Comércio Exterior da Floricultura Brasileira em 2010: situação crítica

 

            O valor das exportações dos produtos da floricultura brasileira encerrou o ano de 2010 com US$28,8 milhões, segundo a SECEX1, apresentando desempenho muito aquém (-8,8%) em relação a 2009. Exacerbando a situação, o valor das importações em 2010 (US$ 25,8 milhões) teve crescimento mais que proporcional (+29,4%) em comparação ao ano anterior. Consequentemente, o saldo comercial terminou o ano com uma queda histórica (-74,6%) apresentando superávit de apenas US$ 2,9 milhões (Figura 1).
 

Figura 1 - Balança Comercial Brasileira dos Produtos da Floricultura, 1997 a 2010.
 

Fonte: Elaborada pelos autores com base em: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC. AliceWeb. Brasília: MDIC, 2011. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento. gov.br/>. Acesso em: 28 jan. 2011.


            Qual é a origem desse desempenho em termos dos quatro grandes grupos2 de produtos da floricultura brasileira?
 

            O valor da exportação do grupo de flores decresceu drasticamente (-134,5%) em relação ao ano anterior, enquanto aumentava o seu valor de importação (+50,2%); embora represente apenas 2,2% da fatia do valor total exportado, é um indicativo de que os exportadores brasileiros de flores de corte estão perdendo espaço no mercado internacional, pelo fato de ser uma perda consecutiva. O grupo de bulbos – que ocupa a fatia mais importante, 49,4% do valor total exportado – apresentou também um desempenho negativo na pauta da exportação (-1,6%), embora sem o aumento no valor importado. O grupo de mudas – com fatia de 42,8% – apresentou queda (-12,5%) no valor exportado e concomitante aumento (+30,2%) no importado. Resumindo, a queda no valor exportado foi observada em todos os quatro grupos de produtos enquanto ocorria aumento no valor de importação, exceto no caso do grupo de bulbos (Figura 2).
 

Figura 2 - Balança Comercial Brasileira dos Produtos da Floricultura, por Grupo, 2009 e 2010.


 

 

Fonte: Elaborada pelos autores com base em:  MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC. AliceWeb. Brasília: MDIC, 2011. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento. gov.br/>. Acesso em: 28 jan. 2011.
 

            As exportações de produtos da floricultura brasileira tiveram como destino 34 países em 2010. Os dois principais parceiros comerciais contribuíram com 73,5% do valor da exportação brasileira de produtos da floricultura: a Holanda continua como destino principal dos produtos da floricultura brasileira (US$ 15,6 milhões), respondendo por 54,3% do total, apesar da ligeira queda (-16,3%) em relação ao período anterior. Os Estados Unidos, o segundo no ranking, com 19,3% da fatia, contribuíram com US$ 5,5 milhões no valor da exportação brasileira, com desempenho também aquém em 2010 (-7,2%) se comparado ao ano anterior. Outros destinos de destaque em termos de volume são Itália, Bélgica, Índia, Japão e Canadá, que representam, respectivamente, 10,1%, 2,9%, 2,4% e 2,2%, e Canadá, 1,8% da fatia total de exportação. Os seguintes parceiros comerciais da floricultura brasileira apresentaram melhores desempenhos relativos em relação ao ano precedente: Índia (+1.905,5%), Uganda (+533,7%), Ucrânia (+244,4%), Colômbia (+176,8%) e Austrália (+133,3%) (Tabela 1).
 

Tabela 1 - Exportação dos Produtos da Floricultura Brasileira, por País de Destino, 2009 e 2010

 


  
 

Fonte: Elaborada pelos autores com base em: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC. AliceWeb. Brasília: MDIC, 2011. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 28 jan. 2011.
 
 

            Os países que em 2009 já foram clientes de produtos da floricultura brasileira, mas sem registro das transações na base de dados da SECEX durante 2010, são: África do Sul, Azerbaijão, Bolívia, Coréia do Sul, Etiópia, França, Gana, Honduras, Hungria, Indonésia, Peru, Senegal, Suécia, Suíça, Tailândia e Turquia. No conjunto, esses países movimentaram cerca de US$ 258,4 mil em 2009. Em 2010, os seguintes países voltaram a ser importadores da floricultura brasileira: Antilhas Holandesas, Costa Rica, Dinamarca, Nigéria, Noruega, Paraguai, Rússia e Suriname, movimentando US$95,5 mil.
 

            Um indicador importante para os exportadores brasileiros é o valor da exportação mensal e sua variação em relação ao período anterior, para fins de prospecção de demanda e futuro contato com clientes potenciais. Em 2010, houve variação positiva nos meses de fevereiro, março, abril e julho de, respectivamente, 2,7%, 2,0%, 48,6% e 8,0%. Excetuando abril e julho, o padrão da oscilação mensal permaneceu similar ao ano anterior em que se pese variação negativa significativa em agosto (-37,9%) (Figura 3).
 

Figura 3 - Exportação Mensal dos Produtos da Floricultura Brasileira, 2009 e 2010.

Fonte: Elaborada pelos autores com base em: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC. AliceWeb. Brasília: MDIC, 2011. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento. gov.br/>. Acesso em: 28 jan. 2011.
 

            Ao analisar a evolução anual dos últimos quatorze anos, o ponto de inflexão no valor da importação ocorreu em 2006, com crescimento contínuo e gradual desde então, e provável aumento até alcançar ou ultrapassar o valor da exportação em 2011, caso nenhum fator novo se apresente para reverter essa tendência.
 

            De onde poderá vir contribuição pra deter a queda consecutiva no valor da exportação detectada nos dois últimos anos? No mercado internacional, a fatia de mercado ocupada e seu poder de influência para ditar o jogo são historicamente ínfimas, tendo mais motivos para o pessimismo, pela conjuntura macroeconômica atual.
 

            Nesse contexto, o setor de floricultura no Brasil sofre a ameaça iminente de apresentar balanço comercial mínimo, ou até negativo, no final de 2011. Ao consultar a ata da última reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Flores e Plantas Ornamentais do Ministério da Agricultura não foi registrada preocupação alguma sobre esta situação3.

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1Considerou-se nesta análise o grupo de produtos especificados na Nomenclatura Comum do MERCOSUL, NCM 06 da SECEX/MDIC e o Saldo da Balança Comercial brasileira de plantas vivas e produtos da floricultura. (Ver: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC. AliceWeb. Brasília: MDIC, 2011. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 28 jan. 2011).
 

2O Capítulo 06 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é composto por quatro agrupamentos de produtos: de Bulbos (bulbos, tubérculos, rizomas, etc.), de Mudas (mudas de plantas ornamentais, de orquídeas, etc.), de Flores (flores cortadas para buquês, frescas ou secas) e Folhagens (folhas, folhagens e musgos para floricultura). No grupo de mudas, estão incluídos os de não-ornamentais como café, cana e videira, em valores ínfimos.
 

3MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – MAPA. Secretaria Executiva. Conselho do Agronegócio. Ata da 29ª reunião ordinária. Brasília: MAPA, 2010. Disponível em: <http://www.agricultura. gov.br/arq_editor/file/camaras_setoriais/Flores_e_plantas_ornamentais/29_reuniao/Ata_da_Reuniao(minuta).pdf>. Acesso em: 07 fev. 2011.
 

Palavras-chave: floricultura, exportação, comércio exterior, flores, bulbos, folhagens, mudas.


Data de Publicação: 18/02/2011

Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
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