Commodities: açúcar foi o campeão de alta em dezembro de 2005


            Em dezembro, os mercados internacionais de commodities apresentaram forte tendência de alta, com exceção do café arábica. Das nove commodities analisadas neste artigo, açúcar e café robusta tiveram aumento de preço acima de 10% nos mercados de futuros. 


            O açúcar, que atingiu as maiores cotações desde 1994, teve no mês uma alta de 18,98% na Bolsa de Nova York. Este resultado ocorreu em virtude da escassez de origem, com vários produtores adiando suas vendas.
            Por sua vez, o boi gordo provocou nova desorganização do mercado e ampliação das restrições por parte dos países importadores, com a ocorrência de novo foco de febre aftosa no Paraná e as indefinições sobre as medidas sanitárias a serem implementadas por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1 e do governo paranaense. As cotações do boi gordo voltaram a apresentar queda expressiva, recuando aos níveis ocorridos em meados de setembro de 2005, tanto em dólar quanto em real por arroba, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). 


            Já no acumulado de 2005, a evolução das cotações das commodities indica alta em geral, com exceção do café arábica e do boi que apresentaram queda no ano. Porém, quando se compara as cotações médias de 2005 com as de 2004, o algodão, a soja, o milho e o trigo apresentaram variações negativas, enquanto as demais tiveram preços médios maiores em 2005 (tabela 1).

Tabela 1 – Variação dos preços médios mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, dezembro de 2005, no acumulado em 2005 e dos preços médios do ano de 2005 em relação ao de 2004
(em percentagem)

Commodities
Mercado
Dezembro de 2005
Acumulado 
2005
PM 2005/ 
PM 2004
Açúcar
NY
18,98
55,11
31,88
Algodão
NY
0,47
23,26
-7,14
Café arábica
NY
-3,13
-0,58
40,98
Café robusta
Lo
11,30
48,71
42,47
Suco Laranja CC
NY
4,16
49,07
44,79
Soja grão
CHT
2,83
10,99
-16,66
Milho 
CHT
2,85
1,89
-15,62
Trigo
CHT
2,09
7,59
-7,11
Borracha SM20
Malásia
4,25
38,33
13,36
Boi
BM&F
-10,29
-1,97
19,84
Boi – em reais
BM&F
-7,38
-17,82
-9,61
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            A tabela 1 mostra os resultados da análise das cotações médias mensais e no acumulado de 2005 e das médias dos anos de 2004 e 2005, das principais commodities agrícolas. Tem como base as cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em novembro e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.


            O açúcar registrou o melhor desempenho entre as c
ommodities analisadas, com forte tendência de alta em dezembro, atingindo o maior preço desde 1994. O aumento foi de 18,98% em relação ao valor médio do mês anterior, devido à procura maior que a oferta, além da pressão pela demanda de álcool por parte do Brasil e da queda na oferta de países como Tailândia, Paquistão e China. Assim, com a alta de dezembro, o preço médio do açúcar cresceu 55,11% no ano, o maior entre as commodities. Já em relação à média de 2004, o preço médio de 2005 aumentou 31,88%.

            Entre as commodities negociadas na Bolsa de Nova York, o suco de laranja continuou em alta, atingindo 4,16% em relação à média de novembro, devido às perdas de safra na Flórida, à menor produção paulista e aos baixos estoques internacionais. Em 2005, o aumento acumulado atingiu 49,07%, vindo logo depois do açúcar. Ao comparar as cotações médias anuais do suco de laranja em 2005 com as de 2004, verifica-se crescimento de 44,79%, a maior variação entre as commodities analisadas. 


            Para o café arábica, ocorreu uma reversão de tendência, com queda de 3,13% em relação à média de novembro. O mercado de café indica uma demanda mundial superior à oferta, mas não tem ocorrido sustentação das cotações, principalmente com as especulações sobre a safra futura do Brasil. A menor demanda em dezembro, devido a um outono mais ameno, tem limitado o crescimento no preço do produto. No ano, as cotações do café arábica caíram 0,58%. Quando se compara o preço médio de 2005 com o de 2004, observa-se alta de 40,98%, devido aos picos de preços no primeiro trimestre de 2005. 


            Os preços do algodão, na bolsa de Nova York, ficaram praticamente estáveis em dezembro, com alta de 0,47% na cotação média em relação a novembro. Isto ocorreu devido aos menores embarques americanos. Porém, em 2005, o preço do produto aumentou 23,26% e, na comparação da média de 2005 com a de 2004, tem-se uma queda de 7,14% (tabela 1). 


            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 

            O preço médio da soja, no mercado de Chicago, aumentou 2,83% em relação à média de novembro, pressionado pela estiagem na Argentina e no Sul do Brasil. No acumulado do ano, a alta chegou a 10,99%. Mas o preço médio anual de 2005 caiu 16,66% em relação a 2004, devido ao bom desempenho da safra americana.
            No caso do milho, o comportamento em Chicago foi de leve recuperação nas cotações. No mês de dezembro, a cotação média subiu 2,85%; no ano, 1,89%; e os preços médios de 2005 foram 15,62% inferiores aos de 2004. Com o aumento da oferta, a queda só não foi maior devido à maior demanda para a produção de etanol.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A menor oferta de trigo de boa qualidade no mercado internacional tende a dar sustentação aos preços da commodity. Assim, as cotações do trigo na Bolsa de Chicago apresentaram alta de 2,09% em dezembro. No ano, o aumento atingiu 7,59%, mas os preços médios de 2005 foram 7,11% menores que os de 2004.
            O café robusta na Bolsa de Londres manteve a tendência de alta e continuou a apresentar o segundo maior ganho nas cotações médias de dezembro. O acréscimo foi de 11,30% em relação à média de novembro, devido à menor oferta em função da quebra de safra no Vietnã. Com isso, a cotação do produto atingiu alta de 48,71% em 2005. Ao mesmo tempo, o preço médio em 2005 foi 42,47% maior que o de 2004 (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A cotação da borracha natural voltou a subir, atingindo alta de 4,25% em dezembro em relação à média de novembro. No ano de 2005, cresceu 38,33%, com o preço médio ficando 13,36% superior ao de 2004. Esta alta nas cotações internacionais em dezembro deve refletir-se em maior preço para os produtores brasileiros de borracha natural, o que será reforçado pela desvalorização de 6,06% no Real, no mês.
            As cotações da borracha natural nos últimos 12 meses, no mercado da Malásia, podem ser observadas no gráfico seguinte:

            O mercado de futuros do boi gordo na BM&F apresentou forte queda em dezembro, reforçando a tendência observada desde novembro, com elevada volatilidade devido à ocorrência da febre aftosa em regiões do Mato Grosso do Sul e ao novo foco ocorrido no Paraná. Isto levou a um comportamento errático do mercado, associado ao aumento do fechamento das exportações dos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, onde se concentra o principal parque de abate brasileiro. 


            A redução de 10,29% na cotação do boi gordo, segunda posição, em dólar, em relação à média de novembro ocorreu devido às limitações sanitárias para o funcionamento do mercado interno e para as exportações. Com a valorização do dólar em dezembro, a queda em Real foi menor, de 7,38% na cotação média do mês. 


            No acumulado de 2005, as cotações caíram em Real 9,61% e em dólar 1,97%, mostrando o efeito da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo. O preço médio das cotações do boi gordo na BM&F em 2005, em dólar, subiu 18,84% em relação à média de 2004. Em Real, tal como opera a bolsa, o preço médio de 2005 foi 9,61% menor que a média de 2004. 


            O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:

            As cotações das principais commodities agrícolas transacionadas pelo Brasil no mercado internacional deverão permanecer firmes, ou mesmo apresentar alta ao longo de 2006. Para as commodities negociadas na Bolsa de Chicago (soja, milho e trigo), fatores como o clima nas Américas do Sul e do Norte e o nível de plantio nos Estados Unidos, ainda indefinidos, terão grande peso na formação dos preços. Para os produtos que são transacionados na Bolsa de Nova York (açúcar, café arábica, suco de laranja e algodão), o quadro de oferta e demanda indica valorização nas cotações. 2

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1 MAPA: www.agricultura.gov.br
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-004/2006

Data de Publicação: 11/01/2006

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor