Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista Continuam em Alta em Março/2019

Dando continuidade à escalada de altas verificada em fevereiro, que apresentou reajuste de 6,28%, no terceiro mês de 2019 o Índice de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1, 2 registrou elevação de 3,62% na comparação com o mês anterior. Separado por grupos de produtos, com esse indicador que mede a variação dos preços recebidos pelos produtores paulistas, têm-se o IqPR-V (grupo de produtos de origem vegetal) contribuindo com um reajuste de 3,31%, e o IqPR-A (produtos de origem animal) subindo de forma mais intensa ao atingir variação positiva de 4,30% (Tabela 1). Nesta mesma tabela são apresentadas as variações do final de fevereiro/2019 e das quatro quadrissemanas de março/2019 para os índices calculados “com a cana-de-açúcar” e “sem a cana-de-açúcar”. Verifica-se que em todos esses intervalos quadrissemanais houve variações positivas de todos os indicadores. Destaca-se que, após um pico de altas entre a primeira e a segunda semana de março, os indicadores apresentaram um arrefecimento entre a terceira e quarta semana, o que indica uma desaceleração que pode estar dando encaminhamento para reajustes menores ou variações negativas para o mês de abril.

 

 

 Quando a cana-de-açúcar (que teve pequena baixa de 0,29% em março) é excluída do cálculo do índice na ponderação dos produtos, a alta do IqPR (sem cana) alcança um valor percentual de 6,80%, ou seja, 3,18 pontos percentuais maior que o IqPR (com cana). Já o IqPR-V sem cana subiu mais acentuadamente em 10,03%, ou seja, 6,72 pontos percentuais a mais que o IqPR-V com cana. Destaca-se nessa comparação o peso que a cana de açúcar exerce no cálculo ponderado do índice vegetal (Tabela 1).

A grande maioria dos produtos que compõem o IqPR apresentou alta no mês de março/2019 em relação a fevereiro/2019. Destacaram-se nesse intervalo: banana nanica (61,59%), tomate para mesa (59,56%), carne suína (11,26%), carne de frango (9,98%) e ovos (6,34%) (Tabela 2).

 

 

Mesmo com as quedas de seus preços observadas nas últimas duas semanas do mês de março, a redução da oferta da banana nanica frente ao colocado de maneira concentrada no mercado, com o adiantamento da colheita ocasionado pelo calor e as chuvas de fevereiro, levou a uma ascensão dos valores médios recebidos pelos bananicultores do Vale do Ribeira paulista.

No caso específico do tomate para a mesa produzido no Estado de São Paulo, perdas oriundas das chuvas de fevereiro - que acometeram plantas ainda em formação com a enfermidade ocasionada pelo cancro bacteriano - reduziram ainda mais a oferta do produto, o que gerou uma elevação de quase 60% nos preços médios recebidos pelos produtores.

Já para a carne suína, dois fatores interferiram com robustez no reajuste de seus preços nas granjas paulistas. Maiores escalas de exportação (9% de aumento em comparação com fevereiro) sem reajuste de oferta física de animais, aliadas à valorização cambial de 4,3% do dólar em março, aumentaram a precificação do produto em reais nos numerários recebidos pelos suinocultores do Estado de São Paulo.

No que se refere à carne de frango, os aumentos dos embarques para exportação em 15,4% reduziram a oferta do produto no mercado interno. Numa realidade na qual os principais insumos conformadores dos custos de produção da atividade apresentaram altas pouco expressivas no mês de março (milho e soja tiveram reajustes de 0,15% e 0,29%, respectivamente), análises preliminares indicam uma melhora pontual na rentabilidade do setor. Reforça esse espectro o fato do frango originar os cortes de carnes mais competitivos no mercado quando comparado às pecuárias bovina e suína.

Fonte de proteína mais popular consumida pela população brasileira, os ovos tiveram seus preços reajustados entre fevereiro e março, principalmente pelo costume católico de reduzir o consumo de carnes no período religioso da quaresma. Contudo, cabe observar que, no comparado com março de 2018, os preços atuais apresentam uma pequena desvalorização de 0,46% (Tabela 2).

Dos 19 produtos acompanhados, somente cinco apresentaram quedas de preços no período:

- Feijão (11,73%): às vésperas do início da segunda safra do produto no Centro-Sul do país, a última semana de março apresentou um maior volume do produto negociado a preços mais baixos no comparativo com fevereiro. Somado à dimensão daquilo que entrará no mercado com o início das colheitas nesse mês de abril (que segundo estimativas serão 7% maiores que a anteriores), o indicativo que se faz é de uma volta à normalidade e equilíbrio de mercado para os próximos meses;

- Café: especulações permanentes advindas do mercado financeiro internacional sobre o mercado físico do produto exportável nacional têm afetado a estabilidade dos produtores brasileiros. Com a alta do dólar desde o período pré-eleitoral, especuladores, principalmente os da Bolsa de Nova York, têm forçado para baixo a cotação do produto em moeda estrangeira com o intuito de absorverem para seus cofres a diferença em reais que a desvalorização cambial traria para os produtores brasileiros. Reforça-se que o café foi o produto que mais se desvalorizou dentre os analisados nos últimos 12 meses, com queda de 8,91%;

- Arroz: com um dos maiores estoques da história, a rizicultura tem trabalhado com margens muito pequenas nessa nova safra iniciada no Centro-Sul. Para liberar espaço nos armazéns, muitas cooperativas do Sul têm direcionado o produto de pior qualidade para produção de ração animal. Desestimulados, os investimentos do setor somaram, segundo especialistas, a menor safra do produto desde 2002/03.

Do conjunto analisado, 14 produtos apresentaram alta de preços (9 de origem vegetal e 5 de animal) e 5 tiveram queda (todos de origem vegetal).

 

ACUMULADOS DOS ÚLTIMOS 12 MESES PARA O IqPR COM CANA

No período de abril/2018 a março/2019, tanto o IqPR quanto o IqPR-V apresentaram suas maiores altas no mês de fevereiro de 2019. Para o IqPR-A, o maior aumento (de 10,21%) ocorreu no mês de junho/2018 (impulsionado pelas altas de carne de frango, ovos e carne suína)3; e a maior baixa (de -2,66%) ocorreu no mês de janeiro/2019. O IqPR apresentou variações positivas em dez meses: de abril/2018 a junho/2018, de agosto/2018 a dezembro/2018 e nos últimos dois meses. A variação negativa ocorreu em apenas dois meses: julho/2018 e janeiro/2019 (Figura 1).


 

No acumulado dos últimos 12 meses, todos os índices apresentaram variação positiva: o IqPR (geral) ficou em 21,77%, o IqPR-V (vegetal) subiu 23,68% e o IqPR-A (animal) teve aumento de 16,67% (Figura 2).

 

Reforçando a análise, ao comparar os preços de março/2019 em relação a março/2018, nota-se uma realidade na qual se observa que somente dois produtos apresentaram variação negativa: café (-8,91%) e ovos (-0,46%). Acima da variação do indicador que analisa o aumento dos custos dos insumos e fatores de produção agropecuários no Estado de São Paulo – denominado Índice de Preços Pagos (IPP/IEA), que apresentou um acumulado em 2018 de reajuste de 7,14% - , acomodaram-se as seguintes culturas: batata (319,84%), feijão (213,32%), tomate para mesa (73,08%), laranja para indústria (36,67%), carne de frango (36,60%), trigo (31,48%), carne suína (31,04%), laranja para mesa (30,52%), banana nanica (26,06%), amendoim (25,33%), leite (19,01%) e arroz (10,21%). Variaram positivamente abaixo do reajuste dos custos de produção: carne bovina (4,52%), cana-de-açúcar (4,09%), milho (4,00%), algodão (1,59%) e soja (1,22%).

 

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1A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/03/2019 a 31/03/2019 e base = 01/02/2018 a 28/02/2018.

 

2Artigo completo com a metodologia: PINATTI, E. et al. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v. 38, n. 9, p. 22-34, set. 2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573. Acesso em: abr. 2019.

 

3INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Conjuntura: quadrissemana. São Paulo: IEA, 2018. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/Quadrissemana2.php?codTipo=1&ano=2018. Acesso em: 1° abr. 2019.

 

Palavras-chave: IqPR, índice, preços recebidos, índices agrícolas, variações, indicadores.


Data de Publicação: 10/04/2019

Autor(es): Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor