Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Janeiro a Julho de 2020


 

1 - BALANÇA COMERCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

De janeiro a julho de 2020, as exportações do Estado de São Paulo1 somaram US$22,70 bilhões (18,8% do total nacional), e as importações2 US$29,86 bilhões (32,8% do total nacional), registrando deficit comercial de US$7,16 bilhões (Figura 1). Em relação ao mesmo período de 2019, houve queda nas exportações (-20,1%) e nas importações
(-14,0%). Essa conjunção de desempenhos resultou no deficit de 13,5%, superior na balança paulista nos sete primeiros meses de 2020 em comparação ao mesmo período do ano anterior.

 

Ao se analisar o comportamento mensal, no mês de julho de 2020, as exportações do Estado de São Paulo somaram US$3,20 bilhões e as importações US$4,07 bilhões, registrando um deficit de US$870 milhões (Tabela 1). Na comparação com julho de 2019, o valor das exportações paulistas teve queda de 22,9%, e o valor das importações caíram 25,7%.

 

Observa-se na tabela 1 que as exportações mensais de 2020 registraram variações negativas em relação aos meses de 2019, principalmente em abril (-36,4%), maio (-28,7%) e em junho (-18,7%). O principal motivo dessa expressiva queda no acumulado de 2020 é a situação de retração econômica frente à pandemia da covid-19, afetando as exportações de algumas das principais mercadorias da pauta paulista, como os óleos brutos de petróleo, aviões peso superior 15 toneladas, automóveis, querosenes de aviação, gasolina e óleo combustível, entre outros.

 

1.1 - Análise Setorial do Agronegócio

Na análise setorial do agronegócio, o resultado dos sete primeiros meses de 2020, na comparação com o mesmo período do ano anterior, indica que o agronegócio3 paulista apresentou aumento nas exportações (+9,3%), alcançando US$9,51 bilhões, e queda nas importações (-12,9%), totalizando US$2,44 bilhões; com estes resultados, obteve-se superavit de US$7,07 bilhões, +19,8% quando comparado ao mesmo período de 2019 (Figura 1).

A participação das exportações do agronegócio paulista no total do Estado é de 41,9%, enquanto a participação das importações é de 8,2% (Figura 1).

Há que se destacar que as exportações paulistas nos demais setores da economia - exclusive o agronegócio - somaram US$13,19 bilhões, e as importações US$27,42 bilhões, gerando um deficit externo desse agregado de US$14,23 bilhões. Dessa forma, conclui-se que o deficit do comércio exterior paulista só não foi maior devido ao desempenho do agronegócio estadual, cujo saldo se manteve positivo (US$7,07 bilhões).

A tabela 2 apresenta os resultados mensais da balança comercial do agronegócio paulista. Analisando o comportamento de julho de 2020, as exportações do Estado de São Paulo somaram US$1,32 bilhão, e as importações US$0,29 bilhão, registrando superavit de US$1,03 bilhão. Na comparação com julho de 2019, o valor da balança comercial teve queda de -5,7% nas exportações e -25,6% nas importações (Tabela 2).

 

1.2 - Exportações do Agronegócio Paulista por Grupos de Produtos

Os cinco principais grupos nas exportações do agronegócio paulista, de janeiro a julho de 2020, foram: complexo sucroalcooleiro (US$2,86 bilhões, sendo que desse total o açúcar representou 85,1% e o álcool 14,9%), seguido do grupo de complexo de soja (US$1,68 bilhão), do setor de carnes (US$1,28 bilhão, em que a carne bovina respondeu por 85,4%), dos produtos florestais (US$916,10 milhões, com participações de 50,7% de papel e 38,0% de celulose) e dos sucos (US$745,32 milhões, dos quais 96,2% referentes a sucos de laranja).  Esses cinco agregados representaram 78,6% das vendas externas setoriais paulista (Tabela 3).

 

Tabela 3 - Exportações do Agronegócio por Grupo de Produtos, Estado de São Paulo, Janeiro a Julho de 2019 e 2020

 

Ainda de acordo com a tabela 3, na comparação com os sete primeiros meses de 2019, houve importantes variações nos valores exportados dos principais grupos de produtos da pauta paulista, com aumentos para os grupos do complexo sucroalcooleiro (+31,6%), complexo soja (+22,5%) e de carnes (+15,8%); e quedas para produtos florestais (-13,1%) e sucos (-18,5%). Essas variações nas receitas do comércio exterior são derivadas pela composição das oscilações tanto de preços como de volumes exportados.

 

1.3 - Exportações dos Principais Produtos do Agronegócio Paulista

A tabela 4 apresenta informações comparativas sobre valores e volumes exportados dos principais produtos que formam os grupos mais relevantes do agronegócio paulista, considerando os sete primeiros meses de 2020 e de 2019

 

 

Desses grupos relevantes, o sucroalcooleiro é o que apresenta a maior participação (30,1%) nas exportações paulistas. No total, o grupo cresceu 31,6% em valores e 39,7% em volumes exportados, especialmente como resultado da alta de 42,0% nos volumes exportados e de 38,7% nos valores do açúcar, indicando cotações abaixo das praticadas em 2019. Para as exportações de álcool etílico, os embarques são 16,5% superiores e 2,2% nos valores, indicando retração nas cotações quando comparadas com o mesmo período de 2019.

O grupo composto pelo complexo soja apresenta-se em segunda posição com alta nos embarques (25,0%) e em valores (22,5%). A soja em grão apresentou os maiores valores e volumes (27,1% e 31,2%, respectivamente). A mesma situação do complexo sucroalcooleiro, registrando também alta nos volumes em percentuais superiores aos valores.

Para o grupo de carnes, que ocupa a terceira posição na pauta de exportações do agronegócio paulista, os resultados indicam situação diferente da registrada para o sucroalcooleiro e para o complexo soja. Esse conjunto de produtos apresenta avanço de 15,8% em valores e de 10,7% nos volumes, indicando assim alta nas cotações, quando comparadas a 2019. Esse desempenho deve-se à carne bovina, o produto de maior contribuição no grupo, com crescimentos de 19,4% em valores e de 11,5% em volumes exportados. A carne de frango teve retração de -2,0% nos valores e 9,4% para volumes, e a carne suína apresentou aumentos expressivos de 57,4% em valores e de 62,9% na quantidade embarcada.

Os produtos florestais apresentaram queda no desempenho entre janeiro e julho de 2020, com redução de 13,1% em valores em relação ao período do ano anterior. O produto papel, principal item do grupo na pauta paulista, obteve variação negativa quanto aos valores (-22,1%) e ao volume (-11,9%). As exportações dos produtos de celulose apresentaram queda nos valores (-2,3%) e crescimento em volume (44,5%).

O suco de laranja (FCOJ concentrado) exibiu aumentos de 4,2% no valor e 35,9% em volume exportado. A variação total das exportações do grupo de sucos foi de -18,5% em valores na comparação com os sete primeiros meses de 2019, frente à retração das cotações.

Para o grupo do café, os resultados apontaram variações negativas, com queda de -2,7% nos valores das exportações paulista. O principal produto deste grupo é o café verde, que apresentou aumento de 0,5% em valores e queda de -6,6% em quantidades exportadas pelo estado, enquanto o café solúvel, apesar da queda de -11,5% em valores, apresentou aumento de 5,8% em volume comercializado.

 

2 - BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL

A balança comercial brasileira registrou superavit de US$29,98 bilhões no período de

de janeiro a julho de 2020, com exportações de US$120,89 bilhões e importações de US$90,91 bilhões. Esse resultado indica aumento de 6,8% no superavit comercial em relação ao mesmo período de 2019, devido ao recuo das exportações (-6,7%) e das importações
(-10,5%) (Figura 2).

 

A tabela 5 apresenta o comportamento mensal, no mês de julho de 2020, indicando que as exportações brasileiras somaram US$19,57 bilhões, e as importações US$11,51 bilhões, apresentando superavit de US$8,06 bilhões. Na comparação com julho de 2019, o valor das exportações recuou 2,9% e, para as importações, a queda foi de 35,2% (Tabela 5), resultado esse impactado pelos efeitos econômicos causados pelo coronavírus.

 

2.1 – Análise Setorial do Agronegócio

Na análise setorial, as exportações do agronegócio brasileiro nos sete primeiros meses de 2020 (Figura 2) apresentaram alta (9,2%) em relação ao mesmo período do ano anterior, alcançando US$61,19 bilhões (50,6% do total nacional). Já as importações recuaram 11,2% no período, registrando US$7,22 bilhões (7,9% do total nacional). Nota-se, nos últimos meses, um aumento da participação do agronegócio no total de exportações brasileiras em decorrência dos efeitos do coronavírus sobre os demais setores da economia.

O superavit do agronegócio foi de US$53,97 bilhões no período, sendo 12,6% superior na comparação entre janeiro e julho de 2019 (Figura 2).

A participação das exportações do agronegócio no total nacional aumentou 7,4 pontos percentuais, e a das importações recuou -0,1 p.p. no período analisado (Figura 2).

Portanto, o comércio exterior brasileiro só não foi deficitário devido ao desempenho do agronegócio, uma vez que os demais setores da economia, com exportações de US$59,70 bilhões e importações de US$83,69 bilhões, produziram um deficit de US$23,99 bilhões nos sete primeiros meses de 2020.

A tabela 6 mostra os resultados mensais da balança comercial do agronegócio nacional. Em julho de 2020, as exportações somaram US$10,01 bilhões e as importações US$0,98 bilhão, registrando superavit de US$9,03 bilhões. Na comparação com julho de 2019, o valor do saldo da balança comercial cresceu 15,8%, com acréscimos de 11,6% nas exportações e queda de 16,2% nas importações.

 

 

 

2.2 - Exportações do Agronegócio Brasileiro por Grupos de Produtos

Os cinco principais grupos nas exportações do agronegócio brasileiro nos sete primei-

ros meses de 2020 foram: complexo soja (US27,86 bilhões), carnes (US9,80 bilhões, com a carne bovina representando 47,9% desse total, e as carnes de frango 36,6% e suína 13,0%), produtos florestais (US6,60 bilhões, com participações de 54,8% de celulose e 28,8% de madeira), complexo sucroalcooleiro (US4,70 bilhões, dos quais 88,6% de açúcar), e o grupo de café (US2,91 bilhões, sendo que 88,8% se refere ao café verde). Esses cinco grupos agregados representaram 84,8% das vendas externas setoriais brasileiras (Tabela 7).

 

Conforme a tabela 7, na comparação com os sete primeiros meses de 2019, houve importantes variações nos valores exportados dos principais grupos de produtos do agronegócio brasileiro, com destaque os grupos de complexo soja (+27,8%), carnes (+9,4%), produtos florestais (-19,8%), complexo sucroalcooleiro (+48,2%) e do grupo café (-1,5%). Essas variações nas receitas do comércio exterior são derivadas pela composição das oscilações tanto de preços como de volumes exportados.

Destaque também para o grupo de fibras e produtos têxteis, que registrou aumento de 30,2% nas vendas externas somando US$1,58 bilhão, ocupando a sétima posição na pauta de exportações, sendo que o produto algodão não cardado nem penteado tem 89,5% de participação desse grupo.

 

2.3 - EXPORTAÇÕES DOS PRINCIPAIS PRODUTOS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

A tabela 8 apresenta os dados de valor e volume exportados dos principais produtos dos grupos mais relevantes do agronegócio brasileiro e suas respectivas variações no período de janeiro a julho de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.

Desses grupos relevantes, o complexo soja é o que apresenta a maior participação (45,5%) nas exportações brasileiras, tendo alta de 27,8% em valores e de 31,3% em volumes exportados em 2020. A soja em grão, principal produto do grupo, exibiu aumentos de 33,3% e 36,3% em valores e quantidades exportadas, respectivamente, mantendo o movimento de alta desde o mês de março de 2020, quando a China retomou as compras pós-peste suína. A China representa 62,3% das compras desse grupo, seguida pela União Europeia (15,6%) e Tailândia (4,0%), enquanto os demais países importadores somam 18,1%.

O grupo de carnes, que tem a segunda posição na pauta brasileira, apresentou avanço de 9,4% em valores e 6,6% em volume em relação aos primeiros sete meses de 2019. A carne bovina contribuiu nesse resultado com crescimento de 25,1% em valores e 11,2% em volume exportados, conforme indicado anteriormente, resultado das cotações superiores às registradas no ano anterior. Com resultados expressivos mostra-se a carne suína (42,9% e 38,3%), enquanto a de frango teve perdas em valores (-12,2%) e em volume (-0,3%). Nesse grupo, a China se destacou como principal destino e representa 37,6% das compras de carnes, provocados pela maior demanda de proteína animal sofrendo ainda com a redução do plantel de suínos. Na sequência aparecem Hong Kong (11,4%), União Europeia (6,3%) e Arábia Saudita (4,8%); Japão (4,6%), Emirados Árabes Unidos (3,7%), Egito (3,2%) e os demais países somam 28,5% de participação.

 

 

 

No grupo produtos florestais, todos os subgrupos de produtos apresentaram variações negativas nos valores exportados, com ligeira variação no volume total do grupo. Assim, esse agregado apresentou queda de 19,8% nas receitas, enquanto houve variação positiva de 3,9% no volume exportado, denotando queda nos preços internacionais. A celulose, principal produto do grupo, apresentou variação negativa de 27,4% no valor e elevação de 4,8% na quantidade embarcada. Os principais países importadores desse grupo são a China (27,6% de participação), Estados Unidos (22,6%) e a União Europeia (20,3%); os demais importadores somam 29,6% de participação.

Para o grupo sucroalcooleiro, os resultados foram positivos, principalmente quando considerados os volumes exportados. O álcool etílico exibiu crescimento em valores e quantidades embarcadas (15,2% e 28,9%, respectivamente). O açúcar puxou o bom desempenho do grupo, apresentando aumentos expressivos para valores (53,5%) e volumes (57,0%) no período analisado. O destino das exportações desse grupo é bem desconcentrado, apresentando como principais compradores Argélia (8,1%), China (8,0%), Estados Unidos (7,9%), Bangladesh (7,8%), Indonésia (5,4%), Arábia Saudita (5,1%), Nigéria (5,0%), Marrocos (4,8%) e Índia (4,2%). Os demais países somam 43,6% de participação.

O grupo do café apresenta desempenho negativo em valores (-1,5%) e em quantidades (-4,6%), sendo o café verde o principal produto, com variações negativas de 1,0% em valores e de 4,9% em quantidades exportadas pelo país. Aguarda-se o desenrolar da colheita iniciada em maio para avaliar o desempenho do comércio exterior do produto. Quanto às participações dos países destinos das exportações em valores, a União Europeia representa 48,6% desse grupo, Estados Unidos 19,1%, Japão 5,9%, Rússia 3,3% e Turquia 2,8%; os demais países importadores somam 20,3% de participação.

No grupo de fibras e produtos têxteis, destaca-se o algodão não cardado nem penteado com expressivas variações positivas de 43,6% em valor e 57,1% em volume e, assim, desempenho amplamente superior ao registrado em 2019. A China é o principal comprador com 23,1%, seguida de Vietnã (14,8%), Turquia (12,2%), Bangladesh (11,4%), Paquistão (11,2%) e Indonésia (10,2%); os demais importadores participam com 17,3%.

 

3 - PARTICIPAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO NO BRASIL

A participação paulista no total da balança comercial brasileira (todos os setores da economia) apresentou quedas de 3,1 pontos percentuais nas exportações e de 1,4 p.p. nas importações nos sete primeiros meses de 2020, apontando valores de 18,8% nas exportações e de 32,8% de representatividade para as importações (Figura 3).

Para o agronegócio, as exportações setoriais de São Paulo nos sete primeiros meses de 2020 representaram 15,5% em relação ao agronegócio brasileiro, mesmo percentual registrado no mesmo período de 2019; já as importações tiveram ligeira queda (0,6 p.p.) passando de 34,4% para 33,8% (Figura 3).

 

 

 

 

 

1Estado produtor (unidade da Federação exportadora), para efeito de divulgação estatística de exportação, é a unidade da Federação onde foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou fabricados os bens manufaturados, total ou parcialmente. Neste último caso, o estado produtor é aquele no qual foi completada a última fase do processo de fabricação para que o produto adote sua forma final.

 

2Estado importador (unidade da Federação importadora) é definido como a unidade da Federação do domicílio fiscal do importador.

 

3Os grupos de produtos dos agronegócios podem ser vistos na opção “Tabela de Agrupamentos” de MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agrostat. Brasília: MAPA, 2020. Disponível em:  http://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm. Acesso em: jul. 2020. 

 

Palavras-chave: agronegócio, balança comercial, exportações, importações, comércio exterior, grupo de produtos.

 

 

 

 

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

 

ANGELO, J. A.; OLIVEIRA, M. D. M.; GHOBRIL, C. N. Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Janeiro a Julho de 2020. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 8, ago. 2020. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 03/09/2020

Autor(es): José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Carlos Nabil Ghobril (nabil@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor