Pesquisadores do IEA avaliam os efeitos da falta de chuva sobre as lavouras paulistas

Atentos às pressões que a estiagem prolongada exerce sobre a agricultura, pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo apresentam uma avaliação sobre possíveis danos para as principais culturas do Estado.  

Desde o final de 2013, o clima no centro-sul do Brasil tem se caracterizado pela escassez de chuvas, baixa umidade relativa do ar e alta incidência de luminosidade. Combinados, esses fatores provocaram diversos efeitos sobre a agropecuária conduzida em território paulista, afirmam Carlos Bueno, Celso Vegro, Denise Caser, José Roberto da Silva, Katia Nachiluk, Marisa Zeferino Barbosa, Renata Martins, Rejane Cecília Ramos e Rosana Pithan, pesquisadores do IEA.

Conforme entidades de monitoramento de dados meteorológicos, em janeiro o volume de chuvas em território paulista ficou bem abaixo dos 200 mm a 250 mm historicamente registrados. Na lavoura de cana de açúcar, principal cultivo paulista, os efeitos climáticos desfavoráveis poderão afetar sua produção no estado, pois o período de calor sem chuvas é inapropriado ao desenvolvimento da planta. Com a escassez de precipitações, associada às altas temperaturas, a cana poderá não atingir seu potencial, repercutindo em queda na produção.

Na citricultura, importante cultivo na classificação do valor da produção do estado, a temperatura é fator crítico no desenvolvimento dos pomares. Antes da anomalia climática, previa-se que a produção de laranja em São Paulo na temporada 2014/15 poderia crescer até 20%. Todavia, o potencial de expansão da safra, diante da escassez de chuva, poderá se reduzir consideravelmente.

Para a cafeicultura, quinto item no valor da produção paulista, o levantamento da safra 2014/15, divulgado em dezembro de 2013, previa colheita de 4.441.520 sc., representando avanço de 10,76% frente à safra anterior. A irregularidade das precipitações, associada à baixa umidade relativa do ar e às elevadas temperaturas registradas, nos principais cinturões de cultivo da rubiácea, indica a diminuição na quantidade colhida da ordem de 10% a 20% nas lavouras mais antigas e de 15% a 20% naquelas de primeira safra e segunda safra.

Nas áreas de cerrados, os frutos da parte superior da planta (ponteiro) já entraram em processo de maturação. Como os talhões ainda não foram preparados para a colheita, esses frutos provavelmente virão ao chão e se perderão quando se iniciar a colheita (a partir de maio). Se confirmada essa ocorrência o potencial de perda saltará para a parte superior do limite estabelecido (20%).

A produção paulista de milho em 2014 foi estimada em 3,2 milhões de toneladas, enquanto para a soja a perspectiva era de crescimento da produção, alcançando 2,13 milhões de toneladas. Para ambas as culturas, os efeitos da ausência de chuvas regulares concorrem para criar expectativa de redução nas respectivas produções.

Os efeitos trazidos pela estiagem nas lavouras devem acirrar a redução na oferta paulista de milho, haja vista a diminuição de 7,5% na produção prevista no 2º Levantamento de Previsão de Safras do IEA/CATI de novembro último. Para a sojicultura, os fatores climáticos devem frustrar a expansão de seu cultivo que tem apresentado mercados com demanda crescente (brasileira e mundial).  

Nas lavouras de amendoim, a seca pode comprometer a formação das vagens, o desenvolvimento dos grãos e a ocorrência de fissuras na casca que favorecem a contaminação do grão por fungos que causam a aflatoxina. Nessas condições, fica evidenciada a possibilidade de redução da produtividade e do comprometimento da qualidade do grão, resultando na retração da oferta e queda dos preços devido à baixa qualidade.

Na principal região produtora de mandioca industrial, Médio Vale do Paranapanema, a estiagem que se prolonga por mais de dois meses dificultou seu arranquio, exigindo maior dependência de máquinas nessa operação. Porém, praticamente não há mais mandioca da safra velha em campo. Quanto à mandioca nova (com até um ano de plantio), deverá ser arrancada a partir de março quando começa a melhorar seu rendimento industrial (aumento da concentração de amido).

As hortaliças são grupos de culturas agrícolas que mais precisam de irrigação. No entorno da capital (200 km) está a maior parte da produção de folhosas e legumes. Nas regiões das encostas das serras do Mar e da Mantiqueira já está previsto o racionamento de água nas cidades. Os municípios do Alto Tietê e aqueles da Serra do Paranapiacaba (Ibiúna, Piedade até Capão Bonito), em razão do racionamento implantado, já não possuem água suficiente para irrigação.

Devido aos altos preços praticados para o tomate de mesa ao início de 2013, houve forte aumento da área cultivada. Todavia, com o excessivo calor a maturação dos frutos foi acelerada, havendo perdas no campo e preços baixíssimos, devido à perda de qualidade. Entre fevereiro e março se realiza a semeadura do tomate para indústria. Portanto, esse cultivo não foi ainda afetado pela estiagem.

Do mesmo modo, a semeadura da batata colhida na seca iniciou-se em janeiro e deverá se encerrar em fevereiro. Com a estiagem esse calendário deverá ser atrasado. Finalmente, a cebola, cujos bulbinhos e semeadura direta começariam em fevereiro, tende a ser adiados até que o clima retorne a sua normalidade.

Alguns produtores de leite já apontam problemas com sua produção, pois grande parte dos pastos está seco. Os meses do verão constituem o período do ano em que a pecuária leiteira deveria ter à disposição pastagens de boa qualidade, graças ao volume de precipitações, característico da época. Essa condição garantiria a produção de volumosos necessários para resultar em maior de produção de leite. Todavia, sob efeito da estiagem, os pastos encontram-se muito fibrosos, tendo seu valor nutricional comprometido e insuficiente na alimentação do animal. Isso afeta a produtividade do leite principalmente se a alimentação não for suplementada.

A pecuária leiteira no Estado de São Paulo é composta por diversos tipos de produtores. Entre os produtores de leite, a utilização da alimentação suplementar via utilização de silagem, por exemplo, não é 100% praticada. Assim, aqueles que não contam com silagem para garantir o fornecimento de alimento para o gado, caso continue a ausência de chuvas, deverão ter sua produção comprometida em plena safra.

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Data de Publicação: 24/02/2014

Autor(es): Nara Guimarães (naraguimaraes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor