O Setor Sucroenergético no Brasil em 2015

 

Em 2015, o setor sucroenergético brasileiro processou 666,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, produzindo 33,8 milhões de toneladas de açúcar e 30,2 bilhões de litros de etanol (hidratado e anidro)2.

O setor exportou o equivalente a US$8,5 bilhões de açúcar e etanol em 2015, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)3. O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar4. China, Bangladesh e Argélia foram os principais países importadores de açúcar em 2015(Figura 1).

 

Ao analisar os dados de exportação de etanol, verifica-se que Estados Unidos, Coreia do Sul e China foram os principais importadores6 (Figura 2).

De acordo com o MAPA, em novembro de 2016, 80% das unidades industriais concentram-se na região Centro-Sul, e São Paulo detém 41,8% do total de usinas produtoras de açúcar e álcool7.

A região Centro-Sul representa 92,7% da produção de cana-de-açúcar da federação, com destaque para o Estado de São Paulo, que significou, em 2015, 55,2% da produção nacional de cana-de-açúcar, 48,5% da produção de etanol (14,7 bilhões de litros) e 63,6% da produção do açúcar (21,3 milhões de toneladas)8.

O mix de produção de açúcar e etanol é razão direta da relação de preços praticados no mercado. Na figura 3 pode-se verificar a proporção de cana-de-açúcar direcionada à produção de açúcar e etanol nos principais estados da região Centro-Sul. Em 2015, os Estados do Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais produziram mais etanol (Figura 3), enquanto Paraná e São Paulo direcionaram em torno de 50% da cana processada para a produção de açúcar e etanol9.

 

No Estado de São Paulo, nos últimos anos, os levantamentos realizados pelo IEA em parceria com a CATI demonstram que houve um incremento de 77,9% dos dados da área em produção, e de 69,7% na produção10 (Tabela 1).

 


 

Ainda segundo o levantamento as principais regiões, os Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) responsáveis por 54,4% da produção total paulista em 2015 foram: Barretos, Orlândia, Ribeirão Preto, Jaboticabal, São José do Rio Preto, Araraquara, Presidente Prudente, Jaú, Andradina e Assis11 (Figura 4).

 

Em relação ao valor da produção agropecuária e florestal paulista, a cana-de-açúcar foi o principal produto em 2015 e representou 37,4% (R$23,89 bilhões), seguido de carne bovina (13,9%) e carne de frango (6,6%), madeira de eucalipto (3,9%), laranja para indústria (3,8%) e soja (3,8%)12 (Figura 5).

Nos últimos anos, a produção de cana-de-açúcar no estado evoluiu no sistema de produção sustentável, e 91,3 % da colheita realizada é de forma mecânica, sem o emprego do fogo, em razão do Protocolo Agroambiental, termo de adesão voluntário entre o setor e o governo13.

As signatárias do protocolo são responsáveis por aproximadamente 92% da produção paulista e, na safra 2015/16, 5.402.772 hectares (26,3% da área agricultável do estado) estão comprometidos com boas práticas agroambientais. Outro resultado dessas boas práticas é a recuperação de 258.773 ha de áreas ciliares e a proteção de 8.400 nascentes nas áreas das unidades industrias e de fornecedores de cana.

A produção de energia elétrica produzida através da biomassa nas usinas signatárias foi de 18.100 GWh, dos quais 10.170 GWh de energia elétrica foram exportadas, o que representou 26% do consumo anual residencial paulista.

Em que pese o setor tenha tido melhoria no fluxo de caixa no ano de 2015 com preços favoráveis para o etanol, eles ainda não foram suficientes para a sua recuperação. Segundo a presidente da UNICA, deve-se pontuar que as discussões sobre a política de precificação da gasolina, a retração econômica, a possibilidade de menor consumo de combustíveis e de açúcar, a fragmentação do setor produtivo devido à situação financeira precária de parte das usinas, aliados a um ambiente institucional instável, são alguns dos fatores que podem alterar essa condição favorável para o setor na safra 2016/1714.

Segundo a ANEEL, observa-se que o país tem grande dependência da energia elétrica oriunda de fonte hídrica (61,3%). A capacidade instalada de biomassa representa 8,9% da matriz energética, sendo que o resíduo do processo agroindustrial (bagaço de cana-de-açúcar) representa 76,8% do total dessa biomossa15.

A biomassa da cana de açúcar é a segunda principal fonte de energia elétrica no Brasil, atrás apenas da gerada nas hidrelétricas. O derivado da cana tem potencial para responder por cerca de 20% da matriz energética brasileira até 203016.

As contribuições e capacidade do setor na produção de biocombustíveis e energia renovável, com ganhos ambientais, devem ser levados em consideração ao se pensar em estratégias para o cumprimento dos compromissos estabelecidos pelo país na COP 21, Acordo de Paris, e COP 22. 

 

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1As autoras agradecem a colaboração do Pesquisador Científico Paulo Coelho, do Instituto de Economia Agrícola, na elaboração do mapa de produção.

 

2COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Série Histórica. Disponível em:<http://www.conab.
gov.br/conteudos.php?a=1252&t=&Pagina_objcmsconteudos=2#A_objcmsconteudos>. Acesso em: 05 set. 2016.

 

3MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Agrostat. Brasília: MAPA. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/servicos-e-sistemas/sistemas/agrostat>. Acesso em: set. 2016.

 

4United States Department of Agriculture (USDA). Sugar: World Markets and Trade. Foreign Agricultural Service. November 2016. Disponível em: < https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/sugar.pdf>. Acesso em: nov. 2016.

 

5MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Agroenergia, Estatística Exportações Brasileiras de Açúcar por País - 2015 . Brasília: MAPA. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/
desenvolvimento-sustentavel/agroenergia/estatistica>. Acesso em: set. 2016.

 

6MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Agroenergia, Estatística  Exportações Brasileiras de Etanol por País - 2015  . Brasília: MAPA. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/
desenvolvimento-sustentavel/agroenergia/estatistica>. Acesso em: set. 2016.

 

7MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Relação de instituições cadastradas no departamento de cana-de-açúcar e agroenergia. Brasília: MAPA, 2015. Disponível em: <http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sapcana/downloadBaseCompletaInstituicao.action?sgJAASAplicacaoPrincipal=
sapcana>.
Acesso em: 24 nov. 2016.

 

8Op. cit. nota 1.

 

9Op. cit. nota 1.

 

10INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em: <http://
www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: 06 out. 2016.

 

11Op. cit. nota 9.

 

12SILVA, J. R. da et al. Estimativa do Valor da Produção Agropecuária do Estado de São Paulo de 2015: resultado final. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 11, n. 4, abr. 2016. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=14117>. Acesso em: 05 set. 2016.

 

13PROTOCOLO agroambiental do setor sucroenergético paulista: dados consolidados das safras 2007/08 a 2015/16. São Paulo: UNICA/ORPLANA/SAA/SMA. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/etanolverde/files/2016/06/Etanol-Verde-Relatorio-Safra-15-16.pdf>. Acesso em: set. 2016.

 

14Sociedade Nacional de agricultura (SNA). 2015 foi um ano de transição para setor sucroenergético, avalia Elizabeth Farina. Disponível em: <http://sna.agr.br/2015-foi-um-ano-de-transicao-para-setor-sucroenergetico-avalia-elizabeth-farina/>. Acesso em: 1 nov. 2016.

 

15Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL. Matriz de energia elétrica. Brasília: ANEEL. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoCapacidadeBrasil.cfm>. Acesso em: 05 dez. 2016.

 

16Lopes; E. Inovação e busca por igualdade definem teorias sobre economia limpa. Folha de São Paulo. São Paulo. Disponível em:< http://m.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2016/11/1835704-inovacao-e-busca-por-igualdade-definem-teorias-sobre-economia-limpa.shtml>. Acesso em 5 de dezembro de 2016. 

 

Palavras-chave: setor sucroenergético, açúcar, etanol, exportação, produção, intenção de plantio.

Data de Publicação: 08/12/2016

Autor(es): Katia Nachiluk (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Rejane Cecília Ramos Consulte outros textos deste autor