Café: impasse nas cotações

           Junho não foi favorável para o mercado de café, pois as instabilidades climáticas previstas para o Brasil não ocorreram, induzindo o mercado a queda expressiva nas cotações médias do mês para o café arábica. No mercado de arábica na Bolsa de Nova Iorque (Contrato C, segunda posição), observou-se baixa de 8,38% na posição de setembro e, no mercado de café robusta na Bolsa de Londres, houve redução de 8,87%. Para os contratos de arábica na BM&F, a queda atingiu 5,67%, enquanto para o preço composto diário da Organização Internacional do Café (OIC) a redução foi de 8,02% (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros, 2001 a 2003

                  Fonte: Gazeta Mercantil

            A confirmação da menor safra para o ano agrícola de 2002/03, associada à valorização do real, reduziu o diferencial de preço entre o mercado futuro da BM&F e o do Contrato C na Bolsa de Nova Iorque, favorecendo os cafeicultores brasileiros. Em 2001, este diferencial foi em média de US$ 14,89 a saca de 60 quilos, elevando-se para US$ 21,54 a saca na média do período de junho a dezembro de 2002. Em junho de 2003, o diferencial reduziu-se para US$ 16,52/saca, patamar sujeito a novas reduções.
            Todavia, no mês de junho, mesmo com tendência de queda, o mercado internacional de café foi fortemente influenciado pelas expectativas de geada no Brasil, apresentando elevada flutuação. Essa flutuação nas cotações do café arábica foi tão intensa que, a partir da segunda quinzena de junho, as cotações atingiram o menor valor dos últimos 10 meses.

Gráfico 2 - Cotações diárias no mês de junho, na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição, 2003

                  Fonte: Gazeta Mercantil (www.gazetamercantil.com.br )

            Os elevados estoques dos países importadores permanecem como a variável mais importante na formação do preço do café no mercado internacional, fazendo com que mesmo as menores colheitas em andamento, assim como as previstas nos países produtores, principalmente Brasil, Colômbia e Vietnã, não revertam a tendência de baixa do mercado.
            O cafeicultor brasileiro enfrenta, ainda, a contínua valorização do real, que, com a queda das cotações no mercado internacional, vem potencializando as baixas nos seus preços médios mensais. Nem mesmo as realizações dos leilões de contratos de opções, ocorridos no mês, foram capazes de afetar essa tendência (gráfico 3).
            Todavia, mesmo com as instabilidades das cotações de café em mercados de futuros nos últimos 12 meses, verifica-se alta acumulada nos preços médios mensais do arábica de 36,14% e de 20,04%, respectivamente, na BM&F e na Bolsa de Nova Iorque. Para o robusta, na Bolsa de Londres, essa alta alcançou 29,37%.

Gráfico 3 – Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café no Estado de São Paulo, período de 2000 a 2003

                  Fonte: IEA

            De igual maneira, quando se avalia a trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, verifica-se que cresceram 52,23%. Mas é importante destacar que, desde outubro de 2002, se têm mantido os mesmos patamares de preços, com forte recuo em junho de 2003 (-11,65%). Isto tem gerado enorme insatisfação junto a produtores e cooperativas, pressionando o governo para implementar leilões de opções de preços para setembro e novembro, no sentido de elevar os preços do produto, o que se espera ocorra em junho.

Exportações no primeiro semestre

            As exportações brasileiras de café (verde e solúvel) apresentaram excelente desempenho no primeiro semestre de 2003 frente a igual período do ano anterior. O café verde (somatória do arábica mais o robusta) teve incremento superior a 11,16% nos embarques, representando 1,25 milhão de sacas a mais. Também cresceram os embarques de café solúvel, com elevação de 13,80% no volume exportado (ou 163,7 mil sacas). Em termos de receitas cambiais, as transações ocorridas permitiram ganho de US$ 703 milhões, com crescimento de 29,85% frente ao primeiro semestre de 2002 (tabela 1).

Tabela 1 – Desempenho das exportações brasileiras de café
(em sacas de 60 kg e US$ mil)

Período
Volume
Receita
Robusta
Arábica
Verde Total
Solúvel
Total Geral
Total
Jan.jun/2003
1.646.341
9.408.069
11.088.246
1.350.033
12.438.279
703.036
Jan.jun/2002
1.572.591
8.393.674
10.003.227
1.186.287
11.189.514
541.389
Fonte: Conselho dos Exportadores de Café do Brasil - CECAFÉ (www.cecafe.com.br)

            As receitas cambiais com exportações de café torrado e torrado e moído tiveram excelente desempenho, muito embora tenha-se observado ligeiro declínio nos volumes embarcados (tabela 2). Tal resultado se alinha positivamente com o esforço em agregar valor às exportações do agronegócio café. A retomada do mercado estadunidense e sua maior demanda pelo café torrado e moído, particularmente o descafeinado, constituem cenário promissor para esse negócio, cuja trajetória deverá manter-se ascendente com o aumento do número de torrefadoras comercializando com o exterior.

Tabela 2 – Desempenho das exportações brasileiras de café torrado e moído, janeiro a junho de 2003

Período
Volume (sc 60kg)
Variação %
Receita (em US$ 1.000)
Variação %
2002
2003
2002
2003
Janeiro.
5.646 
9.436 
67 
204 
715 
250 
Fevereiro.
10.452 
4.132 
-60
393 
455 
16 
Março
3.409 
3.016 
-12
160 
360 
125 
Abril
5.540 
6.012 
198 
689 
248 
Maio
9.554 
8.102 
-15
311 
530 
70 
Junho.
2.361 
3.138 
33 
91 
384 
320 
Total
36.962 
33.836 
-8
1.358 
3.133 
131
Fonte: CECAFE (www.cecafe.com.br).

Estimativa da OIC sobre o consumo mundial

            A OIC 1 estima que a produção mundial de café deve apresentar forte queda no período 2003/04, em decorrência da acentuada redução na safra brasileira. A entidade prevê que a safra mundial alcançará de 100,1 a 102,4 milhões de sacas, bastante abaixo do consumo mundial (estimado em 108,8 milhões de sacas). Calcula-se ainda que a receita mundial das exportações de café em 2002 atingiu US$ 5,09 bilhões, valor esse muito abaixo da média desse agronegócio.
            A menor disponibilidade do produto poderá acentuar a tendência de alta nas cotações para o segundo semestre, muito embora o volume de estoques nas mãos dos países consumidores supere os 20 milhões de sacas, suficientes para um abastecimento de dois a três meses.

1 OIC: www.ico.org

Data de Publicação: 22/07/2003

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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