Valor Da Produção E Mercado De Trabalho Na Agricultura Paulista, 1995-2002

            O setor agropecuário tem sido um dos mais dinâmicos da economia estadual. No período de 1995 a 2002, o valor da produção agropecuária paulista, em termos reais, cresceu à taxa média anual de 4,65%. Apenas nos anos de 1996 e de 1999 houve decréscimos, enquanto nos demais anos houve crescimento (tabela 1). Na composição da produção agropecuária, a cana-de-açúcar permanece como principal produto agrícola do Estado, com participação em 2002 de 29,55% no valor da produção estadual. A seguir, aparecem a carne bovina, com 15,75%; a laranja (indústria+mesa), com 15,82%; a carne de frango (5,45%); o milho (4,60%); ovos (3,84%); a soja (3,43%); o leite (2,95%); e o café, com 2,25%1.

TABELA 1: Valor da Produção Agropecuária Anual e Ocupação da Mão-de-obra Agrícola, Estado de São Paulo, 1995-2002

Ano
VP (Corrente)
VP (real)1
Ocupação agrícola
(em R$ bilhões)
(em milhões de pessoas)
1995 9,23 15,33 1,23 
1996 9,56 13,71 1,27 
1997 11,25 15,09 1,18 
1998 12,87 16,73 1,28 
1999 12,81 15,88 1,27 
2000 14,69 17,01 1,31 
2001 17,44 18,9 1,17 
20022 20,3 20,3 1,24 
1Com preços médios de 2002, em reais, corrigido pelo IPCA
2Estimativa preliminar com preços médios de janeiro a outubro de 2002
Fonte: Instituto de Economia Agrícola – APTA/SAA-SP.

            No mesmo período, o número de pessoas ocupadas na agricultura paulista oscilou do máximo de 1,31 milhão em 2000 para o mínimo de 1,17 milhão em 2001. Ao longo desse período, a taxa de crescimento da ocupação da mão-de-obra foi de -0,06% ao ano. Portanto, paralelamente ao dinamismo do setor, tem ocorrido a incorporação de novas tecnologias, sobretudo na operação de colheita, elevando a produtividade do trabalho na agricultura e, conseqüentemente, ocupando menos pessoas mesmo diante de safras maiores. No Estado de São Paulo, o desemprego ocasionado pela evolução tecnológica tem sido fator relevante para a diminuição da população trabalhadora (tabela 2).

Tabela 2: Estimativas dos Paramêtros e da Taxa Anual de Crescimento

Variáveis Estimativas dos Parâmetros  Valor de t Taxa anual de crescimento
Salários Rurais 
Administrador 0,000529 0,108104 0,05 ns
Tratorista 0,012708 2,223681 1,28c
Mensalista 0,022420 4,176528 2,26a
Capataz 0,003989 0,813130 0,4 ns
Diarista -0,001470 -0,262860 -0,15 ns
Volante -0,018560 -4,09905 -1,84 a
Ocupação Agrícola -0,000590 -0,089949 -0,06 ns
Produtividade do trabalho 0,446759 3,569187 4,79b
a= significativo em nível de 1%
b= significativo em nível de 5%
c= significativo em nível de 10%
ns= não significativo
Fonte: Instituto de Economia Agrícola – APTA/SAA-SP.

            Pode-se, também, obter um indicador da produtividade do trabalho efetuando-se a relação entre o valor da produção anual e o total de pessoas ocupadas na agropecuária. Em 1995, cada trabalhador ocupado respondia por R$ 12,5 mil do valor da produção, enquanto em 2002 esse valor passou para R$ 16,4 mil, ou seja, um crescimento de 31,2%. Embora tenham ocorrido oscilações nesse indicador durante o período considerado, a taxa de crescimento da produtividade do trabalho foi de 4,8% ao ano (tabela 2).
            Quanto à ocupação de mão-de-obra, cana-de-açúcar, café e laranja ainda são as mais importantes, pois foram responsáveis por quase 60% do total de equivalentes homens ano demandados no cultivo dos principais produtos da agricultura paulista, em 20012. Apresentam, portanto, elevada contribuição na dinâmica de ocupação da mão-de-obra rural, apesar da diversidade de atividades da pauta de produção agropecuária no Estado de São Paulo.
            A importância desses cultivos para a ocupação da mão-de-obra rural foi evidenciada no estudo de PINO et al (2001)3, por meio do cálculo da ocupação de mão-de-obra por unidade de área. A cultura de café utiliza cerca de 5 trabalhadores permanentes e o máximo de 28 trabalhadores temporários por 100 hectares, enquanto a cana de açúcar emprega 2 trabalhadores permanentes e o máximo de 29 trabalhadores temporários por 100 hectares. A citricultura ocupa 3 trabalhadores permanentes e o máximo de 7 trabalhadores temporários por 100 hectares. A cultura do algodão ocupa, principalmente, trabalhadores temporários, ou seja, 18 por 100 hectares. Já as atividades de fruticultura, floricultura, olericultura e heveicultura demandam trabalhadores permanentes. As atividades de reflorestamento e pecuária, por sua vez, são menos empregadoras de mão-de-obra por unidade de área.
            Apesar do crescimento da colheita motomecanizada, a cana-de-açúcar ainda demandou cerca de 35% da mão-de-obra necessária para o cultivo dos principais produtos da agricultura paulista (SEADE, 2002). A produção de grãos já apresenta todas as fases do processo produtivo passíveis de mecanização, sendo a colheita preponderantemente motomecanizada na soja, no trigo e no milho e, parcialmente, no feijão e no amendoim. No caso do algodão, o sistema de produção existente no Estado de São Paulo, baseado na colheita manual, foi extremamente prejudicado com as importações do produto, notadamente até meados dos anos 90s. A falência deste sistema afetou diretamente pequenos proprietários e trabalhadores temporários, mas a colheita manual ainda é relevante4.
            No período 1995-20025, de modo geral, constatou-se evolução positiva dos salários rurais das categorias de trabalho com recebimento mensal. As maiores taxas de crescimento foram observadas para mensalista (2,27% ao ano) e tratorista (1,28% ao ano). Valores menores foram obtidos para capataz (0,40% ao ano) e administrador (0,05% ao ano). Para as categorias com recebimento diário, a situação foi desfavorável, pois a taxa de crescimento das diárias pagas aos diaristas foi de –0,15% ao ano e a dos volantes, de –1,84% ao ano. Do início da década de noventa para 1994-1995, ocorreu uma recuperação salarial, decorrente, em grande parte, da situação de estabilidade econômica e do controle da inflação, viabilizados pelo Plano Real (tabela 2 e figuras 1 e 2).

 

            As informações sobre ocupação da mão-de-obra e valor da produção da agricultura paulista, relativas ao período 1995-2002, mostram tendência levemente declinante da ocupação agrícola6 em contrapartida ao crescimento do valor da produção das atividades agropecuárias. Houve, portanto, incremento na produtividade do trabalho. As taxas de crescimento dos salários rurais foram inferiores à taxa de crescimento da produtividade do trabalho. Diante do panorama atual, marcado pelo desafio da competitividade, os produtores rurais se modernizaram para sobreviver aos baixos preços e às oscilações de mercado. Buscaram tecnologias disponíveis nos centros de pesquisa e se adaptaram às novas práticas de mercado.
            Vale lembrar, que mesmo diante da tecnificação, uma safra maior sempre ocupa mais trabalhadores, auxiliando na colheita e no pós-colheita, ou seja, transporte e ensacamento dos produtos nas propriedades rurais. Da mesma forma, o desenvolvimento do agronegócio gera novos empregos nos centros urbanos, através do incremento da venda de máquinas e equipamentos, de sementes e insumos agrícolas, prestação de serviços de assistência técnica e de informação agrícola e melhoria nos transportes.
 
 

1 MARTIN, N.B. Valor da produção da agropecuária do Estado de São Paulo em 2002 – estimativa preliminar.  Disponível em < http://www.iea.sp.gov.br/ >. Acesso em dez. de 2002.
2SEADE. Fundação SEADE. Sensor Rural. Disponível em <
http://www.seade.gov.br>. Acesso em 27 jun. 2002.
3 PINO, F.A.; FRANCISCO, V.L.F.S.; MARGARIDO, M.A.; VICENTE, M.C.M Modelling rural labor: an application to São Paulo, Brazil, Economia Aplicada, v.6, n. 2, p: 411-427, abril/junho 2002.
4 VICENTE, M.C.M.; FRANCISCO, V.L.F.S; BAPTISTELLA, C.S.L.   Mercado de Trabalho no Rural Paulista,2000-01; Informações Econômicas, v.32, n.9, p:55-61, set 2002.
5 As informações são obtidas por meio de levantamento subjetivo, realizado junto aos técnicos das Casas de Agricultura de todos os municípios do Estado de São Paulo, nos meses de abril e novembro. O levantamento abrange seis categorias de trabalho: administrador, tratorista, mensalista, capataz, diarista e volante. Os dados foram deflacionados pelo IPCA do IBGE e foram calculadas taxas de crescimento com base nas médias anuais, exceto para 2002 quando se dispunha apenas dos dados de abril. 
6 Em contrapartida, no período de novembro de 2000 a novembro de 2001, o emprego em atividades não agrícolas nas unidades de produção agropecuária (UPAs) cresceu 36%, ou seja, acréscimo de 34,3 mil pessoas. 
 

Data de Publicação: 15/01/2003

Autor(es): Maria Carlota Meloni Vicente (carlota@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor