Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Primeiro Bimestre de 2020

 


1 - BALANÇA COMERCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

No primeiro bimestre de 2020, as exportações do Estado de São Paulo1 somaram US$6,16 bilhões (20,0% do total nacional) e as importações2 US$9,03 bilhões (30,7% do total nacional), registrando deficit comercial de US$2,87 bilhões (Figura 1). Em relação ao mesmo período de 2019, houve queda nas exportações (-17,2%) e nas importações
(-6,3%); essa conjunção de desempenhos resultou em maior deficit (30,5%) na balança paulista nos dois primeiros meses de 2020.

 

1.1 - Análise Setorial do Agronegócio

Na análise setorial do agronegócio, o resultado do primeiro bimestre de 2020, na comparação com o mesmo período do ano anterior, indica que o agronegócio3 paulista apresentou quedas nas exportações (-2,8%), recuando para US$2,09 bilhões, e também nas importações (-3,6%), totalizando US$0,80 bilhão; com esses resultados, obteve-se superavit de US$1,29 bilhão (Figura 1). Embora positivo, o saldo comercial é inferior
(-2,3%) ao superavit do primeiro bimestre de 2019, quando alcançou US$1,32 bilhão.

A participação das exportações do agronegócio paulista no total do estado é de 33,9% (crescimento de 5,0 pontos percentuais), enquanto a participação das importações é de 8,9%, aumento de 0,3 ponto percentual, comparando-se ao resultado obtido nos dois primeiros meses de 2019 (Figura 1).

Há que se destacar que as exportações paulistas nos demais setores da economia - exclusive o agronegócio - somaram US$4,07 bilhões e as importações US$8,23 bilhões, gerando um deficit externo desse agregado de US$4,16 bilhões. Dessa forma, conclui-se que o deficit do comércio exterior paulista só não foi maior devido ao desempenho do agronegócio estadual, cujo saldo se manteve positivo (US$1,29 bilhão).

 

1.2 - Exportações do Agronegócio Paulista por Grupos de Produtos

Os cinco principais grupos nas exportações do agronegócio paulista, no primeiro bimestre de 2020, foram: complexo sucroalcooleiro (US$585,5 milhões, sendo que desse total o açúcar representou 84,8% e o álcool 15,2%), seguido do setor de carnes (US$325,1 milhões, em que a carne bovina respondeu por 82,4%), dos produtos florestais (US$266,1 milhões, com participações de 53,8% de papel e 36,4% de celulose), dos sucos (US$218,3 milhões, dos quais 97,5% referentes a sucos de laranja) e do grupo de complexo de soja (US$157,5 milhões). Esses cinco agregados representaram 74,4% das vendas externas setoriais paulistas (Tabela 1).

Ainda de acordo com a tabela 1, na comparação com o primeiro bimestre de 2019, houve importantes variações nos valores exportados dos principais grupos de produtos da pauta paulista, aumentos para os grupos do complexo sucroalcooleiro (+7,1%) e de carnes (+20,7%); e quedas para os grupos de produtos florestais (-8,9%), sucos (-18,7%), complexo soja (-32,9%), demais produtos de origem vegetal (-11,0%) e café (-3,5%). Além desses grupos de produtos, destaque para o grupo de fibras e produtos têxteis, com aumento de 157,9% nas exportações somando US$80,5 milhões (tendo o algodão não cardado nem penteado a fatia de 98,7% de representatividade desse grupo).

Essas variações nas receitas do comércio exterior são derivadas pela composição das oscilações tanto de preços como de volumes exportados.

 

 

1.3 - Participação dos Principais Produtos do Agronegócio Paulista

Os dados de valor e volume exportados dos principais produtos dos grupos mais relevantes do agronegócio paulista do primeiro bimestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, são apresentados na tabela 2.

Desses grupos relevantes, o sucroalcooleiro é o que apresenta a maior participação (28,1%) nas exportações paulistas, pois apresentou crescimento de 7,1% tanto para valores quanto como para volumes, devido ao bom desempenho das vendas externas do açúcar (13,9% em valores e 10,3% em volume). Para o álcool, houve reduções nos embarques (-23,6%) e em valores (-19,6%), quando comparados com o primeiro bimestre de 2019.

O grupo de carnes tem a segunda posição na pauta do estado, e apresentou avanço de 20,7% em valores e volume (16,6%) em relação aos dois primeiros meses de 2019. A carne bovina foi o produto de maior contribuição nesse resultado, com crescimento de 14,1% em valores e queda de 2,8% em volume exportados. O desempenho da carne suína (-2,9% e 2,5%) e de frango (73,9% e 64,8%), respectivamente em valores e volumes, complementou o quadro do grupo de carnes.

Os produtos florestais apresentaram menor desempenho no primeiro bimestre de 2020, com queda de 8,9% em relação ao período do ano anterior. O produto papel, principal item do grupo na pauta paulista, embora tenha obtido variação negativa quanto aos valores (-7,0%), em relação ao volume apresentou número positivo de 7,0%. As exportações dos produtos de celulose também apresentaram crescimento no volume (28,8%) e queda em valores (-14,3%).

O suco de laranja, principal produto do grupo de sucos, exibiu resultados negativos de 18,5% no valor e 12,0% em volume exportado. A variação total das exportações do grupo de sucos foi de -18,7% na comparação com o primeiro bimestre de 2019.

O grupo complexo soja apresentou queda de 32,9% em valores nos dois primeiros meses de 2020. A soja em grão, principal produto do grupo, comparativamente ao mesmo período de 2019 apresentou recuos significativos de 44,2% e 42,4% em valores e volumes exportados, respectivamente.

Para o grupo do café, os resultados apontaram recuo de 3,5% nos valores das exportações paulista. O principal produto deste grupo é o café verde, que apresentou variações negativas de 12,4% em valores e de 16,8% em quantidades exportadas pelo estado, enquanto o café solúvel cresceu 18,4% em valores e 31,9% em volume comercializado.

 

2 – BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL

A balança comercial brasileira registrou superavit de US$1,43 bilhão no primeiro bimestre de 2020, com exportações de US$30,86 bilhões e importações de US$29,43 bilhões. Esse resultado indica redução de 69,8% no superavit comercial em relação ao primeiro bimestre de 2019, devido ao recuo das exportações (-8,5%) e do aumento das importações (+1,4%) (Figura 2).

Os efeitos econômicos do coronavírus devem afetar os resultados da balança
comercial brasileira nos próximos meses, com a diminuição da atividade econômica mundial.

 

2.1 - Análise Setorial do Agronegócio

Na análise setorial, as exportações do agronegócio brasileiro nos dois primeiros meses do ano de 2020 (Figura 2), apresentaram redução (-8,0%) em relação ao mesmo período do ano anterior, alcançando US$12,21 bilhões (39,6% do total nacional). Já as importações recuaram 6,6% no período, registrando US$2,28 bilhões (7,7% do total nacional).

O superavit do agronegócio foi de US$9,93 bilhões, sendo 8,3% inferior na comparação com o primeiro bimestre de 2019 (Figura 2).

A participação das exportações do agronegócio no total nacional aumentou 0,3 ponto percentual, enquanto a participação das importações recuou 0,7 p.p. no período analisado (Figura 2).

Portanto, o comércio exterior brasileiro só não foi deficitário devido ao desempenho do agronegócio, uma vez que os demais setores da economia, com exportações de US$18,65 bilhões e importações de US$27,15 bilhões, produziram um deficit de US$8,50 bilhões no primeiro bimestre de 2020.

 

 

2.2 - Exportações do Agronegócio Brasileiro por Grupos de Produtos

Os cinco principais grupos nas exportações do agronegócio brasileiro, nos dois primeiros meses de 2020, foram: complexo soja (US$2,98 bilhões), carnes (US$2,65 bilhões, com a carne de bovina representando 45,1% desse total e as carnes de frango 40,4% e suína 12,0%), produtos florestais (US$1,76 bilhão, com participações de 54,7% de celulose e 28,3% de madeira), complexo sucroalcooleiro (US$998,30 milhões, dos quais 86,3% de açúcar), e o grupo de café (US$824,04 milhões). Esses cinco grupos agregados representaram 75,5% das vendas externas setoriais brasileiras (Tabela 3). Em comparação aos cinco principais grupos de São Paulo, há inversão de posicionamento entre os complexos de soja e o sucroalcooleiro, e os sucos substituem o café na lista dos grupos mais relevantes na pauta paulista (Tabela 3 e 1).

Conforme a tabela 3, na comparação com o primeiro bimestre de 2019, houve importantes variações nos valores exportados dos principais grupos de produtos do agronegócio brasileiro, com destaque os grupos de complexo soja (-14,6%), carnes (+20,5%), produtos florestais (-28,8%), complexo sucroalcooleiro (+31,2%) e do grupo café (-8,2%). Essas variações nas receitas do comércio exterior são derivadas pela composição das oscilações tanto de preços como de volumes exportados.

Assim como observado nas exportações paulistas, destaque também para o grupo de fibras e produtos têxteis, que registrou aumento de 96,3% nas vendas externas somando US$814,1 milhões, onde o produto algodão não cardado nem penteado tem 92,5% de participação desse grupo.

 

2.3 - Exportações do Agronegócio Brasileiro por Grupo de Produtos

A tabela 4 apresenta os dados de valor e volume exportados dos principais produtos dos grupos mais relevantes do agronegócio brasileiro e suas respectivas variações no primeiro bimestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019.

Desses grupos relevantes, o complexo soja é o que apresenta a maior participação (24,4%) nas exportações brasileiras e apresentou queda de 14,6% em valores em 2020. A soja em grão, principal produto do grupo, apresentou recuo de 13,3% e 10,7% em valores e quantidades exportadas respectivamente, mais em função da perda do rebanho suíno na China, que reduziu a demanda de ração animal no principal mercado de destino das exportações brasileiras.

 

 

 

 

O grupo de carnes que tem a segunda posição na pauta brasileira apresentou avanço de 20,5% em valores e 11,5% em volume em relação ao primeiro bimestre de 2019. A carne bovina contribuiu nesse resultado com crescimento de 22,6% em valores e 1,6% em volume exportados. Com resultados expressivos mostram-se também a carne suína (67,1% e 33,3%) e a de frango (11,0% e 13,1%) com aumentos em valores e volume. Nesse grupo, a China se destacou como principal comprador, registrando aumentos significativos (125%), provocados pela maior demanda de proteína animal com a redução do plantel de suínos.

No grupo produtos florestais, todos os subgrupos de produtos apresentaram variações negativas nos valores exportados. A celulose, principal setor do grupo, apresentou variação negativa de 40,0% no valor e de 7,9% na quantidade embarcada.

Para o grupo sucroalcooleiro, os resultados foram positivos nos dois primeiros meses de 2020 após a grande queda em 2019. O álcool etílico apresentou resultados positivos em volume e quantidade (15,7% e 11,8%, respectivamente). Já o açúcar acompanhou o grupo com desempenho positivo para valores (33,9%) e volumes (30,1%) no período analisado.

O grupo do café apresenta resultados negativos, sendo o café verde o principal produto com variação negativa de 9,3% em valores e de 9,7% em quantidades exportadas pelo país. Mas é normal essa redução nos embarques em anos de ciclo de baixa, especialmente no pico da entressafra brasileira (primeiro trimestre), como foi o caso da safra 2019/20.

No grupo de cereais, farinhas e preparações, destaca-se o milho com valores inferiores de 52,6% em valor e 53,4% em volume em relação ao acumulado até o mês de fevereiro de 2019.

 

3 – PARTICIPAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO NO BRASIL

A participação paulista no total da balança comercial brasileira (todos os setores da economia) apresentou quedas de 2,1 pontos percentuais nas exportações e de 2,5 p.p. nas importações nos dois primeiros meses de 2020, apontando valores de 20,0% nas exportações e de 30,7% de representatividade para as importações (Figura 3).

Para o agronegócio, as exportações setoriais de São Paulo no primeiro bimestre de 2020 representaram 17,1% em relação ao agronegócio brasileiro, 0,9 ponto percentual maior na comparação com o mesmo período de 2019; já as importações aumentaram 1,1 ponto percentual, passando de 34,0% para 35,1% no primeiro bimestre de 2020 (Figura 3).

 

 

 

 

 

 

1Estado produtor (Unidade da Federação exportadora), para efeito de divulgação estatística de exportação, é a Unidade da Federação onde foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou fabricados os bens manufaturados, total ou parcialmente. Neste último caso, o estado produtor é aquele no qual foi completada a última fase do processo de fabricação para que o produto adote sua forma final.

 

2Estado importador (Unidade da Federação importadora) é definido como a Unidade da Federação do domicílio fiscal do importador.

 

3Os grupos de produtos dos agronegócios podem ser vistos na opção “Tabela de Agrupamentos”de MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agrostat. Brasília: MAPA, 2020. Disponível em: http://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm. Acesso em: mar. 2020,

 

Palavras-chave: agronegócio, balança comercial, exportações, importações, comércio exterior, grupo de produtos, países destinos.




Data de Publicação: 24/03/2020

Autor(es): José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Carlos Nabil Ghobril (nabil@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor