Feijão: inicia a safra das águas 2000/2001

            Em agosto, o preço médio diário recebido pelos produtores paulistas de feijão, no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Avaré, ficou estabilizado em R$52,50 a saca de 60kg, desde o dia 9, após uma súbita elevação pós-geada que atingiu o Estado de São Paulo, no final de julho. No dia 26 de julho, no auge da incerteza de mercado quanto aos efeitos reais da geada sobre a cultura de feijão, os agentes de mercado pagaram o preço médio de R$65,00 a saca para os produtores. Desde então, os produtores têm recebido preços cada vez menores. Apesar disso, o preço médio mensal recebido pelos produtores paulistas de R$53,70 em agosto é 16% superior ao preço médio de R$46,43 de julho, neste ano (Figura 1).

Figura 1 - Preços Médios Diários Recebidos pelos Produtores de Feijão, no Escritório de Desenvolvimento Regional de Avaré, Estado de São Paulo, Janeiro a Agosto de 2000.
 

                    Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA). 
            O levantamento de campo realizado em junho pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) indica que houve decréscimo na cultura de feijão do ano agrícola 1999/2000 no Estado de São Paulo tanto na área como na produção. Considerando a produção de feijão das águas, da seca e de inverno, a área cultivada teve queda de 28,1% ao lado de 24,8% na queda da produção. Em 1999/2000 o Estado de São Paulo produziu 224 mil toneladas de feijão, sendo 94,45 mil toneladas de feijão das águas, 77,4 mil toneladas de feijão da seca e 52,76 mil toneladas de feijão de inverno. A maior queda ocorreu justamente com o de inverno, com decréscimos de 47% na área e 39% na produção, com safra castigada tanto pela estiagem na época de plantio como pela geada na fase madura (Tabela 1).

TABELA 1 - Estimativa de Área e Produção de Feijão, por Safra, no Estado de São Paulo,
1998/99 e 1999/2000

Safra
Área (1.000 ha)
Variação 
(%)
Produção (1.000 t)
Variação
(%)
1998/99
1999/2000
1998/99
1999/2000
Águas1
77,56
66,23
-14,6 
100,14
94,45
-5,7
Seca1
98,89
72,6
-26,6
111,95
77,4
-30,9
Inverno1
63,92
33,89
-47,0
86,61
52,76
-39,1
Total
240,37
172,72
-28,1
298,7
224,61
-24,8
1 Estimativa final da safra 1999/2000.
2 Estimativa preliminar de junho de 2000.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

            No Estado de São Paulo, o feijão das águas é produzido basicamente em três EDRs, quais sejam: Avaré, Itapetininga e Itapeva. Em termos de área plantada, em 1999/2000, ocuparam, respectivamente, 33,11%, 16,83% e 24,22% da área total, com 74,16% do Estado. Em termos de produção, foram produzidos 33,62%, 15,98% e 28,90%, respectivamente, nesses EDRs, com 78,50% da produção estadual.
            A área média de cada uma das safras anuais nos últimos três anos foi: 71,76 mil hectares (safra das águas), 87,70 mil hectares (safra da seca) e 57, 08 mil hectares (safra de inverno). A produção média dos três anos foi, respectivamente, de 89,46 mil toneladas, 101,96 mil toneladas e 78,65 mil toneladas, em cada safra. Portanto, a safra de feijão da seca ganhou no período tanto em área como em produção, perdendo, no entanto, em produtividade (com 1.166kg/ha) para feijão de inverno (com 1.380kg/ha). Em 1998/99 houve maior plantio e maior produção em cada uma dessas safras no Estado. A produção paulista de feijão teve a seguinte evolução: 254 mil toneladas (safra 1997/98), 298 mil toneladas (safra 1998/99) e 257 mil toneladas (safra 1999/2000), produzindo, portanto, em torno de 10% da produção nacional.
            Em agosto inicia-se a época de plantio oficial de feijão das águas. Mas o clima não tem sido apropriado nem para o preparo do solo nem para a semeadura, exceto em algumas regiões, segundo especialistas em Meteorologia Agrícola. As manchetes relativas ao clima do Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo em agosto foram desanimadoras para os produtores agrícolas: Preparo do solo pode ser iniciado em alguns locais (02/agosto); Estiagem causa queda nos frutos do café e dos citros (09/agosto); Safra de verão pode atrasar se persistir a estiagem (16/agosto); e Chuva ainda não foi suficiente para plantar (23/agosto). Porém, no último artigo (30/agosto), Paulo Sentelhas, Agrônomo, especialista em Agrometeorologia, afirma: 'Já é possível começar o plantio da safra das águas: em Assis, Campinas, Tatuí e Pariquera-Açu, a elevada disponibilidade de água do solo, acima de 60% do armazenamento máximo, permite a semeadura das lavouras da safra das águas, como feijão, milho, soja, algodão e amendoim.'
            A conjuntura atual no mercado paulista de feijão é favorável para os produtores, com os preços recebidos diários estabilizados em R$52,50 a saca, patamar considerado muito bom, bastante acima do custo operacional de produção por saca, mas a estiagem de agosto vai atrapalhar muito os produtores animados com o plantio de feijão. Para os produtores paulistas, agosto é um mês ideal, do ponto de vista econômico, para o plantio de feijão: a colheita desse plantio em novembro, se tudo correr bem, tem grandes chances de obter preços atraentes, pois ela preenche a lacuna na oferta após a entressafra que normalmente ocorre em outubro no mercado paulista.
            A perspectiva para a safra de feijão das águas 2000/2001 é de aumento de 10% na área cultivada, devido aos preços atrativos do produto no momento. Se o clima continuar favorável até o final de outubro (final do prazo oficial de plantio), pode-se esperar um aumento de até 15% na área. Isso porque o feijão das águas 1999/2000 foi plantado em condições muito desfavoráveis de clima, devido à severa estiagem, tendo atrasado em cerca de 60 dias, panorama que não deve ocorrer nesta safra. Em resumo, o preço atual do grão, que afeta o ânimo dos produtores, e as condições climáticas, que afetam o cronograma de plantio, estão bem melhores que o ano anterior.
            Até que ocorra a colheita das águas em novembro, o mercado de feijão valorizará certamente o produto novo, recém-colhido, escasso no cenário, pois na maioria dos estados produtores já está se encerrando a colheita de inverno. Sorte do produtor que, com tecnologia moderna, pode driblar os obstáculos impostos pela natureza.

 

Data de Publicação: 04/09/2000

Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor