Projeções de produção de laranja em São Paulo até 2009

            Este artigo apresenta estimativas de produção de laranja no Estado de São Paulo com base nos dados divulgados periodicamente pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA/APTA/SAA-SP). Estima projeções de colheitas até 2009, aplicando cálculos de produtividade média e de número de plantas por quatro faixas etárias.
            Na projeção dos números de árvores para os próximos anos, admitiu-se que seriam plantadas, em São Paulo, 12 milhões de mudas em 2002/03 e 10 milhões de mudas por safra de 2003/04 até 2008/09, em função da disponibilidade de mudas e de porta-enxertos nos viveiros telados.
            Considerou-se, também, que a taxa de erradicação dos pomares, distribuída por quatro faixas etárias, será mantida aos níveis da década de noventa1, admitindo-se, a partir de 2002, três taxas anuais de eliminação ou morte de plantas2: 4% e 6% do total de árvores plantadas e de um número fixo de 10 milhões de plantas por ano (equivalentes a aproximadamente 5%).
            Cabe ressaltar que os resultados obtidos devem ser vistos como projeções e não estimativas de produção porque a produtividade por planta pode variar de ano para ano em função, principalmente, dos tratos culturais que os produtores dedicarão a seus pomares, inclusive com uso de irrigação; dos preços recebidos pelos citricultores e resultados financeiros, bem como do clima durante a safra, em especial na época de florada das plantas3.

Projeções de produção

            A estimativa final de produção de laranja na safra agrícola 2000/01 (industrial 2001/02) foi de 328,1 milhões de caixas (40,8/kg), no Estado de São Paulo. O número de árvores em produção (185,0 milhões) revela uma redução de 16,1 milhões em relação ao recorde de 201,1 milhões registrado em 1999.
            Em 2001/02, a produção aumentou para 361,7 milhões de caixas e o número de plantas em produção para 187,8 milhões. Para 2002/03, levantamento feito em junho de 2003 mostrou estimativa de produção de 333,0 milhões de caixas.
            Para 2001, a distribuição calculada por faixa de anos de plantio revela que 48% das árvores estariam com mais de 10 anos (99,0 milhões) e o número de plantas novas ainda sem produção (até 3 anos) seria de 21,7 milhões, ou seja, 11% em relação ao total plantado no Estado de São Paulo. As faixas com 4 a 7 anos e 8 a 10 anos representavam, respectivamente, 21% e 20%.
            A projeção da distribuição etária aponta aumento relativo do número de plantas que deverão estar na faixa com mais de 10 anos, quando se considera o período 2002 a 2009. Para a faixa entre 4 e 7 anos, a tendência deverá ser de redução até 2004 e de aumento a partir de 2005. A participação das plantas na faixa de 8 a 10 anos deverá ser decrescente, ao passo que naquela com até 3 anos de plantio deverá haver estabilidade (tabela 1).

Tabela 1 - Laranja - Projeção do número de plantas e composição relativa por faixa etária 1, São Paulo, 2000 a 2009

(em milhões e em porcentagem)


Ano
Plantas Novas (até 3 anos)
Plantas em Produção
Total de Plantas
Faixa etária (anos)
até 3 
4 a 7 
8 a 10 
acima de 10
2000
23,2
191,6
214,8
11
22
20
47
2001
21,7
182,8
204,5
11
21
20
48
2002
23,0
183,1
206,1
11
19
19
51
2003
27,1
173,9
201,0
13
16
19
52
2004
30,0
171,1
201,1
15
14
17
54
2005
28,0
174,7
207,7
13
18
15
54
2006
28,0
175,2
203,2
14
16
13
57
2007
28,0
175,4
203,4
14
18
11
57
2008
28,1
175,7
203,8
14
19
11
56
2009
28,1
175,9
204,0
14
18
11
57

1 Média de 5 cenários, composta de número estimado de plantio anual e taxas de erradicação em proporções variáveis por faixa etária de plantio.
            Os resultados obtidos indicam que a produção poderá variar de 368 milhões de caixas em 2002 até 346 milhões em 2009 quando se adota o cálculo em função das quatro faixas etárias, ou de 366 milhões em 2002 até 352 milhões em 2009 ao se admitir uma produtividade média de 2 caixas por planta em produção (tabelas 2 e 3 e gráfico 1).

Tabela 2 - Estimativa e projeção da produção de laranja no Estado de São Paulo, 2000 a 2009

(milhões de caixas)


Caixa/Planta Faixa Etária (anos)
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
0 até 3
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1,5 4 a 7
71,8
64,0
57,9
46,8
42,2
47,1
47,7
53,7
58,3
44,4
2,0 8 a 10
85,6
82,2
79,4
77,4
69,8
62,0
54,4
46,0
55,4
46,0
2,2 mais de 10
222,0
217,8
230,6
228,8
237,8
247,1
255,6
256,5
252,1
255,2
Total
379,4
364,0
367,9
353,0
349,8
356,2
357,7
356,2
365,8
345,6
Fonte: Dados da pesquisa
 
 

Tabela 3 - Projeção da produção de laranja no Estado de São Paulo, 2002 a 2009

(milhões de caixas)


Produtividade caixa/planta em produção
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2,0
366,2
347,8
342,2
349,4
350,4
350,8
351,4
351,8
2,1
384,5
365,2
359,3
366,9
367,9
368,3
369,0
369,4
2,2
402,8
382,6
376,4
384,3
385,4
385,9
386,5
387,0
Fonte: Dados da pesquisa.

            Ao se considerar que, de 1997/98 a 2000/01, o processamento de laranja no Brasil e nos Estados Unidos representou 86% do total mundial e que apenas nesses dois países a industrialização tem absorvido, em média, respectivamente, 71% e 82% de suas produções (FAO 2001), procurou-se comparar as projeções feitas para a Flórida pelo Departamento de Citrus da Flórida, em 2001, com os resultados obtidos para São Paulo, tendo em conta que as cotações de suco concentrado de laranja estão intimamente dependentes da oferta conjunta desses dois maiores produtores4. Em trabalho recente5, esse cenário também foi exposto para o período 1997/98 a 2002/03 (safra industrial), correlacionando os preços médios recebidos pelos produtores em São Paulo e (divulgados pelo CEPEA/ESALQ/USP) com a soma da produção de laranja em SãoPaulo  na  Flórida(gráfico 2). 

   

Fonte: Rigolin, A; USDA/IEA/CEPEA

            Como, diante da atual conjuntura mundial, não se dispõe de uma análise mais acurada da demanda e comércio de suco concentrado de laranja, torna-se difícil traçar um prognóstico quanto a preços, tanto no mercado internacional como no brasileiro, lembrando-se que o consumo de suco pronto para beber vem aumentando nos últimos cinco anos.

Considerações finais

            A princípio, afigura-se, salvo melhor juízo, que no momento em São Paulo os riscos fitossanitários são maiores que os riscos econômicos.
            Há algumas evidências de que as projeções mais recentes de produção na Flórida têm se mostrado menores que aquelas feitas na segunda metade da década de noventa. Outrossim, nas três últimas safras (2000/01 a 2002/03), as estimativas de produção foram inferiores às que haviam sido projetadas.
            Em São Paulo, em particular, acréscimos mais significativos poderão ocorrer caso a produtividade média por planta aumente nos próximos anos, como aliás é esperado diante de novo patamar tecnológico, partindo de mudas mais sadias.
            Finalmente, para que não haja novamente uma situação de ter que erradicar pomares, deve-se dar especial atenção aos problemas fitossanitários, parecendo mais recomendável investir em produtividade do que ampliar repentinamente os pomares. No caso dos viveiristas, dependentes de uma demanda derivada, a política de produção de mudas deverá acompanhar sistematicamente os resultados e tendências do mercado (preços) de laranja.

1 A exceção de 1999/2000 quando ocorreu significativa erradicação de plantas.
2 Não se considerou a forte erradicação por morte súbita dos citros, cuja propagação é desconhecida.
3 Em 2001 a produtividade calculada pelo IEA/CATI foi de 1,8 caixa/planta, devido à prolongada seca em 2000 particularmente no período de florada (setembro a novembro). Situação igual ocorreu em 2003, devido à seca em 2002.
4 BROWN, Mark G. – 'Florida Citrus Production Trends 2001/02 Through 2010/11' – Florida Department of Citrus, Gainesville (Florida, USA) – Janeiro de 2001.
5 RIGOLIN, Agnaldo – 'Desafios Futuros na Produção de Mudas de Citros' – CAMBUHY, Agosto de 2003 – palestra apresentado no Centro de Citricultura Sylvio Moreira.


 

Data de Publicação: 24/10/2003

Autor(es): Antonio Ambrósio Amaro (amaro.pingo@gmail.com) Consulte outros textos deste autor