Café: quedas nos preços anulam aumentos na quantidade exportada

            No período de 1997 a 2002, o valor das exportações brasileiras de café apresentou acentuada tendência de queda, passando de aproximadamente US$ 3,2 bilhões para cerca de US$ 1,4 bilhão, com diminuição, portanto, de 56% no valor exportado (figura 1)1.

            A quantidade exportada cresceu continuamente entre 1997 e 2002, com exceção do ano 2000, em que houve queda de 21% na quantidade exportada em comparação com 1999. No período 1997 a 2002, a quantidade exportada aumentou 65%. Os preços recebidos pelos exportadores (em US$ FOB) diminuíram ao longo de todo o período analisado, com a maior queda ocorrendo em 2001 (-38% em relação ao ano anterior). Em 2002, os preços médios recebidos pelos exportadores acumulavam perdas de 74% em comparação com 1997 (figura 2).

            Na pauta de exportações brasileiras de café, predomina o grupo de produtos básicos (representando entre 86% e 91% do valor exportado no período), que é formado quase que completamente por café não-torrado, não-descafeinado, em grão. No grupo de produtos manufaturados, o café solúvel, mesmo descafeinado, representa de 91% a 93% do valor exportado.
            Entre 1997 e 2002, a quantidade exportada de café do grupo de produtos básicos aumentou 79%, enquanto os preços (em US$ FOB) caíram 76%. Transformados em reais pelo valor do dólar médio anual (e deflacionados pelo IPCA anual), esses valores representam queda real de 50,7% em moeda nacional, comparando 2002 com 1997.
            No grupo de produtos manufaturados, a quantidade exportada diminuiu abruptamente em 1998 (menos 30% em relação a 1997), apresentando tendência de crescimento desse ano em diante, para atingir em 2002 índice 6% superior ao de 1997.
            Os preços (em US$ FOB) observados para esse grupo diminuíram bem menos do que os dos produtos básicos, acumulando perdas de 54% no período. Em moeda nacional, transformando os valores pelo dólar médio anual e deflacionando-os pelo IPCA, os preços de 2002 foram 34,4% inferiores aos de 1997. Portanto, as exportações de cafés com maior valor agregado cresceram muito menos, embora os preços no mercado internacional mostrem queda muito menor do que as dos produtos básicos.
            A União Européia é o destino mais importante do café exportado pelo Brasil, representando 53% do valor total em 2002, com destaque para Alemanha (39% do total do bloco) e Itália (16% do total do bloco). Em segundo lugar, aparece o NAFTA (Acordo de Livre Comércio das Américas), com 19% do valor exportado em 2002, especialmente os Estados Unidos (87% do total do bloco). A Ásia (excluído o Oriente Médio) é o terceiro mercado, respondendo por 10% do valor exportado em 2002, com o Japão representando 86% das compras (figura 3).
            É interessante destacar que os dois primeiros desses blocos de países são compradores de produtos básicos. Os produtos de café industrializados têm como principal mercado a Europa Oriental (36% do valor total), com a Federação da Rússia representando 38% das aquisições desse grupo dentro do bloco. Em seguida, aparece a Ásia (excluído o Oriente Médio), com 23% do valor exportado, em especial o Japão, destino de 72% do valor das exportações do grupo de manufaturados para essa região (
tabela 1 ).


            Devido à conjuntura desfavorável de preços no mercado internacional, o incremento nas exportações de café torrado vem sendo apontado como alternativa de agregação de valor, embora esse tipo de mercadoria pertença também ao grupo de produtos básicos. Apesar do expressivo aumento nas exportações de café torrado ocorrido entre 1997 e 2002, essas mercadorias (café torrado não-descafeinado e café torrado descafeinado) representam parcela muito pequena do valor total do café exportado pelo País, passando de 0,08% em 1997 para 0,41% em 2002.
            Enquanto o valor total de exportações de café diminuiu mais de 50%, o valor de café torrado exportado mais do que dobrou. Todavia, esse crescimento deve-se ao aumento observado na quantidade exportada, que em 2002 foi cerca de 8,5 vezes superior à de 1997. Os preços desse tipo de café, no mercado internacional, acumularam perdas similares ao total do grupo de produtos básicos, da ordem de 76% para o café torrado não-descafeinado e de 64% para o café torrado descafeinado (figura 4).

            O crescimento nas exportações de café torrado não-descafeinado, em 2001 e em 2002, deve-se basicamente às compras da Colômbia (33,3% e 30,8%, respectivamente), que foi o principal destino dessas mercadorias, ao lado dos Estados Unidos (que representaram 23,9% e 35,7% do valor nesses dois anos). Pode-se especular que as importações realizadas pela Colômbia devem estar mais relacionadas com dificuldades eventuais de cumprir contratos de suas próprias exportações do que com um mercado perene para o produto brasileiro. Portanto, é possível que a tendência dos aumentos observados em 2001 e em 2002 não se repita.
            Quanto ao café torrado descafeinado - que representou somente 0,02% do valor total das exportações em 2002 -, verifica-se uma concentração ainda maior no destino das exportações: os Estados Unidos representaram 66,6% desse mercado em 2002, seguidos pela França (12,2%).
            Em resumo, aparentemente apenas o café solúvel representa uma alternativa diferenciada, uma vez que as diminuições de preços no mercado internacional foram inferiores às dos produtos básicos (tanto os cafés não-torrados quanto os torrados). Todavia, aumentos nessas exportações dependeriam de melhorias na competitividade das indústrias nacionais de café solúvel. Esse objetivo, mesmo se alcançado, não representaria necessariamente uma elevação de rentabilidade no nível do produtor rural.

 

1Para analisar esse processo, foram construídos índices de quantidade e de preço, utilizando a fórmula ideal de Fisher, face às suas reconhecidas vantagens teóricas para representar processos produtivos reais.

Data de Publicação: 16/06/2003

Autor(es): José Roberto Vicente (jrvicente@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor