Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Janeiro a Outubro de 2020


 

1 - BALANÇA COMERCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

De janeiro a outubro de 2020, as exportações do Estado de São Paulo1 somaram US$34,30 bilhões (19,7% do total nacional) e as importações§ US$42,14 bilhões (33,3% do total nacional), registrando deficit comercial de US$7,84 bilhões (Figura 1). Em relação ao mesmo período de 2019, houve queda nas exportações (-15,5%) e nas importações
(-16,6%); essa conjunção de desempenhos resultou em redução do deficit (-21,1%) na balança paulista nos dez primeiros meses de 2020.

                Ao se analisar o comportamento mensal no mês de outubro de 2020, as exportações do Estado de São Paulo somaram US$3,79 bilhões, e as importações US$4,32 bilhões, registrando um deficit de US$530 milhões (Tabela 1). Na comparação com outubro de 2019, o valor das exportações paulistas teve queda de 6,0% e o das importações caiu 22,9%.

 

 

Observa-se na tabela 1 que as exportações mensais de 2020 registraram variações negativas em relação aos meses de 2019, principalmente nos meses de abril (-36,1%) e maio (-28,1%). O principal motivo dessa expressiva queda no acumulado de 2020 é a pandemia da covid-19, afetando as exportações de algumas das principais mercadorias da indústria extrativista e de transformação, como os óleos brutos de petróleo, aviões peso superior 15 toneladas, automóveis, querosenes de aviação, gasolina e óleo combustível, entre outros.

 

1.1 - Análise Setorial do Agronegócio

Na análise setorial do agronegócio, o resultado no acumulado de janeiro a outubro de 2020, na comparação com o mesmo período do ano anterior, indica que o agronegócio3 paulista apresentou aumento nas exportações (+12,2%), alcançando US$14,30 bilhões, e queda nas importações (-14,1%), totalizando US$3,36 bilhões; com estes resultados, obteve-se superavit de US$10,94 bilhões (+23,8%), quando comparado ao mesmo período de 2019 (Figura 1).

A participação das exportações do agronegócio paulista no total do estado é de 41,7%, enquanto a participação das importações setoriais é de 8,0% (Figura 1).

Há que se destacar que as exportações paulistas nos demais setores da economia - exclusive o agronegócio - somaram US$20,00 bilhões, e as importações US$38,78 bilhões, gerando um deficit externo desse agregado de US$18,78 bilhões. Dessa forma, conclui-se que o deficit do comércio exterior paulista só não foi maior devido ao desempenho do agronegócio estadual, cujo saldo se manteve positivo (US$10,94 bilhões).

A tabela 2 apresenta os resultados mensais da balança comercial do agronegócio paulista. Analisando o comportamento de outubro de 2020, as exportações do Estado de São Paulo somaram US$1,53 bilhão, e as importações US$0,33 bilhão, registrando superavit de US$1,20 bilhão.

 

 

1.2 - Exportações do Agronegócio Paulista por Grupos de Produtos

         Os cinco principais grupos nas exportações do agronegócio paulista, de janeiro a outubro de 2020, foram: complexo sucroalcooleiro (US$5,14 bilhões, sendo que, desse total, o açúcar representou 84,8% e o álcool 15,2%), seguido do grupo de complexo de soja (US$1,89 bilhão), do setor de carnes (US$1,87 bilhão, do qual a carne bovina respondeu por 86,8%), dos produtos florestais (US$1,27 bilhão, com participações de 49,6% de papel e 37,9% de celulose) e dos sucos (US$1,13 bilhão, dos quais 97,0% referentes a sucos de laranja). Esses cinco agregados representaram 79,1% das vendas externas setoriais paulista (Tabela 3).

 

         Ainda de acordo com a tabela 3, na comparação com os dez primeiros meses de 2019, houve importantes variações nos valores exportados dos principais grupos de produtos da pauta paulista, com aumentos para os grupos do complexo sucroalcooleiro (+49,6%), complexo soja (+23,4%) e de carnes (+4,6%); e quedas para produtos florestais (-13,2%) e sucos (-20,5%). Essas variações nas receitas do comércio exterior são derivadas pela composição das oscilações tanto de preços como de volumes exportados.

 

1.3 - Exportações dos Principais Produtos do Agronegócio Paulista

         Os dados de valor e volume exportados dos principais produtos dos grupos mais relevantes do agronegócio paulista no acumulado até outubro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, são apresentados na tabela 4.

         Desses grupos relevantes, o sucroalcooleiro é o que apresenta a maior participação (36.0%) nas exportações paulistas. No total, o grupo cresceu 49,6% em valores e 62,1% em volumes exportados, devido ao bom desempenho das vendas externas do açúcar (64,1% em valores e 67,7% em volume). Para o álcool, os embarques apresentaram aumento de 18,5% em volume e ligeiro crescimento de 0,4% em valores, quando comparados com o mesmo período de 2019.

         O grupo composto pelo complexo soja apresenta-se em segunda posição com alta nos embarques (25,4%) e em valores (23,4%). A soja em grão apresentou as maiores variações de valores e volumes (32,1% e 36,4%, respectivamente).

         O grupo de carnes tem a terceira posição na pauta do estado, apresentando avanço (4,6%) em valores e volume (4,5%) em relação aos dez primeiros meses de 2019. A carne bovina foi o produto de maior contribuição no grupo, com crescimentos de 8,0% em valores e de 7,7% em volume exportados. O desempenho da carne de frango foi de retração em valores (-13,4%) e em volumes (-0,1%). A carne suína apresentou aumentos expressivos de 86,1% em valores e de 86,2% na quantidade embarcada.

Os produtos florestais apresentaram menor desempenho de janeiro a outubro de 2020, com queda de 13,2% em valores em relação ao ano anterior. O produto papel, principal item do grupo na pauta paulista, obteve variação negativa quanto aos valores
(-24,9%) e ao volume (-13,0%). As exportações dos produtos de celulose apresentaram redução nos valores (-0.3%) e expansão nos embarques (39,8%).

         O suco de laranja (FCOJ concentrado) exibiu queda de 11,3% no valor e aumento de 14,1% em volume exportado. Já para o suco NFC (não congelado), as vendas externas recuaram em valores (-11,0%) e em volume (-5,3%). A variação total das exportações do grupo de sucos foi de -20,5% em valores na comparação com os dez primeiros meses de 2019.

 

 

 

         Para o grupo do café, os resultados apontaram variações negativas de -3.3% nos valores das exportações paulistas. O principal produto deste grupo é o café verde, que apresentou aumento de 1,8% em valores e queda de -2,6% em quantidades exportadas pelo estado, enquanto o café solúvel, apesar da queda de -15.7% em valores, apresentou aumento de 1,7% em volume comercializado.

 

2 - BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL

A balança comercial brasileira registrou superávit de US$47,43 bilhões no período de janeiro a outubro de 2020, com exportações de US$174,15 bilhões e importações de US$126,72 bilhões. Esse resultado indica aumento de 23.1% no superávit comercial em relação ao mesmo período de 2019, devido ao menor recuo das exportações (-7,9%) em relação as importações (-15,9%) (Figura 2).

 

A tabela 5 apresenta o comportamento mensal, indicando que em outubro de 2020 as exportações brasileiras somaram US$17,86 bilhões, e as importações US$12,38 bilhões, apresentando superavit de US$5,48 bilhões. Na comparação com outubro de 2019, o valor das exportações recuou 8,8%, e a queda das importações foi de -27,3% (Tabela 5), resultado impactado pelos efeitos econômicos causados pelo coronavírus.

 

2.1 - Análise Setorial do Agronegócio

Na análise setorial, as exportações do agronegócio brasileiro nos dez primeiros meses de 2020 (Figura 2) apresentaram alta (5,7%) em relação ao mesmo período do ano anterior, alcançando US$85,84 bilhões (49,3% do total nacional). Já as importações recuaram 9,6% no período, registrando US$10,38 bilhões (8,2% do total nacional).

O superavit do agronegócio foi de US$75,46 bilhões no período, sendo 8,2% superior na comparação entre janeiro e outubro de 2019 (Figura 2).

Nota-se, nos últimos meses, um aumento da participação do agronegócio no total de exportações brasileiras, em decorrência dos efeitos do coronavírus sobre os demais setores da economia, sendo que a participação das exportações do agronegócio no total nacional aumentou 6,4 pontos percentuais, e a das importações aumentou 0,6 p.p. no período analisado (Figura 2).

Portanto, o comércio exterior brasileiro só não foi deficitário devido ao desempenho do agronegócio, uma vez que os demais setores da economia, com exportações de US$88,31 bilhões e importações de US$116,34 bilhões, produziram um deficit de US$28,03 bilhões nos dez primeiros meses de 2020.

A tabela 6 mostra os resultados mensais da balança comercial do agronegócio nacional. Em outubro de 2020, as exportações somaram US$8,18 bilhões, e as importações US$1,20 bilhão, registrando superavit de US$6,98 bilhões. Na comparação com outubro de 2019, o valor do saldo da balança comercial mensal foi menor em 7,2%, com recuo de 6,2% nas exportações e estabilidade nas importações.

 

 

2.2 – Exportações do Agronegócio Brasileiro por Grupos de Produtos

Os cinco principais grupos nas exportações do agronegócio brasileiro nos dez primeiros meses de 2020 foram: complexo soja (US$33,69 bilhões), carnes (US$14,10 bilhões, com a carne bovina representando 48,8% desse total, de frango 35,3% e suína 13,2%), produtos florestais (US$9,45 bilhões, com participações de 53,4% de celulose e 31,0% de madeira), complexo sucroalcooleiro (US$8,06 bilhões, dos quais 87,9% de açúcar), e o grupo de cereais, farinhas e preparações (US$4,99 bilhões, sendo 82,2% do milho em grão e 9,4% de arroz). Esses cinco grupos agregados representaram 81,8% das vendas externas setoriais brasileiras (Tabela 7).

Ainda conforme a tabela 7, na comparação com os dez primeiros meses de 2019, houve importantes variações nos valores exportados dos principais grupos de produtos do agronegócio brasileiro, com destaque para os grupos de complexo soja (+17,8%), carnes (+4,9%), produtos florestais (-15,1 %), complexo sucroalcooleiro (+59,7%) e do grupo de cereais, farinhas e preparações (-22,6%). Essas variações nas receitas do comércio exterior são derivadas pela composição das oscilações tanto de preços como de volumes exportados.

 

2.3 - Exportações dos Principais Produtos do Agronegócio Brasileiro

A tabela 8 apresenta os dados de valor e volume exportados dos principais produtos dos grupos mais relevantes do agronegócio brasileiro e suas respectivas variações no período de janeiro a outubro de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019.

 

Desses grupos relevantes, o complexo soja é o que apresenta a maior participação (39,2%) nas exportações brasileiras, com alta de 17,8% em valores e de 20,4% em volumes exportados em 2020. A soja em grão, principal produto do grupo, exibiu aumentos de 21,3% e 23,7% em valores e quantidades exportadas, respectivamente. A China representa 61,2% das compras desse grupo, seguida pela União Europeia (15,8%) e Tailândia (4,7%); os demais países importadores somam 18,3%.

O grupo de carnes que tem a segunda posição na pauta brasileira apresentou avanço de 4,9% em valores e 5,6% em volume em relação aos primeiros dez meses de 2019. A carne bovina contribuiu nesse resultado com crescimento de 15,8% em valores e 9,0% em volume exportados. Com resultados positivos mostra-se a carne suína (46.9% e 39,0%), e a de frango com perdas em valores (-14,3%) e em volume (-1,5%). Nesse grupo, a China se destacou como principal destino e representa 37,5% das compras de carnes, provocados pela maior demanda de proteína animal sofrendo ainda com a redução do plantel de suínos. Na sequência aparecem Hong Kong (11,1%), União Europeia (6,7%), Arábia Saudita (4,9%) e Japão (4,3%), Emirados Árabes Unidos (3,6%), Egito (3,1%), Chile (3,1%) e Estados Unidos (2,5%); os demais países somam 23,2% de participação.

No grupo produtos florestais, todos os subgrupos de produtos apresentaram variações negativas nos valores exportados, com variação negativa de 15,1% no valor total do grupo, embora ele tenha apresentado um aumento de 6,2% no volume exportado. Os principais países importadores desse grupo são China (28,1% de participação), Estados Unidos (23,8%) e União Europeia (19,0%); os demais importadores somam 29,1% de participação.

Para o grupo sucroalcooleiro, os resultados foram positivos, com crescimento expressivo em valores e quantidades embarcadas (59,7% e 69,8%, respectivamente). O açúcar puxou o bom desempenho do grupo, apresentando aumentos para valores (68,6%) e volumes (72,8%) no período analisado. O destino das exportações desse grupo é bem diversificado, apresentando como principais compradores China (12,6%), Estados Unidos (7,5%), Bangladesh (6,8%), Argélia (6,6%), Índia (5,4%), Indonésia (4,8%), Nigéria (4,4%), Arábia Saudita (4,0%); os demais países somam 47,9% de participação.

O grupo de cereais, farinhas e preparações apresenta desempenho negativo em valores (-22,6%) e em quantidades (-24,3%). Os principais países compradores desse grupo são União Europeia (13,6%), Japão (11,0%), Irã (10,3%), Vietnã (8,1%), Egito (6,7%), Taiwan (6,5%), Coreia do Sul (5,7%) e Venezuela (4,4%); os demais importadores somam 33,7% de participação.

O grupo do café apresenta ganho em valores (1,2%) e em estabilidade nas quantidades (0,0%), sendo o café verde o principal produto com variações de 2,3% em valores e de -0,1% em quantidades exportadas pelo país. Quanto às participações dos países destinos das exportações em valores, a União Europeia representa 65,1% desse grupo, Estados Unidos 18,8%, Japão 5,5%, China 3,2, Austrália 1,8%; os demais países importadores somam 6,3% de participação.

 

3 - PARTICIPAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO NO BRASIL

A participação paulista no total da balança comercial brasileira (todos os setores da economia) apresentou quedas de 1,8 ponto percentual nas exportações e de 0,2 p.p. nas importações de janeiro a outubro de 2020, apontando valores de 19,7% nas exportações e de 33,3% de representatividade para as importações (Figura 3).

 

Para o agronegócio, as exportações setoriais de São Paulo nos dez primeiros meses de 2020 representaram 16,7% em relação ao agronegócio brasileiro, valor 1,0 ponto percentual superior ao registrado no mesmo período de 2019; já as importações tiveram queda (1,7 p.p.), passando de 34,1% para 32,4% (Figura 3).

 

 

 

 

1Estado produtor (unidade da Federação exportadora), para efeito de divulgação estatística de exportação, é a unidade da Federação onde foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou fabricados os bens manufaturados, total ou parcialmente. Neste último caso, o estado produtor é aquele no qual foi completada a última fase do processo de fabricação para que o produto adote sua forma final.

 

2Estado importador (unidade da Federação importadora) é definido como a unidade da Federação do domicílio fiscal do importador.

 

3Os grupos de produtos dos agronegócios podem ser vistos na opção “Tabela de Agrupamentos” de MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agrostat. Brasília: MAPA, 2020. Disponível em:  http://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm. Acesso em: nov. 2020.

 

 

Palavras-chave: agronegócio, balança comercial, exportações, importações, comércio exterior, grupo de produtos.

 

 

 

 

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

ANGELO, J. A.; OLIVEIRA, M. D. M.; GHOBRIL, C. N. Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Janeiro a Outubro de 2020. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 12, dez. 2020. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 06/12/2020

Autor(es): José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Nabil Ghobril (nabil@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor