Produção recorde de sorgo no Estado de São Paulo

            A produção brasileira de grãos (cereais, leguminosas e oleaginosas) na safra 2002/03 deverá atingir 120,2 milhões de toneladas, de acordo com o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)1, realizado em junho de 2003. Essa estimativa corresponde a um aumento de 24,2% em relação à safra de 2001/02 e se constitui em novo recorde.
            Entre as culturas de grãos, além da soja e do milho, que em conjunto correspondem a mais de 80% da produção, outras também apresentaram crescimento expressivo, como as do sorgo granífero e do trigo. Ressalte-se ainda que, a partir da atual safra (com inclusão de dados de 2001/02), a CONAB e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2 passaram a levantar os dados da produção de triticale, um cereal de inverno.
            As condições altamente favoráveis do clima, como talvez nunca ocorrido no Centro-Sul brasileiro, possibilitaram a obtenção de produtividades recordes para todas as lavouras na maior parte das regiões produtoras.
            A cultura do sorgo, nas principais regiões do País, é realizada como segunda safra, em sucessão a uma cultura de verão, como a soja, com exceção de parte do Rio Grande do Sul. Esta cultura também se beneficiou das excelentes condições climáticas durante todo o ciclo.
            Conforme a CONAB, a produção nacional do sorgo deve atingir 1,356 milhão de toneladas, 69,9% a mais do que na safra precedente, devido tanto à expansão da área plantada (26,5%) quanto ao aumento da produtividade (34,4%) (tabela 1). A área plantada totalizou 619,7 mil hectares em todo o País. O aumento de área foi geral, com exceção do Rio Grande do Sul onde se constatou redução de 23%. A produtividade média da cultura foi de 2.189 kg/ha, com aumento em todas as regiões produtoras do País.

Tabela 1 - Previsão de área, produção e produtividade da cultura de sorgo, principais Estados, Brasil, safras 2001/02 e 2002/03

            A cultura do sorgo granífero está concentrada nos Estados das Regiões Centro-Oeste e Sudeste, os quais respondem por 85% da produção total do País na safra em curso. Goiás, com 489,4 mil toneladas, lidera o ranking dos Estados brasileiros, participando com 36% da produção do País. Nesse Estado, a área de sorgo cresceu 12%, enquanto a da cultura concorrente (milho safrinha) decresceu 5%. Em Mato Grosso, segundo maior produtor, a área do sorgo aumentou 45,5%, bem mais que a do milho safrinha (6%). Já em Mato Grosso do Sul, terceiro maior produtor nacional, os aumentos de área do sorgo e do milho safrinha foram praticamente iguais (50% e 55%, respectivamente).
            As estimativas da CONAB para São Paulo são muito inferiores às da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (realizadas por IEA e CATI, em junho de 2003) para esta cultura (segunda safra): área de 86.173 hectares; produção de 198.960 toneladas; produtividade média de 2.309 kg/ha. Além disso, em São Paulo, há uma primeira safra (safra das águas), com produção estimada em 2002/03 de 11.880 toneladas, área plantada (e colhida) de 4.366 ha e produtividade média de 2.721 kg/ha.
            Em decorrência da colheita recorde também do milho, do qual o sorgo é o substituto mais próximo na composição de rações para animais, os preços do cereal no Estado de São Paulo apresentaram quedas acentuadas no decorrer do primeiro semestre de 2003, com a aproximação da período de colheita (tabela 2 e figura 1).

Tabela 2 - Preços médios mensais de sorgo recebido pelos produtores, Estado de São Paulo, 1998 a 2003

FIGURA 1 – Evolução dos preços correntes de milho e de sorgo recebidos pelos produtores, Estado de São Paulo, Janeiro de 1998 a Julho de 2003

            Numa conjuntura de grande oferta de milho, o preço do sorgo tende a se distanciar (ficar abaixo) um pouco mais da média de 29% em relação ao preço do milho, constatado no período de 1995-20003. Com a reversão (alta) dos preços do milho nos mercados externo e interno a partir de agosto, dadas as notícias de quebras de safra nos Estados Unidos e nos países da União Européia, o Brasil poderá exportar boa parte dos excedentes da presente safra, o que poderá atrelar (puxar) os preços do sorgo.
            No novo cenário agrícola brasileiro, em que o País se firmou definitivamente como exportador de milho, o sorgo aparece como um salva-guarda no mercado interno, aliviando eventual escassez de oferta do milho, no atendimento da demanda da avicultura, da suinocultura e da indústria de rações.
            A crescente importância do sorgo no agronegócio brasileiro exige a divulgação de maior número de informações sobre a produção e a cultura desse cereal, como preços recebidos pelos produtores, custos de produção e consumo. Nesse sentido, não se justifica a inexistência de levantamentos de preços de mercado em Estados grandes produtores, como Goiás.

1 CONAB: www.conab.gov.br
2 IBGE: www.ibge.gov.br
3TSUNECHIRO, A.; MARIANO, R.M.; MARTINS, V.A. Produção e preços de sorgo no Estado de São Paulo, 1991-2001. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v.1, n.1, p.15.24, 2002.


 

Data de Publicação: 10/09/2003

Autor(es): Alfredo Tsunechiro (tsunechiro@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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