Prognóstico Agrícola 2005/06: culturas perenes e semi-perenes

            Dentre as mudanças observadas na economia brasileira contemporânea, pode-se destacar o aumento da importância relativa da agricultura. O setor, que representava menos de 8% do PIB no início da década de 1990, passou a crescer a partir de 1994, atingindo 10% do PIB de 2003 e 2004. Nessa etapa, a indústria caminhou em sentido inverso: representava mais de 1/3 do PIB brasileiro no final da década de 1980 e decaiu para menos de ¼ na década seguinte1.
            O melhor desempenho da agricultura pode ser ressaltado observando-se que, entre 2000 e 2004, o PIB do setor cresceu à taxa média anual de 8,5% enquanto o do conjunto da economia registrou apenas 2,2% a.a. Essas transformações da economia afetaram a importância relativa de São Paulo, o estado mais industrializado da federação. De contribuição correspondente a 37% do PIB brasileiro em 1990, sua participação na economia passou por persistente declínio, atingindo 31,8% em 2003, ano do último levantamento das contas regionais do Brasil por parte do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ao se admitir para 2004 a estimativa da SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), de crescimento de 7,6% para a economia paulista, a participação do estado no PIB brasileiro se eleva para 32,5% e implica crescimento médio de 1,3% a.a. entre 2000 e 2004, bem inferior à média nacional (tabela 1).
            O fraco desempenho da economia paulista neste início de século não se deve à agricultura, cujo valor bruto da produção cresceu à taxa média anual de 4,9%. O valor da produção das principais culturas perenes e semi-perenes cultivadas em São Paulo2 teve crescimento ainda mais significativo neste período (6,3% a.a.), mas esse resultado se deve mais ao aumento da produção de laranja, cujo valor da produção para indústria e para mesa cresceu em média 22,6% a.a. e 18,1% a.a., respectivamente, de 2000 para 2005 (tabela 2).

TABELA 1 - Produto Interno Bruto, Brasil, 2000-20041

 .
Total
Agropecuária
São Paulo
 
R$ milhão
R$ milhão
%
R$ milhão
2000
1.620.307
115.143
33,7
546.043
2001
1.642.210
122.319
33,4
548.498
2002
1.673.315
130.416
32,6
545.501
2003
1.682.233
149.384
31,8
534.950
2004
1.769.202
159.749
32,5 1
575.606
Taxa3
2,2
8,5
 
1,3
1A preço de mercado de 2004.
2Estimativa de 7,6% de crescimento para o PIB paulista em 2004 do SEADE.
3Cálculo da taxa anual de crescimento entre 2000 e 2005.
Fontes: CONAB, IBGE e SEADE

TABELA 2 - Participação de culturas perenes selecionadas no Valor da Produção Agropecuária, São Paulo, 200-2005
(em porcentagem)

Produto
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Taxa1
Cana-de-açúcar
31,8
30,5
28,1
25,9
28,6
31,6
4,8
Laranja para indústria
3,1
7,9
10,0
8,9
7,2
6,7
22,6
Laranja para mesa
2,2
4,7
5,5
5,0
4,0
3,9
18,1
Café beneficiado
3,9
1,8
2,4
1,8
2,8
2,9
-1,1
Banana
1,8
1,7
1,2
1,7
1,8
1,9
5,8
Manga
1,6
1,3
1,1
0,9
1,4
1,3
-0,3
Limão
1,8
1,0
1,4
1,0
0,9
1,2
-2,3
Uva para mesa
0,7
0,8
0,8
0,6
0,6
1,0
10,9
Tangerina
1,1
1,2
1,2
1,0
0,9
0,7
-4,6
Soma2
47,9
50,9
51,8
47,0
48,3
51,2
6,3
Total3
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
4,9
1Cálculo da taxa anual de crescimento entre 2000 e 2005 - valor deflacionado pelo IPCA.
2Total das culturas perenes selecionadas.
3Total dos 48 principais produtos da agropecuária paulista.
Fonte: IEA

            Ressalte-se que a exportação tem sido a maior impulsionadora do crescimento da agricultura brasileira na atualidade e explica também boa parte do avanço da cultura da laranja no Estado de São Paulo, dado que seu suco está entre os primeiros produtos colocados na pauta de exportação.
            Atualmente, a cana-de-açúcar é a cultura mais importante da agricultura paulista e o grande destaque dentre as culturas perenes e semi-perenes consideradas nesse trabalho que, em conjunto, contribuíram com 47% a 52% do valor da produção agropecuária, sendo que mais da metade desse resultado se deve aos valores obtidos com esse cultivo. A análise do comércio exterior mostra que o açúcar vem ocupando o primeiro lugar nas exportações do agronegócio paulista e, entre janeiro e setembro de 2005, o valor das exportações ultrapassou US$ 2 bilhões. Há que se ressaltar também que São Paulo lidera as exportações de açúcar do país, com participação crescente no valor exportado: de 63% em 2000 alcançou 71,4% em 2005.
            Também o café tem seu desempenho associado ao setor externo. No passado, esse produto era líder absoluto na economia paulista, mas nos últimos anos sua participação não chega a 3% do valor da produção agropecuária do estado e entre 2000 e 2005 o valor da produção apresentou declínio de 1,1% a.a. em termos reais. Quanto à exportação o produto também representa relativamente pouco para São Paulo. Em 2004, exportou apenas US$329 milhões, correspondentes a 0,8% do valor exportado pelo agronegócio brasileiro e a 3,3% do paulista.
            A maior importância da agricultura para a economia paulista também pode ser constatada a partir das exportações: entre 2000 e 2004, o valor exportado pelo conjunto do agronegócio paulista cresceu 16,4% a.a., ou seja, 6,4 pontos percentuais acima do crescimento das exportações dos demais setores. Açúcar e álcool foram grandes impulsionadores desse desempenho, com crescimento médio anual de 23,4% e 91,8%, respectivamente.
            Destaque-se que o bom desempenho das exportações agrícolas se deu a despeito da política cambial desfavorável. Há um ano e meio o preço do dólar vem caindo em termos nominais e, ao deflacionar as médias mensais pelos índices de preço no atacado (IPA-OG) e ao consumidor (INPC), verifica-se que de maio de 2004 até outubro de 2005 acumulou apreciação real efetiva de 26% e 27%, respectivamente (figura 1).

            Considerando a importância do grupo composto por açúcar e álcool, frutas cítricas e café para as economias brasileira e paulista, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) analisou possíveis desempenhos, no curto e médio prazo, associados a esses produtos3. Além disso, o estudo incluiu na análise sobre o complexo sucro-alcooleiro o cenário esperado para a cachaça e, no segmento da fruticultura, os de banana, manga e uva.
            Entre os resultados destacam-se:
  • Segmento sucro-alcooleiro: a) o crescimento estimado de 5,1% na área total de cana-de-açúcar a ser colhida na safra brasileira 2005/06 e a expansão, nos próximos cinco anos, de 1,2 milhão de hectares da área plantada com cana na Região Noroeste do Estado de São Paulo, decorrente da implantação de 30 novas destilarias de álcool; b) para os próximos dez anos, o aumento na produção brasileira de açúcar a uma taxa média anual de 5%; c) a produção de álcool poderá elevar-se de 15,2 bilhões de litros produzidos atualmente para 36 bilhões de litros, se o cenário considerado no modelo de projeção for confirmado; e) as exportações de cachaça deverão atingir o patamar de 50 milhões de litros exportados em 2010.
  • Café: estima-se que em 2010 a demanda mundial de café será da ordem de 129 milhões de sacas, isto é, crescimento de 11 milhões comparativamente ao volume consumido hoje. Quanto à produção brasileira, nos próximos cinco anos, esta deverá estabilizar-se em 44 milhões de sacas, das quais 26 milhões destinados à exportação.
  • Bananicultura: é prevista continuidade na estabilidade da oferta. Além disso, a expansão das exportações brasileiras de banana para a União Européia continuará limitada se persistir a elevada tarifa extra-quota imposta ao produto nacional. Ainda sobre o desempenho exportador, deverá ser mantida a maior participação da Comunidade Européia em termos de valor e a do Mercosul em termos de volume.
  • Manga: no período recente, tem-se observado o crescimento das exportações brasileiras de manga, concomitantemente à expansão da área cultivada. No entanto, o mercado interno deverá ainda manter-se como a principal fonte de escoamento da produção.
  • Uva: nos próximos anos, estima-se crescimento na oferta nacional de uva de mesa, para atender tanto ao mercado internacional quanto ao interno que se mostra em expansão.
  • Frutas cítricas: a) crescimento das exportações brasileiras de suco de laranja pouco superior a 5% a.a. quando considerado o período 2000/01 a 2005/06. A conjuntura ascendente observada em novembro e dezembro de 2005 nas cotações internacionais deverá estender-se até início da próxima safra industrial 2006/07; b) queda no embarque de tangerinas acompanhada de elevação das cotações; c) para o limão tahity, constatada a manutenção no volume exportado e a elevação no preço médio; d) produção potencial de laranja no Estado de São Paulo estimada entre 357 e 367 milhões de caixas em 2007/08.
            De modo geral, constata-se que nos próximos cinco anos deverá persistir o dinamismo da agricultura na economia brasileira, com destaque para a performance esperada para o agronegócio sucro-alcooleiro.
            Contudo, destaque-se que o forte desempenho exportador da agricultura registrado no período recente poderá ser revertido, principalmente se permanecer a atual condição de sobrevalorização cambial sem a contrapartida de crescimento da economia mundial em nível que provoque crescimento nas cotações internacionais mais que proporcional à possível queda nos volumes exportados pelo país.
            Outra ameaça importante se refere à maior ênfase na segurança sanitária dos alimentos como componente da segurança alimentar nas economias desenvolvidas. Para que a preocupação sanitária não se constitua em barreira ao comércio, faz-se necessário definir políticas públicas que atendam às exigências impostas pelos importadores, como tem sido, por exemplo, o esforço brasileiro na criação do sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF).
            O acompanhamento, para frente e para trás, de todas as etapas de produção e seu registro (rastreabilidade) será determinante como diferencial de competitividade no comércio internacional de alimentos, notadamente na disputa pelo mercado dos países desenvolvidos, que são ao mesmo tempo os principais compradores e competidores dos produtos brasileiros no mercado internacional.4

________________________
1 O ponto de mínima participação da indústria (20% do PIB) aconteceu em 1998; daí em diante o setor voltou a crescer, alcançado 24% em 2003 e 2004
2 Cana-de-açúcar, laranja, café, banana, manga, limão, uva para mesa e tangerina.
3 Íntegra do documento Prognóstico Agrícola 2005/06: culturas perenes e semi-perenes

4 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-006/2006


Data de Publicação: 12/01/2006

Autor(es): Maria Auxiliadora de Carvalho (macarvalho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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