Impacto dos recentes aumentos de combustíveis e máquinas no custo das operações agrícolas

            O ano de 2002 e início de 2003 foram bastante instáveis do ponto de vista econômico. Fatores externos e internos fizeram oscilar fortemente o mercado de ações, de câmbio e de commodities como é o caso do petróleo, com generalizada elevação de preços internos.
            Levando-se em conta tal situação, foram levantadas informações de preços de combustíveis e derivados e de máquinas e implementos agrícolas nos postos de abastecimento e das revendedoras, ambos localizados no Estado de São Paulo, referentes ao período. Com esses preços, os custos horários das máquinas foram atualizados, de maneira a analisar o impacto do aumento dos preços bem como seus reflexos no custo de produção das culturas de algodão, feijão, milho e soja.
            Na metodologia de elaboração do custo horário das máquinas, utilizado pelo IEA, são considerados, além do óleo diesel, os itens de manutenção preventiva, como óleos lubrificantes, filtros e graxas, segundo recomendações do fabricante. Não se leva em conta neste custo as despesas com o operador, a depreciação e os juros sobre o capital.
            As matrizes de custo operacional total levantadas pelo IEA são constituídas de: título, operações, empreita, material consumido e outros itens que englobam juros de financiamento, encargos e depreciação. As operações compreendem os gastos com a mão-de-obra e as operações mecanizadas, tais como aração e gradeação. Para o presente estudo, destacou-se da matriz somente essas operações mecanizadas das culturas selecionadas.

Combustíveis e lubrificantes

            Ocorreram grandes variações nos preços dos combustíveis e lubrificantes observados no período de 12 meses (março de 2002 a março de 2003). Os combustíveis tiveram aumento médio de 58,49%, superando largamente a inflação, medida pelo IGP-DI, de 44,88% (tabela 1).

TABELA 1 – Variação dos preços de combustíveis e derivados, Estado de São Paulo, 2002/2003

Combustíveis e óleos Mar/02
(R$)
Mar/03
(R$)
Variação
(%)
Óleo diesel (litro) 0,87 1,54 77,01
Gasolina comum (litro) 1,52 2,22 45,98
Gasolina aditivada (litro) 1,59 2,26 42,50
Alcool (litro) 0,92 1,55 68,48
Óleo lubrificante (SAE-30W)(litro) 3,02 5,40 79,10
Óleo lubrificante (SAE-40W)(litro) 2,75 5,00 82,15
Óleo lubrificante (15W-50)(litro) 4,13 6,57 58,95
Óleo lubrificante (SAE-90W)(litro) 5,08 6,70 31,82
Óleo lubrificante (SAE-80W-140)(litro) 4,69 6,60 40,88
Graxa de litio (kg) 4,06 6,95 71,32
Fonte: Dados da pesquisa.

            O óleo diesel, combustível mais utilizado na agropecuária, segundo dados coletados, aumentou 77,01%. O preço da gasolina comum teve elevação de 45,98%; o da aditivada, de 42,50%; e o do álcool, de 68,48%.
            Os aumentos nos preços dos óleos lubrificantes, necessários à manutenção preventiva de caminhões, tratores e colhedoras, variaram de 31,82% (para aqueles utilizados nas transmissão e hidráulico) a 82,15% (óleos lubrificantes para carter dos motores). O aumento em termos médios ficou próximo da majoração dos combustíveis (58,58%).

Máquinas e Implementos

            No caso das máquinas agrícolas, os acréscimos nos preços dos tratores de potência entre 60 e 80cv foram em média 30,74%; nos de potência entre 81 e 100cv, 38,33%; e naqueles de potência entre 101cv e 120cv, 59,05%. Infere-se que estes, dotados de maior tecnologia com componentes importados em maior grau, tiveram reajustes maiores (tabela 2).

TABELA 2 – Variação nos preços das máquinas agrícolas, Estado de São Paulo, 2002/2003

Máquinas Mar02
(R$)
Mar03
(R$)
Variação
(%)
Trator de rodas (60 a 80cv) 36.675,00 47.950,00 30,74
Trator de rodas (81 a 100cv) 45.000,00 62.250,00 38,33
Trator de rodas (101 a 120cv) 53.750,00 85.487,00 59,05
Colhedora de cereais (100 a120cv) 134.500,00 192.000,00 42,75
Colhedora de cereais (121-210cv) 155.500,00 242.320,00 55,83
Implementos agrícolas (diversos) - - 30,38
Fonte: Dados da pesquisa.

            Já as colhedoras de maior potência tiveram os preços reajustados em índice mais elevado. Deve-se levar em conta que estes tratores e colhedoras com tecnologia mais avançada sofreram maior influência da variação do câmbio, uma vez que seus componentes são importados.
            Os preços de implementos tradicionais apresentaram pequenos aumentos e alguns deles até caíram. Porém, os implementos modernos, tais como os de plantio direto, tiveram significativos aumentos, embora em média tenham se situado bem abaixo dos de combustíveis e máquinas (30,38%).

TABELA 3 – Impacto do aumento dos combustíveis e máquinas no custo horário de operação

Tratores e colhedoras Mar/02
(R$)
Mar/03
(R$)
Variação
(%)
Trator de rodas (60 a 80cv) 12,58 20,40 62,16
Trator de rodas (81 a 100cv) 16,66 27,81 66,93
Trator de rodas (101 a 120cv) 19,01  32,49 70,91
Colhedora de cereais (100 a 120cv) 31,56 49,44 56,65
Colhedora de cereais (121 a 210cv) 41,66 69,54 66,92
Fonte: Dados da pesquisa.

            Tal como o esperado, esses aumentos refletiram-se diretamente no custo horário de operação dessas máquinas. Assim, o aumento médio foi de 66,67% nos tratores de roda e de 61,29% nas colhedoras (tabela 3).
            Essas elevações no custo horário foram aplicadas nas matrizes do custo de produção de algumas culturas, apenas no item das operações que envolvem o uso de máquinas (tabela 4).

TABELA 4 – Reflexo do aumento dos combustíveis e máquinas nas operações mecanizadas das culturas

Cultura/tecnologia/região Mar/02
(R$)
Mar/03
(R$)
Variação
(%)
Algodão (PC), EDR S.J.BoaVista,184@/ha 439,35 722,09 64,35
Feijão dasÁguas(PC), EDR de Avaré, 35sc/ha 174,09 283,66 62,94
MilhoVerão(PC) EDR Itapetininga,90sc/ha 173,42 271,73 56,69
MilhoVerão(PD)1 EDR Itapetininga,100sc/ha 100,08 160,88 60,75
Soja(PC) EDR de Orlândia, 47sc/ha 99,95 160,82 60,90
Soja(PC) EDR de Assis,50sc/ha 84,38 135,68 60,80
 Fonte: Levantamento de custo do IEA.

            Os resultados dessa substituição nas operações mostraram que os custos da operações mecanizadas resultaram em aumentos que variaram de 56,69% na cultura do milho de verão, na região do Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Itapetininga, a 64,35% (o mais alto custo) na cultura do algodão, plantio convencional (PC) na região (EDR) de São João da Boa Vista.
            O feijão das águas (PC), no EDR de Avaré, teve aumento próximo a 63% nas operações, considerado demasiadamente alto pelos produtores numa economia dita estabilizada. O milho e a soja tiveram variação em torno de 60 a 61%, também considerada alta.

Conclusões

            A instabilidade econômica, observada neste período, provocou aumentos em vários setores da economia, como combustíveis e derivados, máquinas e implementos, peças, adubos, corretivos, defensivos, custo de transporte de insumos e de produção, mão-de-obra, assistência técnica e de serviços comprados.
            Todos esses aumentos afetaram significativamente o setor agrícola, levando à maior necessidade do capital de giro e do volume de financiamento de custeio das culturas. Isto inviabiliza o orçamento e o planejamento financeiro que, não raras vezes, tem que se socorrer dos empréstimos fora do crédito rural, a juros elevados, o que encarece ainda mais o custo de produção.
            O empresário agrícola geralmente não consegue repassar esses aumentos de preços dos insumos, uma vez que os preços dos produtos são determinados pelo mercado. Então, corre o risco de ter que absorver o diferencial entre o custo e o preço, comprometendo a renda e descapitalizando a propriedade. A repetição desse fato, por anos seguidos, tem levado produtores à insolvência.

1 PD = Plantio Direto.

Data de Publicação: 13/05/2003

Autor(es): Hiroshige Okawa (okawa@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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