Mercado de Trigo: o Brasil aumenta exportação em 2011

 

            A produção mundial de trigo em 2010/11 deverá ser de 647,60 milhões de toneladas, 5% inferior à do período anterior, de acordo com projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Entre os países exportadores tradicionais, os menores volumes projetados, relativos ao Canadá e à União Europeia, deverão ser compensados por expansão dos volumes da Argentina e Austrália. A menor produção ucraniana também reflete em menor volume mundial. O crescimento da demanda mundial, projetado em 2,0%, deve-se principalmente ao aumento das necessidades dos países da antiga União Soviética, Rússia, Índia e China. 
 

            Essa conjuntura deverá resultar em queda de 8% no nível dos estoques finais (relativa ao período anterior), situando-os em 181,90 milhões de toneladas. Nesse contexto, a perspectiva é de que os preços internacionais permaneçam em patamares elevados. Na Bolsa de Chicago, o preço do trigo no primeiro futuro, cotado a US$ 295,44/tonelada em janeiro de 2011, é 54,2% superior à cotação verificada no mesmo mês do ano anterior (Figura 1). 
 

Figura 1 - Preços de Trigo na Bolsa de Chicago, Julho de 2009 a Janeiro/2011.

Fonte: Elaborada pelo autor com base em: REVISTA SUMA ECONÔMICA. Rio de Janeiro: Suma Econômica Consultoria e Publicações, n. 394, fev. 2011.


 

            O Brasil, embora seja um dos maiores importadores de trigo do mundo, alternando a primeira colocação com o Egito, paradoxalmente vem se aproveitando da conjuntura para desovar seus estoques preteridos pela indústria nacional em favor do produto importado, principalmente da Argentina, cujas operações, por força dos acordos do MERCOSUL, são livres da Tarifa Externa Comum (TEC), além de outros fatores de natureza logística, como a localização geográfica dos moinhos, predominantemente nas zonas portuárias, e a qualidade considerada pela indústria como inferior. 
 

            Está atualmente em plena discussão, inclusive, a data em que um novo regulamento de classificação do produto deve entrar em vigor. Trata-se da Instrução Normativa n. 38, que institui novo padrão oficial de classificação do trigo. Os triticultores reivindicam que sua vigência seja adiada para julho de 2012, pois querem mais tempo para se adequar às novas normas, inclusive para disporem de sementes das cultivares que satisfaçam os critérios para a obtenção dos padrões de trigo melhorador e tipo pão. 
 

            A valorização do real também tem se constituído como fator de pressão sobre a competitividade do produto nacional. Mesmo assim, a conjuntura internacional tem contribuído para a colocação do trigo brasileiro no mercado externo. Os dados do Secretaria de Comércio Exterior mostram que em 2010 o Brasil exportou o volume recorde de 1,3 milhão de toneladas de trigo ao preço médio de US$171/tonelada-FOB, comparativamente a 384,2 mil toneladas em 2009 pelo valor médio de US$162,83/tonelada-FOB. 
 

            Chama a atenção o fato de que somente nos dois primeiros meses do ano em curso as exportações brasileiras de trigo já totalizaram 861,2 mil toneladas, volume 114,6% superior ao mesmo período de 2010. O preço médio de US$283,11 por tonelada, com alta de 80,7%, também contribuiu para a elevação da receita das exportações. 
 

            Verifica-se também que o destino predominante são países do norte da África e também do Oriente Médio, destacando-se o Egito (com volumes crescentes a partir de 2009), entre outros, como Líbia, Tunísia, Argélia e Irã, países que adquiriram volumes mais expressivos. Seria muito importante a consolidação desses mercados para o trigo brasileiro. Porém, as perspectivas de que essa conjuntura favorável se prolongue não são muito firmes. Esses países estão num momento de grande instabilidade política e econômica e os preços internacionais também estão muito elevados, em boa medida por causa de especulação na bolsa, e também pela alta dos preços do petróleo. 
 

            As importações brasileiras seguem normalmente, porém com os preços mais elevados. Em 2010, elas totalizaram 6,3 milhões de toneladas, volume 16% superior ao do ano anterior. Os preços, também mais elevados, evoluíram de US$221,98/tonelada–FOB em 2009 para US$241,64 em 2010. Nos dois primeiros meses de 2011, já foram importadas 1,0 milhão de toneladas ao preço médio de US$299,12/tonelada-FOB. 
 

            Os Estados que recebem os maiores volumes de trigo importado (São Paulo com 23% e Ceará com 12%) são importantes polos de processamento e distribuição da farinha. Todavia, a elevação das cotações internacionais não foi suficiente para dar sustentação à recuperação dos preços internos, que continuam em patamares baixos (Figura 2). 
 

Figura 2 - Preço Real de Trigo Recebido pelo Triticultor Paulista, Fevereiro de 2002 a Fevereiro de 20111.

1Deflacionado pelo IGP-DI, FGV. 
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.



            O sexto levantamento da safra 2010/11 da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) estima que a produção nacional de trigo em 2010 seja de 5,9 milhões de toneladas, 17% superior ao volume obtido na safra passada, mesmo com uma área 11% inferior. As condições climáticas foram favoráveis, propiciando bons resultados com a produtividade média da cultura superando em 32% à do ano anterior, quando as adversidades climáticas frustraram a produção. 
 

            A comercialização porém segue lenta com preços baixos, e só não piorou por causa da demanda externa, que está permitindo a redução dos estoques e o enxugamento do mercado interno. Causa perplexidade o fato de que o Brasil esteja exportando trigo, mesmo com uma demanda nacional de 10,5 milhões de toneladas e uma produção de 5,9 milhões de toneladas, portanto, com um déficit de 4,6 milhões de toneladas.

            A questão é que o mercado brasileiro demanda predominantemente um tipo de trigo que é o mais indicado para a fabricação de pão e massas, e a oferta interna desse produto é insuficiente. Portanto, os moinhos recorrem ao mercado internacional, principalmente os da Argentina, Paraguai e Uruguai para se abastecer desse tipo de trigo. Os triticultores precisam ser orientados a produzir o que o mercado está demandando, um trabalho de extensão para a adoção de cultivares que propiciem a obtenção de produto tipo pão e melhorador. 
 

            Todos os anos, por ocasião da comercialização, há um embate entre triticultores e moageiros em torno da força do glúten e do falling number, parâmetros avaliados pelos moinhos para adquirir o trigo. Segundo pesquisadores e produtores, há no mercado diversas cultivares com as características desejadas pelos moinhos, sendo preciso fazer um trabalho para que as sementes desses materiais sejam apresentadas e disponibilizadas para os triticultores. 
 

            O plantio da safra 2011 já está começando, mas ainda não há uma estimativa oficial de intenção de plantio. Na região sul de São Paulo, onde a produção de trigo é expressiva, as informações obtidas pelos técnicos de campo mostram incerteza quanto ao plantio. As perspectivas variam conforme o resultado obtido na safra 2010. 
 

            Há indicação de redução de 20% na área cultivada, mas também há indicações de cooperativas de produtores que estão satisfeitas com o resultado que obtiveram no campo e também com a comercialização que ainda está sendo feita, prevendo-se expansão de 15% na área a ser plantada. O período recomendado para o plantio do trigo em São Paulo está apenas começando e ainda há tempo para decidir. 
 

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1BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 38, de 30 de novembro de 2010. Estabelece o Regulamento Técnico do Trigo, definindo o seu padrão oficial de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e a marcação ou rotulagem, nos aspectos referentes à classificação do produto. Diário Oficial da União, 01 dez. 2010. 
 

Palavras-chave: trigo, exportação de trigo, mercado de trigo.

 

Data de Publicação: 06/04/2011

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor