas a maior porcentagem de aumento no custo acontece naquelas culturas onde a colheita é realizada por colhedora própria. Mas, dependendo da maneira como se formarem os preços dos serviços de empreita para colheita ,estes poderão elevar-se a níveis superiores ao custo da colheita por colhedora própria.
            Outro aspecto relevante é o tipo de plantio. Os menores impactos encontram-se nas atividades cujo sistema de produção utilizam o plantio direto.
            Deve-se ressaltar que, na medida em que o reajuste dos combustíveis for incorporado a outros serviços, no médio e longo prazo, os impactos nos custos operacionais poderão ser maiores.

 

Data de Publicação: 31/07/2000

Autor(es): Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Hiroshige Okawa (okawa@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Consulte outros textos deste autor